O Estado de São Paulo, n. 44762, 07/05/2016. Política, p. A5

Relator se defende e petistas falam em 'golpe'

Isabela Bonfim

Luísa Martins

Eduardo Rodrigues

A sessão ontem da votação do impeachment na Comissão Especial do Senado foi corrida e, diferentemente de outras reuniões, teve poucos embates diretos. Desta vez, o relator do processo, Antonio Anastasia (PSDB-MG), que evitou se envolver em discussões ao longo das duas últimas semanas, reclamou do que chamou de “mau-caratismo” daqueles que criticaram o seu trabalho. Do outro lado, governistas fecharam a sessão com discursos veementes contra o “golpe”.

Em sua fala, Anastasia elogiou a condução dos trabalhos da comissão na Casa, feita pelo presidente do colegiado, senador Raimundo Lira (PMDB-PB), e também cumprimentou os colegas pelos debates que, segundo ele, foram proporcionados ao longo do processo.

O senador tucano também aproveitou para responder às críticas que recebeu por sua atuação como relator da comissão. “Sabia que teríamos muitos ataques. Aqueles que são fruto do debate político, das ideias, dos argumentos, nós os recebemos muito bem. Eles fazem parte do nosso trabalho. Eles fazem parte do Parlamento na discussão das ideias. Mas aqueles ataques de ordem pessoal, esses, eu os repilo, de modo veemente, por serem insignificantes, desprezíveis e resultado de notório mau-caratismo”, afirmou o senador.

Desde o início dos trabalhos da comissão que analisou o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff na Casa, senadores da base do governo questionaram a isenção de Anastasia para assumir a relatoria do processo.

Inicialmente, o tucano foi alvo de contestação pelo fato de ser filiado ao PSDB, principal partido de oposição ao governo, mas também por já ter declarado, anteriormente, voto favorável ao impeachment.

Ainda na primeira semana de comissão, um grupo de deputados estaduais de Minas Gerais esteve no Congresso Nacional acusando Anastasia de também ter editado créditos suplementares sem autorização do Poder Legislativo quando era governador do Estado. Segundo esses parlamentares, Anastasia adotou a mesma prática que fundamenta o pedido de afastamento da presidente Dilma Rousseff.

 

Discursos. Os cinco dos 21 senadores da comissão que votaram contra a admissão do impeachment defenderam a conduta da presidente. Os petistas Lindbergh Farias (RJ), Gleisi Hoffmann (PR) e Humberto Costa (PE), além dos colegas da base Telmário Mota (PDT-RR) e Vanessa Grazziotin (PC do B-AM), criticaram os colegas que haviam se posicionado a favor do afastamento de Dilma e voltaram a questionar a legalidade do processo de impeachment.

Gleisi disse que Dilma foi vítima de ataques principalmente pelo fato de ser mulher, uma vez que, segundo ela, “a política é um ambiente majoritariamente masculino”. “Ao votar hoje (ontem) essa admissibilidade deixarão suas digitais na história, serão sempre golpistas da Constituição”, afirmou Gleisi.

Líder do governo, Humberto Costa fez um discurso exaltado. O senador comparou o parecer do relator aos discursos da antiga UDN, partido representante do regime militar no Congresso, e convidou governistas a responderem se, em algum momento, a presidente pediu-lhes que cometessem qualquer crime. “Eles querem um pretexto. Escolheram a criminosa e precisam encontrar o crime. Por isso, encaminho que votemos ‘não’ ao golpe”, disse, gritando, em seguida: “Golpe, golpe, golpe!”.

 

Embate

“Ataques de ordem pessoal, esses, eu os repilo”

Antonio Anastasia (PSDB-MG)

RELATOR DA COMISSÃO DO SENADO

 

“Escolheram a criminosa e precisam encontrar o crime”

Humberto Costa (PT-PE)

LÍDER DO GOVERNO NO SENADO

 

VOTAÇÃO

● Comissão Especial do Senado aprovou ontem o parecer do senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) pela admissibilidade do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff

 

Aloysio Nunes Ferreira

PSDB - SP

Antonio Anastasia

PSDB - MG

Cássio Cunha Lima

PSDB - PB

Dário Berger

PMDB - SC

Helio José*

PMDB - DF

Simone Tebet

PMDB - MS

Waldemir Moka

PMDB - MS

Fernando Bezerra

PSB

Romário

PSB - RJ

Ana Amélia

PP - RS

Gladson Cameli

PP - AC

Ronaldo Caiado

DEM – GO

José Medeiros

PSD - MT

Wellington Fagundes

PR - MT

Zeze Perrella

PTB - MG

Raimundo Lira**

PMDB – PB

 

Gleisi Hoffmann

PT - PR

José Pimentel

PT - CE

Lindbergh Farias

PT - RJ

Telmário Mota

PDT - RR

Vanessa Grazziotin

PC do B – AM

 

*Votou no lugar da senadora Rose de Freitas (PMDB-ES); **Não votou. Presidente da comissão, só votaria em caso de empate

 

15 A FAVOR

 

5 CONTRA

 

A ADMISSÃO DO IMPEACHMENT VAI AGORA AO PLENÁRIO DO SENADO - A VOTAÇÃO DEVE OCORRER NA QUARTA-FEIRA.

 

SÃO NECESSÁRIOS 41 VOTOS PARA ABERTURA DO PROCESSO NA CASA E O AFASTAMENTO DE DILMA POR ATÉ 180 DIAS