O globo, n. 30248, 31/05/2016. País, p. 3

CAI O 2º MINISTRO DE TEMER

Fabiano Silveira deixa a Transparência após orientar Renan a como agir na Lava-Jato
Por: Simone Iglesias/ Júnia Gama/ Evandro Éboli/ Eduardo Barretto
 
 
SIMONE IGLESIAS, JÚNIA GAMA,
EVANDRO ÉBOLI E EDUARDO BARRETTO
opais@oglobo.com.br
 

-BRASÍLIA- O governo do presidente interino, Michel Temer, viveu ontem a segunda queda de um ministro no período de uma semana e com apenas 19 dias de gestão. Apesar de intensas pressões externas, a saída de Fabiano Silveira do Ministério da Transparência, anunciada na noite de ontem, dividiu o governo Temer e só foi possível após o presidente do Senado, Renan Calheiros, a quem Silveira é ligado, “lavar as mãos” sobre sua permanência no cargo.

Em uma demonstração de que preferia o desgaste junto à opinião pública a comprar uma briga com o Senado, o discurso do Palácio do Planalto durante todo o dia de ontem foi que não havia nada grave em relação à Lava-Jato na fala de Silveira gravada pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado e divulgada pelo “Fantástico” no domingo.

Nela, Renan demonstra preocupação com um processo específico da Lava-Jato, e Silveira o orienta a não prestar todos os esclarecimentos ao Ministério Público para que estes não se virassem contra o senador. O discurso de auxiliares de Temer ao longo do dia era que Silveira só havia dado sua opinião como advogado quando ainda não tinha relação alguma com o governo.

— Não pode ser uma decisão unilateral. Tem que conversar com Renan — disse um auxiliar de Temer, antes da conclusão do processo que terminou com o pedido de demissão de Silveira.

Há uma semana, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) deixou o Planejamento após gravações, também feitas por Sérgio Machado, revelarem uma operação política para “estancar a sangria” provocada pela Lava-Jato.

Com a intensificação dos protestos contra a permanência de Silveira no cargo, foi crescendo no governo, e para Renan, a sensação de que a situação era insustentável. Servidores da pasta comandada por Silveira protestaram no prédio do ministério e foram até a frente do Planalto. De forma organizada, também aceleraram a entrega dos cargos comissionados e de chefia. Segundo os organizadores do protesto, mais de 250 funcionários já haviam se desvinculado das funções de confiança, na tarde de ontem, como forma de pressão para a saída imediata de Silveira.

A Transparência Internacional divulgou nota “exortando” o governo a investigar “exaustivamente” as alegações sobre Silveira e anunciando que iria “suspender o diálogo com o ministério até que uma apuração plena seja realizada e um novo ministro com experiência adequada na luta contra a corrupção seja nomeado.”

Com o recrudescimento das pressões pela demissão de Silveira, Renan conversou com Temer e, pouco depois, divulgou nota afirmando que não iria “indicar, sugerir, endossar, recomendar e nem mesmo opinar sobre a escolha de autoridades” no governo. Sem o aval do presidente do Senado para permanecer na pasta, Silveira entregou o cargo no início da noite. Seu substituto será Carlos Higino, secretário-executivo do ministério.

Em carta, Silveira ressaltou que as gravações que o levaram a pedir demissão mostram “simples opinião” e são “comentários genéricos”, negando que tenha interferido em favor de terceiros acerca de investigações. Silveira disse também que foi “involuntariamente envolvido” no caso, e, por isso, achou melhor deixar a pasta.

Aliados de Temer admitiram, reservadamente, que a manutenção de Silveira no cargo provocava um desgaste, mas justificavam que existia um receio de retaliação por parte de Renan, pelo histórico do presidente do Senado. No ano passado, quando a então presidente Dilma Rousseff decidiu demitir Vinícius Lages, apadrinhado de Renan, do Ministério do Turismo, o senador respondeu à petista devolvendo uma medida provisória que acabava com desonerações a empresas, algo raro no Congresso.

Havia entre integrantes do governo a expectativa de que Silveira optaria pela demissão por não suportar a pressão pública. A inação do governo fez com que Silveira permanecesse durante todo o dia sem se definir. Segundo relatos, o ministro se mostrou abalado na conversa com Temer, na noite de domingo, quando assistiram juntos às gravações divulgadas pelo “Fantástico”. Na ocasião, Temer afirmou a Silveira, de acordo com seus auxiliares, que sua permanência dependeria apenas dele mesmo.

— Não vejo nada de grave no que você disse, mas você tem que avaliar se sentir que está com desgaste pessoal e familiar muito grande — teria dito o presidente interino a Silveira.

Fontes ligadas a Temer avaliaram que era ruim a simbologia de manter Silveira numa pasta de combate à corrupção, mas disseram que o presidente interino não pode sair demitindo ministros para não criar precedentes.

— Se o governo for demitir todo mundo que falou algo mal recebido, não vai sobrar ninguém — afirmou um auxiliar.

Após denúncias alvejarem o segundo ministro de Temer, a preocupação no Planalto é que novas revelações atinjam outros integrantes do primeiro escalão. Com isso, o temor passou a ser, inclusive, a possibilidade de reversão do julgamento do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff.

 

DIÁLOGOS COMPROMETEDORES

 

Conselho a Renan

FABIANO SILVEIRA: A única ressalva que eu faria é a seguinte: está entregando já a sua versão pros caras da... PGR, né. Entendeu? Presidente, porque tem uns detalhes aqui que eles... (inaudível) Eles não terão condição, mas quando você coloca aqui, eles vão querer rebater os detalhes que colocou.

 

Críticas à PGR

SÉRGIO MACHADO: Diz que o Janot não sabe nada.

FABIANO: Eles estão perdidos nesta questão.

MACHADO: A última informação que vocês têm, não tem nada, não apuraram nada até hoje, é isso?

FABIANO: Não.

VOZ NÃO IDENTIFICADA: É a última informação, né? (inaudível). Eles, desde o início, Sérgio, eles estão jogando verde para colher maduro.

FABIANO: Eles foram lá buscar o limão e saiu uma limonada.

 

Gênio

RENAN CALHEIROS: Ele disse ao Fabiano: 'Ó, o Renan... Se o Renan tiver feito alguma coisa que eu não sei... Mas esse cara, p **** , é um gênio, usou essa expressão. 'Porque nós não achamos nada'.