Título: OCDE derruba PIB e irrita o governo
Autor: Hessel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 27/10/2011, Economia, p. 20

Previsões de uma expansão de 3,6% neste ano e de 3,5% em 2012 causam mal-estar e levam secretário a criticar órgão internacional A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) fez previsões mais pessimistas do que o governo brasileiro para a economia do país. A entidade, criada há 50 anos e formada por 34 países-membros, estima uma taxa de 3,6% para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) nacional neste ano e de 3,5% em 2012. Mas os números divulgados ontem em Brasília não agradaram o Ministério da Fazenda, que ainda mantém a meta de expansão de 4% para 2011 e, na contramão de todas as previsões, mantém a projeção otimista de um avanço de 5% para o ano que vem.

O secretário de Política Econômica da Fazenda, Márcio Holland, rechaçou o estudo em tom bastante firme e agressivo. "Vamos descartá-lo, absolutamente", afirmou. "O modelo não está bom, a equação não é boa", comentou. A declaração provocou um mal-estar durante a apresentação do estudo na sede do Ministério da Fazenda.

Inflação As estimativas feitas pela OCDE para a inflação também contrastaram com as do governo, aumentando a ira contra o organismo. O organismo internacional trabalha com projeções de alta dos preços de 6,5% para este ano, mas a Fazenda ainda estima que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chegue de 5,8%. Holland não poupou críticas. "A OCDE utiliza métodos extremamente antigos, arcaicos, para medir a inflação. Eles continuam acreditando que esse crescimento da taxa continuará igual, mas houve uma mudança da estrutura da economia", acrescentou o secretário, após elogiar o novo modelo adotado pelo Banco Central, conhecido pela sigla Samba, para realizar as projeções.

O chefe de gabinete da Secretaria-Geral da OCDE, Marcos Boturi, justificou as projeções mais pessimistas pela piora do cenário externo previsto no estudo, dados muito mais graves do que as projeções feitas pela Fazenda. "Estamos trabalhando com queda no crescimento do PIB em vários países desenvolvidos no terceiro trimestre deste ano", assegurou.

Ao lado de Butori, a economista principal do escritório da entidade responsável por Brasil e Indonésia, Annabelle Mourougane, tentou rebater as críticas do governo brasileiro, mas em um tom mais ameno. Os técnicos da OCDE buscaram destacar a qualidade da pesquisa, argumentando que se trata de "um conjunto de recomendações" para ajudar o governo a tomar decisões.