O globo, n. 30231, 14/05/2016. País, p. 6

Governo restringe participação feminina ao segundo escalão

Padilha diz que houve tentativa de incluir mulheres no ministério
Por: Catarina Alencastro/ Júnia Gama/ Danilo Fariello
 
CATARINA ALENCASTRO, JÚNIA
GAMA E DANILO FARIELLO
opais@oglobo.com.br
 
-BRASÍLIA- Após substituir a primeira mulher eleita presidente da República no Brasil, o presidente interino Michel Temer relegou a participação do sexo feminino em seu governo ao segundo escalão. Um dia após ter recebido críticas pela ausência de mulheres na Esplanada, ontem Temer nomeou para sua chefia de gabinete Nara de Deus, que exercia a mesma função quando ele era vice-presidente. A atual secretária-executiva do ministério dos Transportes, Natália Marcassa, vai permanecer alguns dias para a transição da pasta para o novo ministro, Maurício Quintella, e depois irá trabalhar na Casa Civil, convidada pelo ministro Eliseu Padilha, para ocupar a subchefia de Articulação e Monitoramento. Padilha também pretende chamar outras duas mulheres para ocuparem subchefias em sua pasta.

No Ministério da Educação, Mendonça Filho nomeou como secretária-executiva a socióloga e ex-secretária de Educação de São Paulo e do Distrito Federal, Maria Helena Guimarães de Castro.

Ontem, em entrevista coletiva, perguntado sobre a decisão de Michel Temer de não nomear nenhuma mulher para seu Ministério, o ministro Eliseu Padilha disse que as escolhas foram feitas por sugestões dos partidos, que o tempo foi exíguo e que houve uma tentativa de incluir mulheres no primeiro escalão do novo governo. Mas, que não foi possível. Padilha destacou que a chefe de gabinete de Temer será Nara de Deus.

— Nós tivemos essa composição, foi feita a partir das sugestões que os partidos fizeram. Tivemos pouco tempo para fazer essa composição. Tentamos de várias formas buscar mulheres, mas não conseguimos, por razões que não convém discutir aqui. A chefe de gabinete do presidente, uma função de muita importância, é uma mulher. Nessas secretarias que perderam status de ministério, vamos trazer mulheres a participar — disse Padilha.

Com a repercussão negativa sobre a ausência de mulheres, a tendência é que haja uma maior atenção para a participação feminina na formação dos cargos mais relevantes nos segundos e terceiros escalões dos ministérios. A Esplanada totalmente composta por homens não foi bem recebida por ativistas de causas sociais e em defesa das minorias. Políticos aliados do governo, como o senador Aécio Neves (PSDB-MG), justificaram que o ministério formado não foi o ideal, mas o “possível” de ser feito.

O governo Temer será o primeiro, desde João Figueiredo (1979-1985), que nomeou a ministra da Educação Esther de Figueiredo Ferraz, a não ter colaboração feminina no primeiro escalão.