O Estado de São Paulo, n. 44759, 04/05/2016. Política, p. A5

Denúncia ao STF tem base em delação

Gustavo Aguiar

A Procuradoria-Geral da República incluiu o ex- presidente Luiz Inácio Lula da Silva na acusação formal oferecida ao STF em dezembro contra o senador Delcídio Amaral (sem partido-MS), o assessor dele, Diogo Ferreira, o banqueiro André Esteves e o advogado Edson Ribeiro. Eles foram presos sob acusação de tentar convencer o ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró a não fazer acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal.

Caso o STF aceite a denúncia contra Lula, ele vai se tornar oficialmente réu na Lava Jato. O caso será avaliado pela 2.ª Turma do Supremo, formada pelos ministros Dias Toffoli, Celso de Mello, Gilmar Mendes, Cármen Lúcia e Teori Zavascki, que é o relator da Lava Jato na Corte. Antes da análise pelo colegiado, Lula terá prazo para se defender. Ainda não há previsão de quando isso vai acontecer.

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirma que a trama envolveu também o pecuarista José Carlos Bumlai e o filho, Maurício, também denunciados no processo. “Constatou- se que Luiz Inácio Lula da Silva, José Carlos Bumlai e Maurici o Bumlai atuaram na compra do silêncio de Nestor Cerveró para proteger outros interesses, além daqueles inerentes a Delcídio e André Esteves”, disse.

A denúncia contra o petista tem como base as delações do próprio Delcídio e de Cerveró, obtidas no contexto da Lava Jato.

Em seu acordo de colaboração, o senador disse que o ex-presidente pediu “expressamente” para que ajudasse Bumlai, a fim de evitar que o pecuarista não fosse implicado pelo ex-diretor da Petrobrás nas investigações.

Já Cerveró envolve diretamente Lula ao delatar detalhes de negociatas para indicação de cargos e garantias de repasse de propinas desviadas de contratos com a petroleira.“ Os depoimentos de Nestor Cerveró deixam evidente que a intenção dos articuladores do silêncio de Nestor era esconder fatos ilícitos envolvendo Luiz Inácio Lula da Silva, José Carlos Bumlai, André Esteves e Delcídio Amaral”, escreveu Janot.

O inquérito tramita em sigilo na Corte e, até ontem, não se sabia sobre a inclusão de Lula no procedimento. A informação sobre a denúncia contra o ex-presidente integra uma manifestação apresentada por Janot ao STF em que o procurador- geral da República pede que o petista seja formalmente investigado em um outro inquérito da Lava Jato, conhecido como “quadrilhão”.

Delcídio, Diogo, André Esteves e Edson Ferreira foram presos preventivamente em novembro por terem participado direta ou indiretamente de uma negociação baseada na promessa de pagamento de uma mesada de R$ 50 mil à família de Cerveró caso ele ficasse calado.

O senador ficou quase três meses detido por, além da recompensa, ter oferecido um plano de fuga do País ao ex-diretor.

A denúncia original foi oferecida em dezembro ao Supremo e apura a tentativa do grupo de embaraçar as investigações da Lava Jato.

 

Caso tríplex com Moro

 

A Justiça de SP remeteu ontem à 13ª Vara Federal de Curitiba, do juiz Sérgio Moro, os autos da denúncia e do pedido de prisão contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no caso tríplex.