O Estado de São Paulo, n. 44767, 12/05/2016. Política, p. A11

Sessão longa, muito discurso e pouca atenção

A certeza de que o processo de impeachment seria aprovado no plenário tirou o ânimo dos aliados da presidente Dilma Rousseff nas primeiras horas da sessão do Senado, iniciada às 10h de ontem. Eram quase 15h30 quando o primeiro governista subiu à tribuna para defender Dilma, o pedetista Telmário Mota (RR). Onze senadores já haviam discursado a favor do impeachment. “Isso vai longe”, comentou o líder do governo no Senado, Humberto Costa (PT-PE), ao constatar que era o 64.º da lista de 70 inscritos para discursar. Costa disse que o fim da fila foi intencional.“ Eu queria ouvir os demais senadores”, justificou.

Às 23h40, o placar era de 31 discursos a favor do impeachment e nove contra. O senador e ex-presidente Fernando Collor (PTC-AL) discursou, mas não antecipou como votaria.

Entre os aliados de Michel Temer, o clima já era de futuro governo. “Vamos ser colegas no ministério?”, brincou o senador Blairo Maggi (PP-MT) ao encontrar o deputado Jovair Arantes (PTB-GO) no plenário do Senado. “Você vai estar lá, com certeza”, respondeu Arantes, rindo. “É o que está previsto”, disse Maggi, convidado para a Agricultura. O PTB ficará com o Ministério do Trabalho.

Sem o ambiente de guerra e as falas inflamadas da sessão da Câmara, a votação no Senado foi discreta na maior parte do tempo, com galerias vazias e muitas cadeiras desocupadas no plenário. Nada de bandeiras enrolada sou juras de amor à família e à cidade natal. Os aplausos eram raros e não houve vaias. As poucas fitas verdes e amarelas, símbolos do grupo pró-impeachment, que apareceram no plenário ficaram jogadas nas mesas dos senadores.

 

Visitantes. Ao longo da sessão, a bancada de deputados era quase tão grande quanto a de senadores. Poucos prestavam atenção nos discursos e, divididos em rodinhas, conversavam sem cerimônia, até que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), perdeu a paciência. “Não vamos transformar a sessão em uma feira de passarinho”, alertou. “Não quero ser deselegante, mas não vamos repetir o espetáculo que tivemos na Câmara”, disse, irritado.

Entre os deputados que foram ver de perto o “momento histórico”, estávamos governistas Luiz Sérgio (PT-RJ), Maria do Rosário (PT-RS), Silvio Costa( PT do B-PE) e Jandira Feghali ( PCdoB-RJ), e os oposicionistas Onyx Lorenzoni (DEM-RS), Pauderney Avelino (DEM-AM), Paulinho da Força (SD-SP), Heráclito Fortes (PSB-PI), Roberto Freire (PPS-SP) e Rubens Bueno (PPS-PR).

“Esse é um momento pelo qual lutamos por 13 anos e meio”, disse Lorenzoni em mensagem a seus eleitores. Certo de que abriga de ontem estava perdida, Silvio Costa procurava senadores na tentativa de mudar votos na decisão final, que acontecerá em até 180 dias.

Parlamentares alternavam a presença no plenário e no chamado cafezinho, área restrita a parlamentares e convidados. A  bebida da tarde foi chá de gengibre com hortelã, para “aveludar a voz”. Senadores apelidaram de “gueto de Varsóvia” a área reservada aos jornalistas, tamanho o número de profissionais credenciados para cobrir a votação do afastamento da presidente.

Preocupado com a invasão da sessão pela madrugada, o senador Valdir Raupp (PMDB-RO) tentou reduzir o tempo destinado a cada orador de quinze para dez minutos. Humberto Costa rejeitou. Apressar o fim da sessão era o interesse dos aliados de Temer, que querem vê-lo no governo o mais cedo possível.

O objetivo é garantir a posse hoje, até porque o dia seguinte é sexta-feira 13. /LUCIANA NUNES LEAL, VALMAR HUPSEL FILHO, VERA ROSA, RACHEL GAMARSKI, IGOR GADELHA, BERNARDO CARAM

 

Esperança governista

 

Desde as primeiras horas de ontem, já prevendo que o resultado seria desfavorável, governistas traçavam estratégias para tentar convencer colegas do Senado a mudar o voto no julgamento final.