O globo, n. 30240, 23/05/2016. País, p. 7

MANIFESTANTES FAZEM ATOS CONTRA GOVERNO EM 7 CAPITAIS

Em São Paulo, grupo acampa diante da casa de Temer; em Brasília, houve protesto perto do Palácio do Jaburu
Por: Roberta Scrivano/ Marcos Alves
 
ROBERTA SCRIVANO
E MARCOS ALVES
opais@oglobo.com.br
 
O local teve a segurança reforçada ao longo de todo o dia, com barreiras colocadas até 300 metros antes da casa. Temer, que passou o fim de semana em São Paulo, voltou a Brasília às 15h, antes de os manifestantes chegarem a sua residência.

Após uma assembleia, alguns manifestantes, liderados por Guilherme Boulos, do Movimento dos Sem Teto (MTST), decidiram ficar acampados por tempo indeterminado na frente da casa de Temer. A decisão ocorreu depois de manifestantes tentarem, sem sucesso, negociar o rompimento da barreira policial para se aproximar da residência.

— O governo tirou direito do trabalhador, nós avisamos. Ele mexeu com o formigueiro. É aqui que nós vamos morar. É aqui que vamos comer — disse Boulos, referindo-se à rua diante da casa de Temer.

No Centro do Rio, cerca de 500 pessoas foram em passeata da Candelária até o Palácio Gustavo Capanema, sede do Ministério da Educação no Rio, ocupado desde segundafeira. Os manifestantes questionam o afastamento de Dilma sem crime de responsabilidade e as primeiras medidas do novo governo. Eles estenderam um tapete vermelho para lembrar o ato pró-Dilma Rouseff feito por artistas no Festival de Cannes, na França.

Em Brasília, um grupo de cerca de cem manifestantes fez um ato contra barreira policial instalada perto do Palácio do Jaburu, residência de Temer, que estaria pedindo a identificação de todas as pessoas que visitam o Palácio da Alvorada. A denúncia foi feita pelo senador Jorge Viana (PT-AC) no Senado, na quinta-feira. Segundo ele, antes de seguir para a residência oficial da presidente afastada, Dilma Rousseff, os visitantes são obrigados a se identificar e esperar por uma autorização do Palácio do Jaburu para passar.

“GOLPE DUPLO”

O ato em São Paulo foi organizado pela Frente Povo Sem Medo, que reúne MTST, movimentos estudantis, União da Juventude Socialista, Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) — ligados ao PSOL e ao PCdoB.

Antes da caminhada, que tinha também muitos integrantes da Central Única dos Trabalhadores (CUT), líderes de partidos e movimentos discursaram em cima de um carro de som. Boulos chamou de “golpe duplo” o que acontece no Brasil — primeiro por conta do “impeachment sem crime”, segundo ele, e depois pela tentativa de implementação de um programa de governo que não foi discutido em eleição.

— Não queremos um governo sem voto. E não vamos aceitar nenhum tipo de retrocesso que signifique desmontar o SUS e projetos de educação que abrem oportunidades para trabalhadores. Nós não reconhecemos esse governo golpista — disse Douglas Izzo, da CUT.

Boulos criticou o corte nos programas sociais, afirmando que a destinação de 12 mil moradias aos sem-terra foi suspensa semana passada.

— Não vamos permitir nem admitir qualquer redução na moradia popular. Que esse recado fique claro ao Michel Temer. Se isso ocorrer, as terras vazias deste país vão amanhecer de lama preta, porque o povo vai ocupar —garantiu.

Boulos disse que os manifestantes foram para a casa de Temer porque ele quer “tirar a casa do povo”.

A passadeira Maria Gonçalves, de 53 anos, disse que usou seu único dia de folga na semana para ir ao protesto.

— Temer quer defender os ricos. Nossa vida está difícil e vai ficar pior — disse ela, interrompendo a entrevista com gritos de “Fora, Temer!”.