O Estado de São Paulo, n. 44758, 03/05/2016. Política, p. A6

Teori envia a Moro citação a propina na gestão FHC

Gustavo Aguiar

O ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki, relator da Operação Lava Jato na Corte, determinou o envio para o juiz federal Sérgio Moro de parte da delação premiada do senador Delcídio Amaral (sem partido-MS) na qual o congressista aponta pagamento de propina em um projeto da Petrobrás com a francesa Alstom, na gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Delcídio relatou um esquema de pagamento de propinas entre 1999 e 2001 na aquisição de uma máquina da Alstom pela estatal. Segundo o senador, que foi diretor da Petrobrás na gestão tucana, a operação teria como beneficiários parlamentares do PFL (atual DEM) da Bahia. “As declarações do colaborador não revelam envolvimento direto de pessoa com prerrogativa de foro nos fatos em apuração”, disse Teori. Caberá a Moro decidir se manterá ou não as investigações.

De acordo com Delcídio, a empreiteira OAS, também investigada na Lava Jato, tinha interesse na compra da máquina da Alstom para fornecimento de eletricidade a uma refinaria, durante o período de racionamento de energia após o apagão de 2001.

O executivo da OAS Carlos Laranjeira teria dito a Delcídio que a compra da máquina era de interesse da empresa e que a construtora havia separado valores entre US$ 9 milhões e US$ 10 milhões para pagamento de propina.

O projeto teria nascido no Ministério de Minas e Energia, comandado na época por Rodolpho Tourinho. Falecido em maio de 2015, Tourinho era dos principais nomes do PFL e aliado do senador Antônio Carlos Magalhães.

A operação teria contado com participação de Nestor Cerveró, na época gerente do setor internacional que se tornaria diretor da área. Em seu acordo de delação, Cerveró afirmou que Delcídio recebeu propina de contratos da Alstom e da GE quando ambos trabalhavam na Diretoria de Gás e Energia, em 2001. Em um dos acertos, disse o ex-diretor, a propina saiu de um contrato de US$ 500 milhões de turbinas de ar.

Delcídio foi preso preventivamente em 25 de novembro sob acusação de tentar impedir a delação de Cerveró.

 

 

Defesas. O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), disse que a legenda defende integralmente a apuração dos fatos. “O DEM é completamente favorável que as investigações da Lava Jato aconteçam e transcorram. O que tiver de ser investigado, que seja investigado”, afirmou o congressista. A OAS não quis se pronunciar sobre o caso. O Instituto FHC não respondeu até esta edição ser concluída. A Alstom, a defesa de Delcídio e os outros citados não foram localizados.