Valor econômico, v. 17, n. 4002, 11/05/2016. Política, p. A6

Renan recebe vice e garante apoio do Senado ao corte de ministérios

Por: Bruno Peres, Andrea Jubé, Fábio Pupo e Vandson Lima

 

O vice-presidente Michel Temer recebeu o apoio do Senado à sua proposta de realizar um corte de dez ministérios no primeiro escalão de um eventual governo a partir do afastamento da presidente Dilma Rousseff. O Presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) considerou "oportuna" a medida. "Nós defendemos sempre a reforma do Estado. Ele, na hipótese de assumir, está muito entusiasmado com essa reforma do Estado", disse Renan.

O senador negou ter tratado ontem da composição ministerial com Temer. "Quero ter com ele a mesma relação que tive com Dilma [Rousseff], de absoluta independência e especialmente de harmonia", disse Renan, dando como certa a substituição temporária no comando do Planalto.

Temer deixou ontem o Palácio do Jaburu em direção à residência oficial da Presidência do Senado no começo da tarde, um gesto que é considerado uma deferência no meio político. O vice ligou para Renan na segunda-feira à noite depois do anúncio do prosseguimento do pedido de impeachment no Congresso, solicitando o encontro.

Renan, por sua vez, fora alertado por senadores pemedebistas para o risco de um isolamento na bancada, da qual pretende ser líder a partir do próximo ano, caso concordasse com a decisão de Waldir Maranhão (PP-MA) pela nulidade da sessão do impeachment na Câmara. No contato prévio com o vice, Renan já tinha dito que ajudará um governo Temer "programaticamente", para tirar o Brasil da crise.

Segundo relato do senador Romero Jucá (PMDB-RR), também presente à reunião, a nova configuração proposta para o ministério tem o apoio integral do Senado e "de todos nós que sempre lutamos para que a máquina pública pudesse ser diminuída", disse. O senador, nome certo em uma futura equipe a ser formada por Temer, classificou o encontro como "conversa amistosa, de integração e perspectiva de trabalho conjunto".

Jucá evitou detalhar as propostas voltadas para a área econômica, que, segundo disse, estão sob estudo e serão anunciadas oportunamente. A proposta de redução da meta fiscal para este ano precisará de um esforço do Congresso para a análise pelos parlamentares, mas essa perspectiva também foi avaliada positivamente, segundo Jucá.

O senador citou em entrevista ao término da reunião alguns casos envolvendo o enxugamento da máquina proposto por Temer: Portos e Aviação Civil serão agrupados em Transportes; Desenvolvimento Agrário será incorporado a uma pasta denominada Desenvolvimento Social; e Comunicações será somado a Ciência e Tecnologia. "A ideia é reduzir dez ministérios exatamente para dar um formato menor e sobrar mais recursos", disse Jucá.

Questionado sobre a base de apoio com que Temer poderá contar em uma eventual gestão a partir do afastamento da presidente Dilma Rousseff, Jucá procurou dissociar o corte de ministérios com o arranjo político que Temer conduz atualmente e terá que administrar em uma eventual gestão, exaltando a experiência política do pemedebista. De acordo com o senador, o corte de ministérios se refere a "um ajuste e posicionamento do governo".

"Isso não tem a ver com base política, que será construída e é fundamental para que todas as medidas, inclusive, as econômicas tenham sustentabilidade", disse. "Mais do que ninguém, Temer tem experiência e conhecimento, está completamente habilitado para construir essa base com solidez, responsabilidade e com uma nova ótica, que é a valorização da política e o respeito à sociedade", completou.

Temer não pretende fazer nenhum ato de maior impacto no dia seguinte à aprovação do impeachment. A ideia do vice é organizar uma reunião de trabalho aberta, com transmissão pela TV, com os ministros já escolhidos e dar seu recado sobre o que planeja para o país. As linhas gerais do discurso, segundo parlamentares, é a retomada do crescimento econômico e fazer um governo de transição para recolocar o país nos eixos e devolver a estabilidade à nação. (Colaborou Raphael Di Cunto)

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