Título: Vem aí a Universidade do Ar
Autor: Bittencourt, Wagner
Fonte: Correio Braziliense, 19/10/2011, Suplemento, p. 12

Ministro da Secretaria de Aviação Civil promete dar atenção à aviação regional, além de focar na gestão dos aeroportos. Paralelamente, em parcerias com empresários do setor, irá trabalhar no treinamento e na formação de mão de obra, inclusive de pilotos de aeronaves

Carlo Iberê Freitas Especial para o Correio

Os gargalos e os desafios aeroportuários são vistos como um bom problema pelo ministro Wagner Bittencourt, da Secretaria de Aviação Civil — titular da 39º pasta e que nem mais conseguiu alojar-se na Esplanada dos Ministérios, indo instalar-se no Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB), onde ficou a Presidência da República durante a reforma do Palácio do Planalto. "O Brasil está crescendo muito e a aviação ainda mais, algo como 20% nos últimos dois anos", conta ele, para justificar a corrida contra o tempo que a SAC enfrentará nos próximos anos para colocar tudo voando em céu de brigadeiro. São turbulências nada desprezíveis. Sem falar em aeroportos lotados e com serviços saturados, tem que pensar em como administrar 700 aeródromos, integrar a aviação regional, escolher quais as novas concessões e ainda treinar mão de obra especializada. Para esse último desafio, Bittencourt, em parceria com outras áreas do governo e da iniciativa privada, já está formatando a Universidade do Ar, como adiantou ao Correio Braziliense.

Qual é o plano de voo da SAC? O setor aéreo é um vetor de crescimento do Brasil. Não podemos ter uma visão apenas dos maiores aeroportos, temos que aperfeiçoar a infraestrutura como um todo. Estamos investindo nos grandes, com a Infraero e com as concessões, e estamos olhando também para a os aeroportos regionais. Não haverá desenvolvimento sem a integração de outras fronteiras. Outra coisa que precisamos trabalhar muito é a gestão, a governança dos aeroportos. Isso faremos por intermédio da Comissão Nacional de Autoridades Aeroportuárias (Conaero), em que definiremos metas, políticas públicas, atribuições e, claro, acompanharemos o que ficar estabelecido. Um exemplo é o que já iniciamos o procedimento em Guarulhos, onde todos os procedimentos foram revistos. Acredito que esse trabalho conseguirá aumentar em até 30% a capacidade dos aeroportos.

Ao contrário da capacidade do governo, a demanda por investimentos é ilimitada. Com que números o senhor trabalha? Até 2014, a Infraero vai investir mais de R$ 7,5 bilhões em vários aeroportos — R$ 6,5 bilhões em cidades sedes da Copa do Mundo. Para longo prazo, as concessões que faremos agora vão reverter em investimentos. Estamos falando também com o setor privado. Recebemos um estudo da Associação Brasileira de Transporte Aéreo Regional (Abetar) sobre aeroportos que eles pretendem voar. Até 2014, podem passar dos atuais 130 para 174. São investimentos em pistas, seguranças, terminais, acessos. Eles identificam investimentos de R$ 2,4 bilhões nesses 174. Cabe ao governo ajudar a suprir essas necessidades. Por isso, nas concessões dos três mais rentáveis do país (Garulhos, Viracopos e Brasília), um dos fatores é a contribuição ao sistema. Essa também é a necessidade da Infraero continuar na estrutura do negócio e contribuir para todo o conjunto de 700 aeroportos que temos que tomar conta. A integração de novos aeroportos irriga toda a rede.

Qual é o papel que o governo pensa para iniciativa privada? O Brasil está crescendo muito e a aviação mais ainda. Nos últimos anos foram em média 17%; nos últimos dois, cerca de 20%. Isso é mais do que a China, que está em torno de 7%. O papel do setor privado é agregar valor, recursos, inovações tecnológicas, métodos de gestão e de capacidade de investir que o governo não tem. Para a Infraero, será muito boa essa competição — e ela vai poder carregar isso para os seus outros aeroportos. É também um fator de desoneração do Estado de investir. Nas concessões, em que as empresas não podem ficar com mais de um, estabeleceremos a competição, com resultado final em benefício dos usuários.

Falando em competição, o senhor não acha que mais companhias poderiam voar no Brasil? As companhias aéreas, em função da demanda crescente, estão voando com maior ocupação — e isso reflete em tarifas menores, em aumento e renovação de frotas. Do ponto de vista geral, é importante que aumentemos a competição, mas para a entrada de novos competidores temos que abrir espaços nos aeroportos... Isso também acontecerá com as concessões e novos investimentos. O governo já pensa em novas concessões além das três anunciadas? Em nosso planejamento de longo prazo, 30 anos, identificamos tendências, mercados, necessidades de infraestutura. Dentro disso, temos o Plano de Outorgas, em que vamos dizer o que ficará com o poder público e o que pode ir para a iniciativa privada e até para estados e municípios — que hoje a lei permite. Esse plano fica pronto até o fim de 2012.

Quais seriam os futuros modelos de concessões? Hoje, temos o modelo de São Gonçalo do Amarante, um aeroporto novo e totalmente privado, e o com a participação da Infraero. Estaremos sempre observando e fazendo aperfeiçoamentos com regras que obriguem aeroportos manterem padrões classificados como bom pela Iata para cada uma das suas categorias. Estamos falando de tempo de check-in, embarque, desembarque, espera de bagagens e até metro quadrado por passageiro. Sempre que essas capacidades chegarem a 80% de utilização, dispara-se o gatilho que exige novos investimentos. O modelo tem que atender o interesse privado, de ganhar dinheiro, porque não é feio; atender o interesse maior, que é o do usuário; e o público, do governo, que é o de desenvolver as outras regiões do país.

O setor privado reclama também da falta de formação e treinamento de mão de obra... Nós temos que utilizar melhores práticas e novas tecnologias. Isso não se faz sem as pessoas — as máquinas precisam de gente para apertar o botão. Estamos conversando com diversos setores do governo e da iniciativa privada e vamos investir na criação da Universidade do Ar, em que iremos formar pessoal para aeroportos e também para as companhias aéreas em todos os níveis, inclusive pilotos. Achamos que é possível criar alguma coisa com padrão inclusive melhor do que temos hoje. Essa agenda fecha o que pensamos para a SAC: infraestrutura, gestão e coordenação, desenvolvimento regional e, finalmente, capacitação.