As conversas divulgadas ontem mostram o ministro Romero Jucá, agora afastado da pasta, preocupado com a Operação Lava-Jato. Em seu trecho mais polêmico, o presidente nacional do PMDB menciona a necessidade de trocar o governo para que fosse possível “estancar essa sangria”. Em outro, especula o tempo que o país aguentaria esperar uma solução institucional para a crise — “três ou quatro meses, no máximo”. Ele reclama que Renan Calheiros, presidente do Senado, não concorda com a mobilização para levar Michel Temer ao Palácio do Planalto e cita que é preciso incluir o Supremo Tribunal Federal em um acordo nacional.
Nos áudios, divulgados pela “Folha de S.Paulo”, Jucá alega ter influência no STF, mas se queixa do ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato na Corte. Fala até que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, teria uma fila de alvos — “Éo Eduardo Cunha, a Dilma, e de poi sé oRenan ”.
O diálogo gravado pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, interlocutor de Jucá na conversa, foi o terceiro grampo privado divulgado em sete meses que revelou ao país o incômodo de políticos coma Lava-Jato e as tratativas para influenciara operação. Em novembro, Delcídio Amaral, então senador pelo PT e líder do governo, foi flagrado arquitetando um plano de fuga do país para o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró em troca de seu silêncio. A conversa foi gravada pelo filho do ex-diretor, Bernardo Cerveró, no quarto de um hotel em Brasília.
Delcídio, Bernardo e o advogado Edson Ribeiro discutiram os caminhos para levar Cerveró para a Espanha. Bernardo sugeriu uma saída pela Venezuela, Delcídio e Edson apoiaram uma rota pelo Paraguai. A proximidade com ministros do STF também foi usada como argumento: Delcídio disse que falou com Teori e Dias Toffoli, enquanto um interlocutor teria procurado Gilmar Mendes.
ASSESSOR GRAMPEIA MERCADANTE
A reação ao grampo foi rápida. Com base nas gravações, o Supremo determinou a prisão de Delcídio, Edson, do banqueiro André Esteves, citado nos áudios como fonte de ajuda para a família Cerveró, e do ex-assessor de Delcídio Diogo Oliveira no dia 25 de novembro. Em votação inédita, o Senado referendou a decisão da Corte no mesmo dia. Doze dias depois, eles foram denunciados ao STF, que mais tarde recebeu pedido de inclusão do expresidente Lula, o pecuarista José Carlos Bumlai e o filho dele, Maurício Bumlai, na denúncia. O caso segue sob relatoria de Teori. Decídio foi cassado pelo Senado por quebra de decoro parlamentar.
Antes, porém, Delcídio firmou acordo de delação premiada e revelou que foi procurado pelo então ministro da Educação, Aloizio Mercadante. Sem saber que estava sendo gravado pelo assessor mais próximo de Delcídio, José Eduardo Marzagão, o petista ofereceu ajuda para barrar as investigações. Os áudios foram divulgados em março.
Mercadante foi grampeado em duas conversas mantidas em dezembro. Na primeira, ele perguntou como Delcídio estava na prisão e se colocou à disposição. Na segunda, ouviu que a família do senador enfrentava problemas financeiros e se dispôs a ajudar. Em troca, Delcídio deveria desconsiderar a ideia de fazer delação — “eu acho que ele devia esperar, não fazer nenhum movimento precipitado”. Os diálogos foram entregues aos investigadores. Após a divulgação, o petista negou que tenha tentado influenciar a decisão do senador, e a presidente Dilma foi a público repudiar a atitude de seu ministro.
Delcídio Amaral foi preso e, depois, cassado após ser flagrado tramando fuga de Cerveró. Seu assessor gravou Aloizio Mercadante oferecendo ajuda