Título: Viracopos, um ponto bem fora da curva
Autor: Augusto, Leonardo
Fonte: Correio Braziliense, 19/10/2011, Suplemento, p. 4

O aeroporto de Viracopos, na região metropolitana de Campinas, serve, em parte, aos passageiros paulistanos. A grande questão é que está localizado a 100km da capital. É o único no mundo nessa distância do principal polo urbano a que serve. Boa parte dos grandes terminais está localizada a menos de vinte quilômetros do centro de suas cidades, como os de Berlim (8), Amsterdã (9), Sidney (9) e Xangai (13) e Madri (13), entre outros de 40 metrópoles de todos os continentes.

A mesma situação se repete no Brasil. Dos 32 mais importantes aeroportos, 27 também estão a média de vinte quilômetros das cidades e, no caso dos doze maiores — responsáveis por 47% do movimento aéreo do país, com 121 milhões de passageiros/ano —, 50% estão a uma distância ainda menor: onze quilômetros. Há uma companhia que oferece ônibus gratuito para seus clientes (a Azul Linhas Aéreas), mas a distância e, por consequência, o tempo de viagem, continua como um problema insolúvel.

Enquanto isso, a demanda por Viracopos — em parte devido ao esgotamento da capacidade de Congonhas, o mais próximo do centro da cidade de São Paulo, e a superlotação do aeroporto de Guarulhos , foi a que mais cresceu no país :61% no período 2009-2010, segundo aponta o professor Elton Fernandes, diretor do Núcleo de Economia dos Transportes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

O tempo de viagem poderia ser reduzido com sistemas de transportes mais rápidos e eficientes, como os que existem na Europa e nos Estados Unidos, por meio de trens ou metrô. Ocorre que, em relação a Viracopos, a situação é mais complicada. Com um grande número de usuários da capital paulista, fica em outra área metropolitana, a de Campinas, e de lá ainda restam 14 quilômetros até o terminal, resultando em mais gastos com transporte.

Dessa forma, a viagem terrestre, em casos de voos regionais, pode ser maior do que a viagem por via aérea. Neste aspecto, a solução anunciada tem sido o trem-bala, que faria a ligação Viracopos-São Paulo – Rio, mas o megaprojeto, propagado desde os anos de 1980, está em seu terceiro leilão e sem interessantes em sua exploração.

Os grandes congestionamentos de trânsito nas grandes capitais brasileiras, especialmente São Paulo, também contribuem para a demora da chegada ao aeroporto local e incidem sobre custo de táxis, por exemplo. De acordo com um levantamento feito com empresas de radiotaxi, o preço de uma corrida São Paulo-Viracopos (R$ 270) é três vezes mais elevado que a corrida mais cara do Brasil (Rio de Janeiro-Galeão, R$ 90).

Mas as rodovias que dão acesso a Viracopos ( Anhanguera e Bandeirantes) têm apresentado aumento significativo no chamado Volume Diário Médio (VDM) do tráfego e, por isso, o terminal de Campinas, para os passageiros paulistanos, termina reunindo os dois problemas — distância acima da média mundial dos aeroportos e a possibilidade sempre presente de engarrafamentos na saída de São Paulo.

A distância pesa na decisão do passageiro. Pesquisa realizada em 2010 pela Infraero mostrou que em cidades onde há aeroportos alternativos relevantes, como em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, 57% dos passageiros preferem embarcar em terminais mais próximos de onde moram, por economia e comodidade.