Título: Cartão vermelho para Orlando
Autor: Lyra, Paulo de Tarso ; Gama, Júnia
Fonte: Correio Braziliense, 27/10/2011, Política, p. 2/3

Ministro pede demissão após intenso bombardeio político, iniciado com as denúncias de desvio de verbas do Segundo Tempo. PCdoB e Dilma discutem o substituto

Apesar de dizer que se tornara vítima de uma injustiça e de um "linchamento provocado por bandidos" e assegurar que "não há, não houve nem haverá provas" contra ele, Orlando Silva perdeu as condições políticas para permanecer no cargo e deixou o Ministério do Esporte no início da noite de ontem. O ex-ministro justificou que nem ele nem o PCdoB iriam contribuir para alimentar uma crise política para o governo de Dilma Rousseff. Orlando reuniu-se com a presidente no fim do dia, acompanhado do presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, e entregou o cargo. A exoneração a pedido será publicada no Diário Oficial de hoje, que trará o secretário executivo Waldemar Souza como interino até que Dilma e o partido decidam, possivelmente ainda hoje, o nome do substituto (leia matéria na página 3).

A crônica da queda de Orlando, motivada pela abertura do inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF), começou a ser escrita na noite de terça, após a participação de Orlando Silva, considerada pelo próprio partido como um equívoco, na audiência realizada na Câmara para discutir a Lei Geral da Copa. O secretário-geral da Presidência, ministro Gilberto Carvalho, chamou o presidente do PCdoB, Renato Rabelo, para uma conversa no Palácio do Planalto. Avisou que a situação tinha se tornado insustentável após a decisão do Supremo. Ainda em seu gabinete, ligou para o ministro Orlando Silva, repetiu o diagnóstico e marcou uma reunião para a manhã de ontem. Orlando, Renato e os líderes no Congresso, senador Inácio Arruda (CE) e deputado Osmar Júnior (PI), ouviram do ministro que "a decisão do STF, ainda mais da forma em que se deu (três dias depois da presidente ter confirmado a manutenção do ministro na pasta) levava à necessidade de se dar um "passo além", nas palavras de Gilberto.

Waldemar Souza será o ministro interino

O PCdoB cumpriu à risca o roteiro de um partido com 90 anos e que, em boa parte de sua história, manteve-se na clandestinidade. Defendeu Orlando Silva até o último momento, embora soubesse que tudo estava perdido. "Sou militante do PCdoB e a minha história e a história do meu partido estão sendo atacadas", declarou o ex-ministro, em entrevista logo após a reunião com a presidente Dilma Rousseff. "É da tradição do PCdoB defender seus quadros. E o ministro Orlando Silva entendeu a situação, demonstrando uma impressionante maturidade", enalteceu Gilberto Carvalho.

Apesar da exoneração, o ex-ministro do Esporte tentou demonstrar alguma tranquilidade durante a entrevista no Salão Nobre do Palácio do Planalto — ele foi o único, de todos os seis ministros que caíram nesses primeiros 10 meses de governo Dilma, que anunciou pessoalmente que estava deixando o cargo. "Eu combinei que falaria com vocês, mas preciso ser breve, tenho que ir para casa para cantar o parabéns para minha mãe, Maria Vanda."

Balanço Na primeira parte da conversa com a presidente, Orlando e Dilma teriam, de acordo com o ministro, feito um balanço da gestão no Ministério, culminando com o fato de 40% dos atletas que disputam o Pan de Guadalajara serem bolsistas da pasta. "Não é possível que joguem no lixo cinco anos de história da pasta do Esporte", afirmou.

O presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, defendeu a história do partido e disse que não existem "ONGs ligadas ao PCdoB". Segundo ele, existem filiados ao partido que criaram ONGs, "algo que pode acontecer em qualquer partido político". Rabelo afirmou que a postura coesa do partido em defesa de seu agora ex-ministro decorre da certeza de que ele é "honesto, competente e sincero, um jovem quadro com muita capacidade política".

O presidente comunista não soube explicar porque, apesar de todos esses atributos, o STF resolveu abrir inquérito para investigar o ex-gerente da Copa do Mundo de 2014, atendendo a uma denúncia feita pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel.

Ontem, Orlando Silva chegou à casa em que vive no Lago Sul na hora do almoço para comemorar o aniversário da mãe, Maria Vanda. Àquela hora, o ainda ministro encomendou um buquê de rosas para presenteá-la e permaneceu no local até as 16h, mais de uma hora depois da chegada de seu motorista. A ida ao Palácio do Planalto, marcada inicialmente para as 15h, acabou adiada devido a compromissos da presidente Dilma Rousseff na tarde de ontem.

Dilma esteve no Tribunal de Contas da União (TCU) para prestigiar a posse da nova ministra Ana Arraes — mãe do governador de Pernambuco, Eduardo Campos. E ao chegar no Palácio do Planalto, reuniu-se com diretores da Peugeot, que anunciaram investimentos de R$ 3,7 bilhões no país. Orlando Silva saiu de casa aparentando tranquilidade. Disse apenas que teria compromissos no ministério, onde permaneceu até as 18h, quando dirigiu-se pela última vez como ministro, para uma reunião com a presidente Dilma Rousseff.

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 27/10/2011 02:13