Título: Dança das cadeiras em janeiro
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 27/10/2011, Política, p. 6

Após a saída de Orlando Silva e de outros cinco titulares de pastas que já deixaram o governo, Dilma ensaia reforma ministerial para o início do ano. Nova configuração incluirá aqueles que vão concorrer no pleito de 2012 e comandantes desprestigiados no PlanaltoNotíciaGráfico

A mudança de comando no Ministério do Esporte — a sexta em 10 meses de governo — é apenas mais uma do portfólio de modificações da Esplanada, que deve ocorrer no início do próximo ano. Os alvos preferenciais são as pastas do Trabalho, de Carlos Lupi (PDT), e das Cidades, hoje a cargo de Mário Negromonte (PP), que há tempos não despacha com a presidente Dilma.

Lupi e Negromonte têm algo em comum: não representam mais as respectivas bancadas de seus partidos. Na semana passada, um grupo de pedetistas circulou pelo Congresso reclamando do enfraquecimento da pasta, cada vez mais esvaziada. Lupi, hoje, não comanda mais as negociações com os sindicatos. Tudo isso está a cargo do Palácio do Planalto, mais precisamente nas mãos do ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho. É a ele que os sindicalistas procuram quando querem tratar de algum problema relacionado às centrais.

"Nós estamos com pouca interlocução no governo", comentava dia desses com um amigo o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), conhecido como Paulinho da Força Sindical. Negromonte não sofre do mesmo mal, mas tem outros problemas. Seu partido, dividido, tem lhe puxado o tapete.

Além desses dois, está no rol dos que podem ser substituídos o ministro do Transporte, Paulo Sérgio Passos. A percepção do Planalto sobre o setor é de que as obras estão com ritmo lento desde que Alfredo Nascimento (PR) pediu demissão e voltou ao Senado. Essa área é considerada uma das mais importantes do PAC da Infraestrutura.

A ideia da presidente é aproveitar janeiro para montar uma equipe mais homogênea. Na avaliação de integrantes do Planalto e dos ditos ministros "da Casa", não dá para ficar, por exemplo, com titulares que não tenham o "ok" de seus partidos. Além disso, também é preciso contemplar aqueles que estão fora, caso do PTB, que há meses pede um lugar no primeiro escalão do governo e até agora não recebeu. O PR também pode voltar, uma vez que o partido, embora se declare independente, não perde a chance de acenar com boa vontade em relação aos pedidos do Planalto.

Legendas A intenção de Dilma, entretanto, não é buscar ministros que respondam apenas a seus partidos. Ela quer colocar em todos os postos auxiliares que ela possa demitir sem precisar passar pelo constrangimento a que foi exposta esta semana. Ciente dos problemas no Esporte e incomodada com a fraqueza política de seu ministro Orlando Silva, Dilma foi pressionada pelo PCdoB, que, desde o primeiro momento, insistiu para que Orlando ficasse no cargo.

À Exceção de Paulo Sérgio Passos, todos os ministros que Dilma nomeou nos últimos meses foram da sua lavra. No Turismo, Gastão Vieira, embora peemedebista, foi escolhido por ela por ser um professor — o PMDB pretendia nomear o deputado Manoel Júnior (PB). Na Agricultura, Mendes Ribeiro também foi escolha de Dilma, e não o preferido dos peemedebistas.

O mesmo ocorreu com a Casa Civil, em abril, quando ela trocou Antonio Palocci por Gleisi Hoffmann, e Luiz Sérgio por Ideli Salvatti nas Relações Institucionais. Aos poucos, em meio às denúncias de corrução, Dilma vai montando a sua equipe, que, entre os partidos e a presidente, fica sempre com a chefe.

Eleições 2012 A reforma ministerial incluirá ainda os nomes daqueles que terão que se desincompatibilizar para concorrer ao pleito do ano que vem. Hoje, na Esplanada, os únicos pré-candidatos a prefeito são Fernando Haddad (PT), da Educação, provável concorrente petista à prefeitura de São Paulo; e Iriny Lopes, da Secretaria Especial para Mulheres, de olho no Executivo de Vitória (ES).