Título: Crédito encolhe 6,7%
Autor: Caprioli, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 20/10/2011, Economia, p. 15

As maiores companhias do Brasil começam a encontrar dificuldades para tomar empréstimos no exterior e passaram, com isso, a disputar o crédito doméstico com as micro e pequenas empresas. Mais recente e claro sinal de desaceleração da economia nacional, a procura das pessoas jurídicas por financiamento recuou 6,7% no país em setembro na comparação com o mês anterior. Segundo pesquisa divulgada ontem pela Serasa Experian, a queda foi puxada pelos negócios de pequeno porte, cuja demanda recuou 7,1%.

Os economistas da consultoria ressaltam que o resultado reflete a piora do quadro financeiro internacional e a desaceleração do crescimento econômico interno. Mas eles também ressaltam que os números sugerem uma volta ao cenário adverso da crise global de 2008 e 2009, que forçou o governo a aumentar os recursos disponíveis para o setor bancário.

Uma prova disso é que, no rumo inverso, as médias e grandes empresas recorreram, respectivamente, 1,1% e 2,2% mais ao sistema financeiro. O levantamento mensal da Serasa envolve mais de 1,2 milhão de firmas consultadas.

"Normalmente, o mês de setembro apresenta queda na procura por financiamento. Mas o comportamento inverso de grandes e pequenas empresas indica repetição do cenário de setembro de 2008, quando o crédito lá fora secou e até a Petrobras recorreu ao sistema financeiro nacional", disse o gerente de Indicadores de Mercado da Serasa Experian, Luiz Rabi.

Agravamento Naquela época, a maior empresa brasileira chegou a tomar empréstimo de R$ 2 bilhões da Caixa Econômica Federal, além de contratar novas linhas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para garantir fluxo. Rabi ressaltou que captações externas e até lançamentos de ações na Bolsa de São Paulo (Bovespa) estão recuando com o agravamento externo. "A crise europeia já provocou até a quebra de um banco, o franco-belga Dexia, no começo do mês", lembrou.

Apesar do esfriamento do crédito, a equipe da Serasa acredita que o balanço anual será de expansão sobre 2010. A razão é que o consumo foi o último setor a se retrair, bem diferente da situação da indústria. No acumulado do ano, empresas do setor de serviços foram as menos impactadas pela concorrência externa bem como pela alta dos juros. Elas ainda continuam se destacando em termos de crescimento da demanda por crédito (6,1%). A procura das indústrias avançou 3,5% e a do comércio, 0,7%. Houve

recuo em todos os setores na demandas por crédito em setembro ¿ o maior deles foi registrado pela área de serviços, com queda de 7,7% em relação a agosto, seguido pelas perdas de 6,9% e de 6% na área industrial e na comercial, respectivamente. Os maiores recuos na procura por crédito de empresas foram registrados na Região Norte (13,3%) e na Sul (10,1%). No Nordeste, a queda chegou a 6,8%; no Sudeste, a 5,2%; e no Centro-Oeste, a 3,1%.