Título: Proteção contra a inflação
Autor: Caprioli, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 20/10/2011, Economia, p. 15

Temerosos de que o BC não consiga manter a carestia na meta, os investidores correm em busca de títulos e fundos atrelados ao IPCA

A desconfiança em relação ao compromisso do Banco Central de levar a inflação para o centro da meta, de 4,5% ao ano, em 2012 está provocando uma corrida de investidores em busca de títulos e fundos de aplicações corrigidos pela variação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A demanda é tão forte que 59% dos papéis emitidos pelo governo e vendidos por meio do Tesouro Direto já são atrelados ao indicador.

O raciocínio é o seguinte: se o BC realmente não conseguir botar o IPCA na meta, por estar cortando a taxa básica de juros (Selic) além do possível ¿ o indicador caiu 0,5 ponto percentual ontem, de 12% para 11,50% ao ano ¿, o dinheiro estará protegido da inflação, além de garantir um ganho real, que anda variando entre 3% e 4% anuais.

"Infelizmente, essa não é um boa notícia. Mas não há como remar contra a maré, enquanto os investidores não tiverem a certeza de que o BC está agindo corretamente ao cortar juros, pois a inflação realmente cairá nos próximos meses. Muitos continuarão buscando refúgio em títulos e fundos de investimentos indexados ao custo de vida", disse um técnico do Ministério da Fazenda.

A procura por esse tipo de investimento é tanta que os gerentes de bancos já tomaram a liberdade de indicar títulos e fundos corrigidos pela inflação. Alegam que o melhor a ser feito neste momento de grandes incertezas tanto no país quanto no exterior é se apegar à variação dos índices de preços, sobretudo porque há a garantia de ganho real. Os gerentes avisam que as aplicações em papéis do governo ¿ o principal deles, a Nota do Tesouro Nacional série B (NTN-B) ¿ ficarão mais acessíveis no próximo ano, pois o valor mínimo cairá de R$ 100 para R$ 30, concorrendo diretamente com a caderneta de poupança.

Além dos ativos atrelados à inflação, o orçamento familiar pode ser turbinado por aplicações nas bolsas de valores. Os preços das ações andam bastante atrativos, mas é preciso ter em mente que se está falando de investimentos de riscos, com retorno a médio e longo prazos. Por causa da atual crise mundial, não há perspectiva de recuperação do mercado acionário tão cedo. "Mas, se os juros continuarem caindo ¿ a aposta é de que a Selic fique entre 8,75% e 9% ao ano em 2012 ¿, a bolsa se tornará mais atraente e, consequentemente, aqueles que aplicam nela terão maior rentabilidade", disse o educador financeiro Mauro Calil.

Para ele, os brasileiros se beneficiarão muito da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), pois juros menores estimulam a atividade econômica. Ou seja, a oferta de emprego aumenta, a renda cresce, o consumo se expande, a produção da indústria avança e as vendas do comércio disparam. "Tudo isso faz com que os investimentos de renda variável ¿ ações e imóveis, por exemplo ¿ se tornem boas opções de lucro. Já os fundos de renda fixa e a caderneta de poupança devem ficar como alternativas aos mais conservadores, que preferem ganhar menos, mas garantir os rendimentos", explicou Calil. Mas ele fez um alerta: "Investir sem conhecer o sistema é loucura. O recomendável é diversificar as aplicações".

No caso dos que não têm dinheiro de sobra para aplicar, a tão esperada redução da Selic pode ser uma luz no fim do túnel para os que estão endividados. O momento é de renegociar as contas atrasadas. "A nova taxa não vale para dívidas antigas. Então, o melhor é tentar trocar os débitos existentes por juros mais baixos e, se possível, não fazer mais dívidas", frisou Calil. Débitos em cartões de crédito, que são os mais caros, podem ser substituídos por outras linhas mais baratas, como o crédito direto ao consumidor (CDC) e o empréstimo pessoal. "Gastar nunca é a melhor opção. É um erro achar que, por conta da redução dos juros, é hora de contrair dívidas. Até porque a baixa da Selic é mínima e as taxas aos consumidores são elevadíssimas", disse o educador financeiro Reinaldo Domingos.

Forte expansão Apesar da crise global e dos nítidos sinais de desaquecimento no Brasil, a economia nacional vai continuar em franca expansão por pelo menos mais uma década, garante Luís Gustavo Cherman, economista do Itaú Unibanco. "O Brasil terá mais 10 anos de forte crescimento", disse, no Congresso Brasileiro de Agências de Viagens e Feira das Américas 2011. Segundo ele, o desempenho será movido pelo mercado interno, com a incorporação de 27 milhões de consumidores em três anos.