O globo, n. 30228, 11/05/2016. País, p. 5

Dilma desiste de descer a rampa, mas promete lutar

Durante evento com mulheres, presidente diz que participará de atos e continuará a denunciar ‘ golpe’
Por: Catarina Alencastro/ Eduardo Barretto
 
CATARINA ALENCASTRO
E EDUARDO BARRETTO
opais@oglobo.com.br
 

- BRASÍLIA- Na véspera da votação do impeachment no Senado, que deve afastá- la da Presidência, Dilma Rousseff deu ontem, pela primeira vez, uma pista de que nos próximos meses continuará participando de eventos para manter aceso o discurso de que é vítima de um golpe. Segundo ela, o processo de impeachment que avança é “perigoso” e será preciso lutar, daqui para frente, em defesa da “jovem e frágil democracia”. Apesar do discurso forte, Dilma desistiu do ato simbólico de descer hoje a rampa do Planalto, acompanhada por mulheres, o que cogitava fazer caso a admissibilidade do impeachment seja aprovada no Senado.

— Eu vou lutar com todas as minhas forças, usando todos os meios disponíveis, meios legais de luta. Vou participar de todos os atos e as ações que me chamarem. Para mim, o último dia previsto do meu mandato é o dia 31 de dezembro de 2018 — disse Dilma para uma plateia efusiva, que participava da 4 ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres.

 

CRÍTICAS A VICE, MAS SEM NOME

Numa fala bastante voltada para o público feminino, Dilma disse que vai honrar as mulheres, que têm força e capacidade de resistir, e se definiu como “uma guerreira sensível”. Mais uma vez, voltou a explicar os decretos suplementares que embasam o pedido de impeachment. Disse que não os fez em benefício próprio e sim para ações corriqueiras do governo. Ela citou o tucano Fernando Henrique que lançou mão do mesmo dispositivo. Em discursos anteriores, Dilma havia dito que, enquanto ela fez seis decretos, FH fez 101. Ontem, em Goiânia, pela manhã, mudou de número e disse que ele havia feito 40. Depois, mencionou 27 decretos editados pelo tucano.

A presidente voltou a atacar abertamente o eventual governo de Michel Temer, sem citar o nome do vice.

— Esse pessoal não consegue enxergar a Presidência da República por meio do voto popular. Porque não vamos votar no projeto deles, que é um projeto de desmonte do Brasil.

Ela negou mais uma vez que tenha pensado em renunciar, um desejo, segundo Dilma, dos “golpistas”:

— Jamais passou pela minha cabeça. A renúncia passa pela cabeça deles. Não pela minha.

Depois de falar por 40 minutos, caminhou no meio da plateia, sendo abraçada e beijada por participantes da conferência. A multidão gritava:

— Sou feminista, sou radical. Vou lutar no Senado Federal.

Ontem, Dilma tentou manter o clima de normalidade, recebendo ministros para discutir iniciativas do governo. Ela esteve, de manhã, com o ministro Miguel Rossetto ( Trabalho) e o presidente do Sebrae, Guilherme Afif Domingos, para tratar de uma linha de crédito de R$ 5 bilhões para micro e pequenas empresas.

— A gente trabalhou para caramba, agora vamos desovar tudo — disse um integrante do governo.

Interlocutores da presidente dizem que ela tem consciência de que será afastada hoje pelo Senado, mas que está serena.

— A presidenta Dilma segue firme naquilo que entende ser sua responsabilidade constitucional — disse Rossetto, após a audiência com Dilma.

 

“Para mim, o último dia previsto do meu mandato é o dia 31 de dezembro de 2018”

Dilma Rousseff

Presidente