O Estado de São Paulo, n. 44765, 10/05/2016. Política, p. A5

Cardozo e Flávio Dino influenciaram decisão de interino

Ricardo Galhardo 

A decisão do presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), de suspender as sessões que aprovaram o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff foi amadurecida desde a quinta-feira, quando Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi afastado do cargo pelo Supremo Tribunal Federal (STF), e consolidada no sábado, um dia antes de o deputado voltar a Brasília.

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PC do B), e o ministro-chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), José Eduardo Cardozo, tiveram papel decisivo no processo de convencimento do deputado.

Dino, de quem Maranhão é aliado, intermediou uma conversa entre Cardozo e o deputado na sexta-feira, em Brasília. O governador e o ministro têm relação próxima desde que legislaram juntos na Câmara.

Juiz federal, Dino também ajudou a convencer Maranhão de que a argumentação jurídica do pedido feito pela AGU era sólida. No sábado, um dia antes de viajarem juntos para Brasília em um avião da Força Aérea Brasileira, o deputado e o governador tiveram um encontro em São Luís.

Ali, Maranhão deu sinais de que acataria o pedido de suspensão das sessões e ofereceu uma carona a Dino, que tinha uma reunião marcada para a manhã de ontem, 09, com integrantes da representação do governo maranhense na capital federal.

Ao chegarem a Brasília no domingo à noite, Maranhão e o governador foram para um jantar na casa do deputado Silvio Costa (PT do B-PE), vice-líder do governo, onde o assunto foi tratado.

Dino admitiu nas redes sociais que ajudou o presidente interino da Câmara a tomar a decisão. “Natural que o deputado Waldir Maranhão, sendo do meu Estado, peça minha opinião sobre temas relevantes. Como eu peço a ele também. Juridicamente, a decisão do deputado Waldir Maranhão é centenas de vezes mais consistente do que o pedido do tal impeachment”, escreveu o governador em sua conta no Twitter.

 

Política local. Segundo fontes que acompanharam as negociações, Maranhão levou em conta aspectos da política local maranhense para chegar à decisão. Um deles é a proximidade com Dino e a possibilidade de ser candidato a senador na chapa do governador do PC do B nas eleições de 2018. Dino venceu a eleição de 2014 no primeiro turno, colocando fim a décadas de mando da família Sarney no Estado. Outro é a decisão do PP de afastá-lo da presidência do partido no Estado.

Além disso, o presidente interino da Câmara recebeu relatórios de pesquisas locais mostrando que aumentou a parcela do eleitorado maranhense contrária ao impeachment. Uma campanha lançada no Facebook pedindo que o deputado anulasse as sessões teve forte adesão no Estado.

Ao contrário de São Paulo e outros locais, onde os deputados favoráveis à presidente foram hostilizados, Maranhão foi ovacionado por militantes ao retornar ao seu Estado natal depois de votar contra o afastamento, duas semanas atrás.

Por fim, segundo fontes que acompanharam o processo, Maranhão ficou profundamente incomodado com perfis publicados pela imprensa e declarações de aliados do vice-presidente Michel Temer que o trataram como um político desqualificado, fraco, sujeito a pressões, comparado a Severino Cavalcante, e foi convencido de que tinha nas mãos uma oportunidade única de deixar sua marca na história do Brasil. Pessoas próximas a Maranhão negam que o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) tenha influenciado na decisão mas setores do governo avaliam que a anulação favorece ao peemedebista. / COLABORARAM ISADORA PERON e IGOR GADELHA