O globo, n. 30238, 21/05/2016. País, p. 4

PERFIL - Taiguara Rodrigues dos Santos

Por: Cleide Carvalho/ Renato Onofre/ Stella Borges
 

Em oito anos, 81 viagens ao exterior cercadas de luxo

 

Investigado pela PF por de tráfico de influência internacional, empresário é filho de ‘Lambari’, um dos melhores amigos do ex-presidente Lula

 

CLEIDE CARVALHO, RENATO

ONOFRE E STELLA BORGES

opais@oglobo.com.br

 

-SÃO PAULO- Em novembro de 2014, logo após a reeleição da presidente afastada Dilma Rousseff, o empresário Taiguara Rodrigues dos Santos, de 42 anos, reservou dois veículos de luxo da marca Mercedes-Benz para passear com o amigo e “quase primo” Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, pelas ruas da capital cubana. Taiguara estava em Havana prospectando negócios em uma feira internacional a convite da construtora Odebrecht, e Lulinha, de férias.

O encontro entre os dois amigos exemplifica a relação de Taiguara com a família Lula, que, para Polícia Federal, pode ter ultrapassado as relações de parentesco. O empresário foi alvo ontem de operação da Polícia Federal que investiga empréstimos do BNDES à Odebrecht. A PF quer saber se o ex-presidente usou sua influência para conseguir empréstimos para Odebrecht atuar em Angola.

Taiguara é sobrinho da primeira mulher do ex-presidente Lula, Maria de Lourdes da Silva, que morreu em 1971. O pai dele, Jacinto Ribeiro dos Santos, o “Lambari”, é ex-cunhado e melhor amigo do expresidente, segundo o próprio Instituto Lula informa na biografia do líder petista.

Taiguara passou a ser investigado no ano passado depois que vieram à tona informações sobre o enriquecimento dele e após a sua aproximação com a construtora Odebrecht.

Antes de se aproximar da Odebrecht, Taiguara atuou na área de despacho aduaneiro no Porto de Santos, trabalhou com telecomunicações e teve uma firma especializada em instalar vidros.

Em fevereiro de 2009, ele abriu a Exergia Brasil. A firma começou com aporte de R$ 10 mil e, em menos de seis meses, apresentava capital de R$ 1,5 milhão. A empresa, que era responsável pelos contratos com a Odebrecht, foi constituída em sociedade com o empresário e advogado português João Pinto Germano, ligado ao partido do ex-primeiro-ministro de Portugal José Sócrates, também amigo do ex-presidente Lula, e já denunciado por fraude fiscal, corrupção e lavagem de dinheiro pelo Ministério Público português.

 

NEGÓCIOS EM PORTUGAL E ANGOLA

No ano passado, na CPI do BNDES, Taiguara disse que foi apresentado a Germano por Helder Beji, chefe de divisão do Tribunal de Contas de Angola, que começou sua trajetória política como integrante da juventude do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). Germano teria convidado Taiguara a abrir uma empresa-espelho da portuguesa Exergia, a Exergia Brasil, para atuar como um representante de vendas. No lugar de comissão, teria participação societária no negócio.

As conexões com Portugal e Angola aceleraram a vida do empresário. Taiguara alugou um escritório na Avenida Paulista ao custo mensal de R$ 11 mil. Os negócios na África, no Caribe e na Europa iam bem, entre 2008 e 2015 foram 81 viagens internacionais, e o empresário se cercava de luxo. Em 2014, em novembro, Taiguara foi e voltou para o Panamá no mesmo voo de Fábio Luís e Fernando Bittar, dono do sítio em Atibaia que é utilizado pela família Lula e alvo de investigações da Lava-Jato.

Além do escritório na área comercial mais nobre da capital, o empresário foi morar de frente para a praia em um duplex em Santos. O apartamento de três quartos, piscina privativa e garagem para três carros é avaliado em mais de R$ 1 milhão.

No ano passado, após as primeiras ligações entre ele e a Odebrecht serem reveladas pela revista “Veja”, a vida do empresário mudou.

O aluguel da sala da Paulista está atrasado e a dívida ultrapassa os R$ 350 mil. No mês passado, a Caixa Econômica colocou o apartamento em leilão, com preço mínimo de R$ 806 mil, mas não apareceram interessados. O síndico do prédio também entrou com ação para cobrar os valores do condomínio, que deixaram de ser pagos em 2014.

Mesmo sem pagar condomínio e as prestações do imóvel, ele segue morando no local. Funcionários do condomínio dizem que ele é gentil e educado, e que viaja muito. Desde segunda-feira não era visto. A namorada saiu de casa na manhã de ontem, depois da operação da Polícia Federal, para evitar o assédio da imprensa.

O GLOBO tentou falar com o empresário e familiares dele, que não quiseram explicar a relação entre ele e a família Lula. Procurada, a Odebrecht disse, por meio de sua assessoria, que não ia se manifestar sobre a operação de ontem. A Exergia de Portugal também não retornou os contatos do jornal.