O globo, n. 30245, 28/05/2016. Rio, p. 9

PF terá seção de combate à violência contra a mulher

Temer classifica estupro como ‘crime bárbaro’ e ministra Cármen Lúcia chama de ‘cancro’
 

 

-BRASÍLIA E RIO- O presidente interino, Michel Temer, vai criar um órgão na PF para investigar crimes contra mulheres. O ministro da Justiça, Alexandre Moraes, chamou o caso de atentado à dignidade de todas as mulheres. O presidente interino Michel Temer anunciou ontem que pretende criar um departamento na Polícia Federal para combater a violência contra a mulher. Em nota divulgada com exclusividade para o blog de Jorge Bastos Moreno, no site do GLOBO, ele informou que o novo departamento vai “agrupar informações estaduais e coordenar ações em todo o país”. O presidente também faz referência ao caso da jovem de 16 anos estuprada por mais de 30 homens no Rio. “Repudio com a mais absoluta veemência o estupro da adolescente no Rio”, diz o texto. “É um absurdo que, em pleno século XXI, tenhamos que conviver com crimes bárbaros como esse”.

Temer afirma ainda que o governo está mobilizado, juntamente com a Secretaria de Segurança do Rio, para apurar as responsabilidades e punir com rigor os autores do crime e de sua divulgação nas redes sociais.

De acordo com o presidente, o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, fará na próxima terça-feira uma reunião com todos os secretários de Segurança dos estados, para tratar da questão de violência contra a mulher. Nessa data também, Temer espera nomear Fátima Pelaes, presidente do PMDB Mulher, para a Secretaria da Mulher.

 

“HEDIONDO E DEGRADANTE"

A ministra Cármen Lúcia, do STF, também divulgou uma nota sobre o estupro da jovem. “Não pergunto o nome da vítima: é cada uma e todas nós, mulheres, e até mesmo os homens civilizados, que se põem contra a barbárie deste crime, escancarado feito cancro de perversidade e horror a todo o mundo”, escreveu. Segundo ela, o crime “repugna qualquer ideia de civilização ou mesmo de humanidade”. Cármen disse que “é inadmissível, inaceitável e insuportável ter de conviver sequer com a ideia de violência contra a mulher em nível tão assustadoramente hediondo e degradante”.

Já a presidente afastada Dilma Rousseff classificou o estupro coletivo e sua divulgação em fotos e vídeos como “uma barbárie”. Ela publicou uma nota numa rede social, prestando solidariedade à jovem.

O governador em exercício do Rio, Francisco Dornelles, considerou o crime inaceitável e determinou “a rigorosa punição dos envolvidos na barbárie". Em nota, o governo ressaltou que “o que aconteceu é estarrecedor e inaceitável”. Segundo ele, o estado está atuando com total dedicação para elucidar o caso e para dar apoio psicológico à adolescente e à família dela.

O ministro da Justiça se reuniu ontem no Rio com o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame. Moraes disse que, embora a Polícia Civil do Rio seja capaz de esclarecer o crime, ele estava pondo a Polícia Federal à disposição do estado:

— Foi um crime hediondo, um atentado civilizatório, pela agressividade, pela brutalidade e pela arrogância daqueles que gravaram e colocaram o crime na rede.

Em nota, o ministro classificou o estupro como “a maior violência à dignidade da mulher".

Beltrame disse que a polícia não vai permitir que o estupro coletivo fique impune:

— O crime não agride apenas a vítima e sua família. Ele agride todos nós.