O Estado de São Paulo, n. 44767, 12/05/2016. Política, p. A9

Discursos 'empurram' votação para hoje

A expectativa do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), de concluir a votação da abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff não havia ocorrido até as 2h de hoje. A sessão seguia madrugada adentro e a votação no painel eletrônico era esperada apenas para a manhã de hoje. Até a conclusão desta edição, 52 dos 81 senadores haviam se manifestado em discursos no plenário da Casa, sendo que 37 se declararam favoráveis ao afastamento da petista.

Ao todo, 71 parlamentares estavam inscritos para falar. Renan tentou acelerar o processo com um acordo, mas a sugestão de um requerimento para abreviar os discursos foi rejeitada nas negociações e não chegou nem a ser votada.

Em plenário, o líder do DEM na Casa, Ronaldo Caiado (GO), disse que Teori deixou claro na sua decisão que cabe ao Senado o papel de tribunal de “instância definitiva” e o processo corre dentro da lei. “É o cala-boca definitivo”, afirmou o oposicionista. Para o líder do governo no Senado, Humberto Costa (PT-PE), a posição era esperada porque os ministros do STF já haviam dito que o assunto era do Congresso. A aposta de aliados de Dilma agora é anular o pedido na análise do mérito.

 

Conjunto da obra. Durante a sessão, os senadores que se manifestaram favoráveis à abertura do processo contra Dilma citaram muito mais que as irregularidades que embasam o pedido de afastamento. Não só as pedaladas fiscais e a assinatura de decretos orçamentários em 2015, mas “o conjunto da obra” serviu de argumento na tribuna.

Houve quem evocasse o abuso no emprego de recursos do BNDES, o superfaturamento na compra da refinaria de Pasadena (EUA), o enfraquecimento político do governo, o retrocesso na economia, a pressão das ruas e a corrupção generalizada. Magno Malta (PR-ES) mencionou o “conjunto da obra” e comparou o país a um paciente febril.

O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), disse que a marca dos governos populistas é que sempre agem com irresponsabilidade e quando fracassam usam o discurso de “nós e eles”. Derrotado por Dilma em 2014, ele elogiou o parecer do aliado Antonio Anastasia (PSDB-MG), favorável ao afastamento. “Foi a irresponsabilidade da presidente da República e do governo que está fazendo brasileiros voltarem às classes D e E”, criticou.

O impeachment teve o apoio de senadores que integraram o primeiro escalão dos governos petistas desde 2003.

Os aliados do passado fizeram discursos vacinados contra questionamentos de incoerência ideológica. Um deles foi Cristovam Buarque (PPS-DF), demitido por Lula em 2004. “Por incrível que pareça, voto pela admissibilidade. Não fui eu que mudei, foi a esquerda que envelheceu. A esquerda que está há 13 anos no poder, o que demonstra um desapego à democracia, manipulando, cooptando, criando narrativas em vez de análises, com a preferência pelo assistencialismo em vez de uma preferência pela transformação social.”

O senador Roberto Requião (PR), peemedebista, a favor da manutenção de Dilma, disse que o impeachment é uma “monumental asneira”. E criticou o vice. “Meu amigo Michel Temer assume suportado por série de ideias da ‘Ponte para o Futuro’ e reveladas em entrevistas por auxiliares que são as da utopia neoliberal com corte de gastos, a mesma proposta que fracassou em outros Países”, afirmou. / RICARDO BRITO, FÁBIO FABRINI, VALMAR HUPSEL FILHO, ISABELA BONFIM, LUÍSA MARTINS, GUSTAVO PORTO, IGOR GADELHA, RACHEL GAMARSKI e BERNARDO CARAM

 

Tribuna

“ Por incrível que pareça, voto pela admissibilidade. Não fui eu que mudei, foi a esquerda que envelheceu. A esquerda que está há 13 anos no poder”

Cristovam Buarque

SENADOR (PPS-DF)

 

“(Dilma) cumpriu o arrocho fiscal do PSDB e agora a oposição é contra. O remédio do PSDB é o remédio da Dilma elevado à 10.ª potência”

Roberto Requião

 

SENADOR (PMDB-PR)