— Não ficou ninguém para contar a história. Está todo mundo com ódio. Mas ele está certo. Ali, só uns quatro ou cinco não eram petistas — relata uma secretária que trabalhava no terceiro andar desde que José Sarney ocupou o gabinete presidencial.
Junto com a equipe identificada com Dilma saiu também a forma dela de governar. O jeito cercado de sigilo e circunscrito a um pequeno grupo de confiança deu lugar a uma turma que atua mais integrada, onde a comunicação flui melhor. Enquanto Dilma não tinha apreço pelas relações políticas, Temer tem no coração de seu time profissionais que circularam a vida inteira no mundo parlamentar.
Com a chegada do peemedebista, o Palácio do Planalto se tornou uma extensão da Câmara. Agora há deputados circulando pelos gabinetes do segundo, terceiro e quarto andares, e até mesmo usando salas de reuniões para despachar antes de encontros com ministros e com o presidente interino.
Líder do PR, o deputado Aelton Freitas (MG) frequentava o palácio em reuniões com o núcleo político da gestão petista. Votou contra o impeachment da presidente afastada, mas, na última terça-feira resumiu assim o novo espírito do Planalto, ao sair de uma reunião com Michel Temer.
— Nunca fui tão bem recebido. Mudou da água para o vinho.
NOVO AMBIENTE
Os mais assíduos no palácio são os peemedebistas Lúcio Vieira Lima (BA), Darcísio Perondi (RS), Baleia Rossi (SP), e Paulo Pereira da Silva (SD-SP). Na véspera da escolha de André Moura (PSC-SE) para líder do governo na Câmara, Paulinho, que acumula a função de presidente da Força Sindical e coordenou a campanha pela indicação de Moura, despachava com o deputado Zé Silva (SD-MG) numa sala de reuniões no quarto andar do palácio presidencial. Os dois discutiam a lista de apoios de parlamentares e calculavam assinaturas em apoio ao parlamentar.
Um dia depois da posse de Temer, quando os peemedebistas se ambientavam no Planalto, Lúcio, que é irmão do ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, procurava o gabinete no quarto andar. Não localizou. Entrou no gabinete da assessoria do ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) e, ao ouvir o telefone tocar, não fez cerimônia: “Palácio do Planalto, boa tarde”. Conversou com a pessoa e anotou o recado dela.
Outra cena inusitada dos últimos dias foi a de tucanos voltando ao palácio presidencial depois de anos de afastamento. Na última terça-feira, o líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA), comentava que não entrava no Planalto desde o governo Lula, quando esteve com o petista algumas vezes no período em que foi prefeito de Salvador. Nesse mesmo dia, o atual prefeito da capital baiana, ACM Neto (DEM), também foi visto circulando no quarto andar, onde ficam os gabinetes dos ministros do núcleo político de Temer.
Quinta-feira, Geddel reuniu um grupo de prefeitos que integram a Frente Nacional dos Prefeitos, para receber uma pauta de reivindicações. Um deles, assíduo no Planalto durante os governos Lula e, em especial, Dilma, comentou que o ambiente “melhorou muito”, pedindo reserva porque tem consideração pela petista.
Em gabinetes anexos ao de Temer já despacham como assessores especiais três ex-deputados: Rodrigo Rocha Loures, Sandro Mabel e Tadeu Filipelli, todos do PMDB. Eles têm participado das reuniões com parlamentares e ajudado o presidente nas pautas com o Congresso Nacional.
O Gabinete Adjunto de Informação em Apoio à Decisão, separado por duas portas da sala do presidente interino, passa a ser comandado por Mozart Viana, o mais célebre ex-secretário da Mesa Diretora da Câmara, notório conhecedor do regimento da Casa. Ele e Temer trabalharam juntos quando o peemedebista comandava aquela Casa. Mozart e mais nove pessoas subsidiarão Temer, levantando dados sobre o que pode ser pedido ou o que possa ser de interesse daqueles que se encontrarão com o presidente interino. Será um trabalho suplementar ao da Secretaria de Governo, do ministro Geddel Vieira Lima, que atuará na linha de frente da articulação política.
— É melhor o presidente ser informado duas vezes do que estar mal informado — argumenta Mozart.
Sua antecessora no Gabinete de Apoio à Decisão, Sandra Brandão, tem um perfil bem diferente. Com currículo mais técnico, costumava levar a Dilma dados sobre os programas de governo, não tendo nunca contato com parlamentares. Era a ela que a presidente agora afastada recorria sempre que tinha dúvida sobre números. Entre os colegas, era conhecida como o Google do Planalto.
A desconfiança que Dilma carregava consigo nos processos de tomadas de decisões e elaboração de programas deixou heranças. Um integrante do time que passa a assessorar Temer conta que quando chegou à sala adjacente à das secretárias do presidente interino não havia sequer equipamentos.
— Encontramos tudo vazio. Nem computador tinha — afirma.
A presença de parlamentares no terceiro andar, sob Dilma, era eventual. Fora os líderes do governo na Câmara e no Senado, que participavam da reunião de coordenação política semanalmente, políticos não tinham muito acesso a Dilma, fato que motivou recorrentes reclamações. Agora, até na Secretaria de Comunicação Social (Secom) os parlamentares têm reuniões.
O Planalto ainda não está com seu novo time completo. Os principais auxiliares de Temer — Padilha, Geddel e Márcio de Freitas (chefe da Secom) — seguem montando a equipe. A Secom vai passar por uma reestruturação e, ao deixar de ter status de ministério, enxugará o número de profissionais de imprensa que ali atuam. Essa incerteza tem gerado apreensão entre os servidores que trabalharam com Dilma mas não foram ainda demitidos nem tomaram a iniciativa de sair por serem demasiadamente identificados com a gestão petista.
— Ninguém sabe quem vai ficar. Estou agoniada — confidenciou uma jornalista da Secom.
Já um membro da equipe de comunicação de Temer, que veio com ele da Vice-Presidência, admitiu que tem evitado criar vínculos com os remanescentes da equipe de Dilma por não saber quem ficará e quem será exonerado.
— Quem se oferece para trabalhar, eu falo. Agora, não vou procurar ninguém para dar ordens se não sei se serão mantidos — pontuou.
“Nunca fui tão bem recebido. Mudou da água para o vinho”
Deputado Aelton Freitas
Líder do PR na Câmara
“É melhor o presidente ser informado duas vezes do que estar mal informado”
Mozart Viana
Chefe do Gabinete Adjunto de Informação em Apoio à Decisão