O Estado de São Paulo, n. 44765, 10/05/2016. Política, p. A13

Gim e ministro protegeram empreiteiras, diz executivo

Julia Affonso

Ricardo Brandt

Mateus Coutinho

Fausto Macedo

O executivo da Andrade Gutierrez Gustavo Barreto relatou à Procuradoria-Geral da República um almoço que teria ocorrido em junho de 2014 na casa do ex-senador Gim Argello (PTBDF) com a presença do então senador do PMDB da Paraíba Vital do Rêgo – hoje ministro do Tribunal de Contas da União(TCU), cujo propósito era “não prejudicar as empreiteiras”.

O encontro, segundo os investigadores, tinha como objetivo acertar esquema de cobrança de propina para livrar empreiteiros de convocações das CPIs da Petrobrás no Congresso. As informações constam de nova denúncia contra Gim Argello.

Teriam participado do almoço os executivos Cláudio Melo Filho, da Odebrecht, e Léo Pinheiro e Roberto Zardi, da OAS. Naquele ano, Vital do Rêgo era presidente da CPI Mista da Petrobrás e Gim Argello integrava a CPI do Senado e era vice presidente da comissão mista.

“Como relatado por Gustavo Barreto, foi efetuado um almoço na residência de Gim Argello, em meados de junho de 2014, no qual foram tratadas questões relacionadas à CPI do Senado e CPI Mista por parte do parlamentar, que salientou que a ideia não era prejudicar as empreiteiras”, diz trecho da denúncia contra Gim Argello e mais nove investigados, entre eles o presidente afastado da Odebrecht Marcelo Odebrecht.

 

Pedágios’. Como ministro do TCU, Vital do Rêgo tem foro privilegiado. O ex-senador peemedebista é alvo de pedido de investigação do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. A solicitação de inquérito tem como base a delação do senador Delcídio Amaral (ex-PT-MS).

Delcídio afirmou que Vital “cobrava‘ pedágios’ para não convocar e ‘evitar’ investigações contra Léo Pinheiro, Júlio Camargo (apontado como lobista) e Ricardo Pessoa (da UTC)”.

A força-tarefa da Lava Jato diz que, de abril a maio de 2014, Gim Argello fez “diversos contatos” com Cláudio Melo Filho, funcionário da Odebrecht, e cobrou “pagamento de vantagem indevida no valor de R$ 5 milhões, a fim de tutelar interesses próprios e de executivos do Grupo Odebrecht, no sentido de evitar a convocação de empresários desse grupo para depor na CPI do Senado e na CPI Mista”.

“Cláudio Melo Filho, com a chancela e a autorização de Marcelo Odebrecht, com o intuito de zelar pelos executivos do Grupo Odebrecht para que não fossem convocados a depor, ofereceu e prometeu o pagamento da vantagem indevida no valor de R$ 5 milhões a Gim Argello, promessa que restou imediatamente aceita pelo então senador”, diz a força-tarefa.

A defesa de Gim Argello não se manifestou. Vital não respondeu ao Estado. OAS, Odebrecht e UTC informaram que não comentariam. / JULIA AFFONSO, RICARDO BRANDT, MATEUS COUTINHO e FAUSTO MACEDO

 

Denúncia

“Foi efetuado um almoço na residência de Gim Argello (...), que salientou que a ideia não era prejudicar as empreiteiras”

 

TRECHO DA DENÚNCIA CONTRA GIM ARGELLO