ISABEL BRAGA E
LETICIA FERNANDES
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-BRASÍLIA-
Aos gritos de “Fora, fora, fora!”, o presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), encerrou ontem a primeira sessão que comandou na Casa depois de assumir a vaga no lugar do presidente afastado, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Durante pouco mais de uma hora, Maranhão enfrentou um plenário hostil a ele, com deputados se revezando na tribuna e nos microfones para pedir que ele renuncie ao cargo de vice-presidente.
Logo na primeira intervenção, o deputado tucano Vanderlei Macris (SP) fez questão de questionar Maranhão sobre a decisão dele de anular, em ato, a votação do impeachment na Câmara, revogada por ele próprio no mesmo dia. O líder do DEM, Pauderney Avelino (AM), foi à tribuna para cobrar que Maranhão renunciasse.
Enquanto falava, deputados do PT e do PCdoB, aos gritos, chamavam Pauderney de golpista e diziam que Maranhão tinha sido eleito com a ajuda do DEM. O presidente interino pediu que permitissem que o orador terminasse sua fala.
— Vossa Excelência desonrou esta Casa. Waldir Maranhão, renuncie, levante-se dessa cadeira — disse o líder do DEM.
Maranhão ouviu todas as intervenções de maneira impassível, os óculos na ponta do nariz, sem responder a nenhuma.
SEM VOTAÇÃO DE PROJETOS
Embora com medidas provisórias e outros projetos pautados e com número bem acima do regimental para a abertura da ordem do dia, Maranhão sequer tentou votar os projetos. Limitou-se a conduzir a sessão, abrindo espaço para que os deputados falassem e, ao encerrar, convocando nova sessão para hoje. Ao deixar o plenário, ele voltou a dizer que não renunciará ao cargo de vice-presidente.
À noite, ao participar do lançamento do projeto de revitalização de uma das quadras residenciais de Brasília, ocupada majoritariamente por deputados federais, Maranhão rasgou elogios a Eduardo Cunha. O interino chamou seu antecessor de “homem tarimbado” e exaltou seu “espírito público”.
Cunha foi afastado do mandato e da presidência da Casa pelo STF, em 5 de maio.
— O presidente Eduardo Cunha deu sua contribuição à construção de um projeto de Câmara, dando sequência às pautas. Portanto, ele tem experiência, é um homem tarimbado. Com certeza, significa para a República um homem público que deu e dará um estímulo para que nós possamos compreender o papel do Parlamento — disse Maranhão, sem responder se continua mantendo contato com Cunha ou com a presidente afastada, Dilma Rousseff.
Embora tenha sido alvo de protestos na sessão da Câmara, Maranhão repetiu que não há possibilidade de renunciar, apesar das pressões que vem sofrendo.
— (A pressão) É da democracia, não haverá renúncia. É preciso compreender que o Brasil é maior do que crise e nós temos que dar a nossa contribuição.
Sobre o projeto lançado ontem, Maranhão disse ainda ter certeza que, se Cunha estivesse presente, “contemplaria o seu feito”.
— Essa é mais uma iniciativa que ele acolheu dentro de seu espírito público.
“Vossa Excelência desonrou esta Casa. Waldir Maranhão, renuncie”
Pauderney Avelino
Líder do DEM na Câmara