O Estado de São Paulo, n. 44759, 04/05/2016. Política, p. A6

Presidente avalia que procurador politizou as investigações

Vera Rosa

Tânia Monteiro

A presidente Dilma Rousseff criticou ontem a ofensiva do procurador- geral da República, Rodrigo Janot, sobre o Palácio do Planalto e, nos bastidores, disse que ele decidiu “politizar”as investigações.

Em conversa por telefone com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está em Brasília, Dilma combinou com seu padrinho político a estratégia de reação e mostrou inconformismo com o comportamento de Janot.

“Nós precisamos reagir e mostrar as incoerências de tudo isso”, afirmou Lula, de acordo com relatos de ministros.

“Ninguém vai ficar apanhando calado”, acrescentou.

A atitude de Janot atingiu o “núcleo duro” do governo, às vésperas da votação do impeachment de Dilma no Senado, incluindo até mesmo o ministro- chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), José Eduardo Cardozo, um dos mais próximos da presidente.

Cardozo se reuniu à noite com Dilma e o governo decidiu divulgar uma nota, na qual afirma estranhar o vazamento de “inquérito sigiloso”. Janot quer que o Supremo Tribunal Federal também investigue a conduta de Cardozo por suposta obstrução da Justiça. “É uma oportunidade para esclarecermos os fatos”, afirmou o ministro, numa referência às acusações contra ele, feitas em delação premiada pelo senador Delcídio Amaral (ex-PT-MS).

 

Esquizofrenia. Em conversas reservadas, o advogado-geral da União afirmou que os argumentos usados para atingi-lo são “esquizofrênicos”, porque ora ele é tratado como ministro omisso e fraco, ora é visto como “todo poderoso” que agia para interferir na Operação Lava Jato. Na época dos fatos, ele era titular da Justiça.

No Planalto, auxiliares de Dilma diziam estar indignados com o fato de o vice Michel Temer não constar na lista dos pedidos de abertura de inquérito apresentada por Janot ao Supremo, pois também foi citado por Delcídio como responsável pela indicação de um dirigente da BR Distribuidora.

O então diretor da estatal João Augusto Henriques atuou para a compra ilegal de etanol no governo Fernando Henrique Cardoso, entre 1997 e 2001, e Temer nega que o conhecesse nessa época.

Convencida de que, na primeira votação, na próxima semana, o Senado aprovará o seu impeachment, Dilma reforçou ontem o discurso da resistência.

“Eu vou resistir até o fim”, repetiu ela, na conversa com Lula. Antes dessa ligação, o ministro do Gabinete Pessoal da  Presidência, Jaques Wagner esteve com Lula, no hotel Royal Tulip, em Brasília.

 

“Estou à disposição das autoridades e não acredito que, ao fim das investigações, meu nome seja incluído no processo”, afirmou Wagner. “Estou tranquilo e permaneço à disposição das autoridades.” O assessor especial Giles Azevedo disse, por sua vez, que não foi informado sobre o que estaria sendo apurado a seu respeito. “Posso adiantar que não temo nenhuma investigação porque nunca cometi qualquer ato que desabone minha conduta como cidadão e como servidor público”, comentou ele.