Valor econômico, v. 17, n. 4001, 10/05/2016. Políticas, p. A5

Ao defender-se, ex-líder do governo diz que agiu a mando de Lula e Dilma

Por: Cristiane Agostine / Fábio Pupo

 

Alvo de investigação da Operação Lava-Jato, o senador Delcídio do Amaral (sem partido-MS) afirmou ontem que não roubou nem desviou dinheiro para fins pessoais e afirmou que agiu a pedido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente Dilma Rousseff. Ao defender-se na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, no processo de cassação de seu mandato por quebra de decoro parlamentar, Delcídio pediu desculpas "ao povo" por seus erros, chorou, mas disse que suas denúncias estão sendo comprovadas por outras delações, feitas no âmbito da Lava-Jato.

Ex-líder do governo no Senado, o parlamentar voltou à Casa cinco meses depois de ter sido preso sob acusação de obstruir as investigações da operação. Durante a sessão da CCJ, emocionou-se no começo de seu depoimento de cerca de 15 minutos e evitou fazer ataques diretos. "Peço desculpas, errei. Mas agi a mando", disse. Depois de sair da comissão, o parlamentar foi mais direto ao falar com jornalistas e citou nominalmente Lula e Dilma ao ser questionado sobre "a mando de quem" ele agia.

"Vou ter oportunidade de falar com mais [detalhes]. Mas o fato que ocorreu, e vocês noticiaram amplamente, eu como líder do governo agi [porque] o presidente Lula me pediu isso. E em outras situações, a própria presidente Dilma", afirmou o ex-líder do governo, que também mencionou o ex-presidente e a presidente em sua delação premiada na Lava-Jato. "E curioso: fui chamado de mentiroso. Pô, um líder de governo chamar de mentiroso? Eu fui líder dela no Senado. E mentiroso? Pergunta para qualquer senador se ao longo da minha liderança, alguma coisa que eu falei eu não cumpri. Por isso aprovamos todas as matérias, porque eu tenho palavra".

O senador afirmou que sua colaboração nas investigações tem sido confirmada. "E vocês estão acompanhando as colaborações que surgiram depois da minha, né? Tem algum erro no que eu falei? Tudo está sendo confirmado. E agora no fim de semana [veio] uma notícia de Curitiba, o próprio Marcelo Odebrecht confirmando [em pré-delação] aquilo que eu falei com relação ao ministro do STJ Marcelo Navarro [que teria sido indicado por Dilma para beneficiar réus da Lava-Jato]. Então, os fatos vão se comprovando, não tenho dúvida. Tenho muita convicção".

Na reunião da CCJ na tarde de ontem, marcada para a admissibilidade do relatório do senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES) em defesa da cassação de seu mandato, Delcídio viu uma brecha para participar da votação do impeachment da presidente Dilma prevista para quarta-feira, já que a comissão havia adiado a análise de seu caso para quinta-feira. O senador aproveitou para atacar a presidente e disse que, se pudesse, votaria com gosto no impeachment. Ex-petista, Delcídio afirmou que não tem condições de ter uma posição diferente dessa. "Depois de tudo aquilo que aconteceu, tenho uma posição muito clara".

A CCJ, no entanto, voltou a se reunir na noite de ontem e reverteu a decisão, ao marcar para hoje o processo de cassação.

Acusado de quebra de decoro parlamentar depois de ter sido gravado por Bernardo Cerveró, filho o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, Delcídio disse ser "fantasiosa" a proposta de um plano de fuga para o ex-dirigente da estatal, que foi registrada na conversa entre ele e Bernardo.

O senador reclamou, por diversos momentos, da "celeridade" da Comissão de Ética e da CCJ para analisar seu processo de cassação e disse que a perda de seu mandato é uma pena excessiva. Delcídio afirmou que, como "não roubou", poderia sofrer outras sanções e disse, a jornalistas, ter a intenção de continuar influente.

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