O globo, n. 30237, 20/05/2016. Economia, p. 19

PETROBRAS SOB NOVA DIREÇÃO

Pedro Parente é anunciado presidente e diz que não fará indicações políticas na diretoria
Por: CATARINA ALENCASTRO, EDUARDO BARRETTO, SIMONE IGLESIAS E RENNAN SETTI

 

CATARINA ALENCASTRO, EDUARDO

BARRETTO, SIMONE IGLESIAS

E RENNAN SETTI

economia@oglobo.com.br

 

-BRASÍLIA, RIO E SÃO PAULO- Após ser confirmado como novo presidente da Petrobras pelo presidente interino Michel Temer, o engenheiro e ex-ministro do governo Fernando Henrique Cardoso Pedro Parente garantiu ontem, em sua primeira entrevista coletiva, que não existirá qualquer indicação política para a diretoria da estatal. Ele afirmou ainda que a gestão da empresa será “totalmente profissional” e comprometida com resultados, a exemplo do que ocorre nas grandes companhias.

— Não haverá indicação política na Petrobras. Isso faz parte da orientação que o presidente Temer me passou. Vai facilitar muito a vida do Conselho de administração e a minha própria. Até porque, se esse fosse o caso, o que não será, certamente elas [indicações políticas] não seriam aceitas. Sem dúvida, esse foi um dos motivos que me levaram a aceitar essa posição — afirmou Parente. — Na Petrobras, os mecanismos de governança vão ter que funcionar como em qualquer empresa de grande porte.

As indicações políticas para a diretoria estiveram no centro dos problemas da Lava-Jato, operação da Polícia Federal que desvendou um gigantesco esquema de corrupção na Petrobras. Parente descartou a realização de uma nova auditoria na empresa por causa do escândalo. E ressaltou que, enquanto presidente, terá a prerrogativa de “admitir ou demitir” diretores, afirmando estar “consciente das dificuldades” que terá à frente.

— Estou decidido a enfrentar, entrar de cabeça, corpo e alma — declarou, ao lado do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, segundo o qual o governo quer o “retorno” da Petrobras o mais rapidamente possível.

 

FOCO EM RESOLVER PROBLEMAS

Parente disse que seu foco será a resolução dos problemas enfrentados pela estatal. Afirmou que foi-se o tempo em que quem toma posse abandona as ações de seus antecessores. O novo chefe da estatal não quis avançar no assunto, mas disse que soube pela imprensa que a empresa está em um processo que aponta para a venda de ativos, sinalizando que não abandonará esse caminho.

Para o Palácio do Planalto, a escolha de Parente contribui para obter uma reversão nas expectativas para a economia.

Procurado por emissários de Temer, o atual presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, teria dito, segundo fontes do governo, que fará a melhor transição possível para Parente. Ele deve apresentar sua carta de renúncia na reunião do conselho na segunda-feira. Por causa do estatuto da empresa, Bendine deve permanecer no conselho.

Ex-ministro da Casa Civil, de Minas e Energia e do Planejamento no governo Fernando Henrique, e conhecido por ter gerenciado o racionamento de energia de 2001, Parente dirige desde 2014 sua própria empresa, a Prada Assessoria, consultoria financeira para gestão de fortunas. Parente disse que não gostaria de deixar de ocupar o cargo de presidente do Conselho de Administração da BM&F Bovespa, mas que se houver conflito de interesse, assim o fará.

Ele vinha sendo sondado pela equipe de Temer desde a posse do novo governo, tendo conversado por telefone com o presidente horas antes de embarcar para Nova York, na segunda-feira. De volta ao Brasil, acertou a conversa com Temer ontem para sacramentar sua ida para a estatal.

Parente assume com a missão de reerguer a Petrobras, que acumula prejuízos bilionários devido a baixas contáveis colossais decorrentes da Lava-Jato, à queda de produção e a um dos maiores endividamentos corporativos do mundo, de R$ 450 bilhões. Para analistas, os desafios da petrolífera são colossais, e uma capitalização não está descartada.

— Ele vai assumir uma empresa muito pior do que era no início do governo Dilma, que iniciou seu primeiro mandato quando a estatal tinha uma dívida líquida de R$ 60 bilhões — afirmou o analista independente Flávio Conde, que mantém o site WhatsCall. — Nesse período, a Petrobras fez investimentos muito acima de sua geração de caixa, que não se traduziram em retorno depois, até porque foram alvo de corrupção. Sofreu também um prejuízo de R$ 59,6 bilhões com a política de preço de combustíveis do governo, que a obrigava a uma defasagem. Para completar, esse endividamento foi contraído quando o dólar estava entre R$ 1,70 e R$ 2.

 

PREJUÍZO E QUEDA NA BOLSA

A junção desses fatores se refletiu na última linha dos balanços financeiros da Petrobras dos dois últimos anos. Depois de um lucro de R$ 23,57 bilhões em 2013, a estatal registrou dois prejuízos anuais seguidos: de R$ 21,7 bilhões em 2014 e de R$ 34,8 bilhões no ano passado. No primeiro trimestre de 2016, a perda foi de R$ 1,25 bilhão. A empresa também sentiu o baque na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), onde valia R$ 375,1 bilhões no fim de 2010, passando a R$ 101,3 bilhões ao fim de 2015.

Para Álvaro Bandeira, economista do Modal Mais, não têm sido suficientes os esforços da gestão de Bendine para se desfazer de ativos da empresa para equilibrar as finanças. O Plano de Negócios 20152019 prevê uma receita de US$ 14,4 bilhões só este ano com a venda de ativos.

— O Bendine é um executivo de banco. Promoveu avanços, mas seu plano de vender ativos deveria ser mais ambicioso e mais ágil. O Pedro Parente é um técnico que terá maiores condições de fazer isso — disse Bandeira. — A Petrobras terá que ser uma empresa menor.

No centro do plano está o emperrado programa de venda de ativos da Petrobras, incluindo a BR Distribuidora. Inicialmente, a ideia era vender 25% da subsidiária de combustíveis, mas a petrolífera já consideraria se desfazer do controle da BR, segundo a agência Reuters.

Empresários reagiram bem à nomeação. A Firjan afirmou que a Petrobras “não podia estar em melhores mãos”. Para Venilton Tadini, presidente-executivo da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústria de Base (Abdib), a experiência de Parente no setor público e no privado o qualifica para o cargo:

— Para usar uma imagem do futebol, Parente é um profissional que joga nas 11 posições.

 

“Estou decidido a enfrentar, entrar de cabeça, corpo e alma”

Pedro Parente

Novo presidente da Petrobras