Título: Banda larga, a desconhecida
Autor: Almeida Jr., Ataide de
Fonte: Correio Braziliense, 27/10/2011, Economia, p. 23

Plano do governo para levar a internet rápida a municípios do interior é barato e funciona, mas quase ninguém sabe da iniciativa. É o que ocorre a apenas 50km da capital do país

Santo Antônio do Descoberto (GO) — O lançamento oficial do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) em Santo Antônio do Descoberto (GO) — a primeira cidade a receber o projeto — aconteceu há dois meses. De lá para cá, a constatação: o projeto tem velocidade de sobra para a conexão, mas falta informação para o público. Por um lado, é possível navegar com até 60% da velocidade nominal de 1Mbps nos horários de picos e nas outras horas pode-se obter velocidades acima da média. No entanto, o desconhecimento sobre projeto é geral — e até mesmo para quem já utiliza a internet. De cada 10 pessoas que o Correio ouviu na cidade, apenas duas o conheciam.

Segundo dados da Sadnet, empresa responsável pelo serviço na região, apenas 90 moradores do lugar, localizado a 50km da capital federal, aderiram ao PNBL — sendo 45% migrantes de outros planos com o intuito, principalmente, de pagar mais barato. "A maior parte das pessoas que nos procuram quer saber como funciona o subsídio do governo, pois de fato acham o valor baixo", explica Evandro Menezes, sócio-diretor da Sadnet.

Para tentar divulgar o serviço pela cidade, a rádio comunitária anuncia constantemente os benefícios e para explicar como funciona a adesão ao plano, que deve atingir 40 milhões de domicílios até 2014. A aluna do ensino médio Stefanny Valverde, 16 anos, o conheceu dessa forma. Enquanto escutava a emissora, soube de um sorteio de um computador, com mesinha e um ano grátis de internet pelo plano do governo. A jovem foi uma das primeiras pessoas na cidade a contar com o serviço. "Nunca tinha ouvido falar nesse plano do governo, mas acho bom para ajudar pessoas de baixa renda como eu", explica a estudante.

A chegada da internet provocou uma reviravolta na casa dela, em um bairro distante 7km do centro de Santo Antônio do Descoberto. "A rede tem me ajudado principalmente nos estudos. Todos os meus amigos já tinham acesso à web em casa. Antes eu tinha que caminhar bastante até chegar em uma lan house e pagava cerca de R$ 1 por hora. Agora, posso fazer tudo sem sair do quarto— e ainda vou ensinar as outras seis pessoas que moram aqui", conta Stefanny. A estudante ressalta que, mesmo morando em uma região afastada, nunca teve problemas com a velocidade de acesso. "O problema é que aqui falta muita energia, o que atrapalha bastante."

A costureira Francisca Maceno, 46 anos, tem internet via rádio em casa, mas não é a oferecida pelo PNBL. "Eu nem sabia que isso existia. Sei que pago o acesso pela Sadnet, mas não por esse plano mais barato. Faz tempo que isso está aqui? Vou ter que pesquisar", resignava-se a moradora da cidade de Goiás. Os filhos utilizam a web para se comunicarem com colegas e para pesquisas. "A única reclamação que tenho, como diz minha filha, é que quando a conversa está na parte mais interessante, a conexão cai. Além de que quando chove, fica muito lento", reclama.

Segundo Evandro Menezes, da Sadnet, a divulgação está sendo feita da melhor maneira possível. "Além da rádio, temos o serviço de telemarketing para alertar as pessoas sobre o serviço. Quem mais procura são os moradores de baixa renda, pois, para elas, o outro serviço ainda é muito caro", explica. O PNBL ainda esbarra em um outro problema, o valor do modem. Além dos R$ 35 de mensalidade, o usuário deve adquirir um equipamento que custa R$ 299. O sócio da empresa concorda com o valor alto do equipamento como principal barreira para difundir ainda mais o serviço. "Os dispositivos são importados. O que conseguimos fazer é dividir em até 12 vezes o valor. Há aparelhos mais em conta no Brasil, mas que não têm a mesma qualidade", garante.

As metas do PNBL O Plano Nacional de Banda Larga tem previsão de custo de quase R$ 13 bilhões. Além de Santo Antônio do Descoberto, outras 99 cidades devem receber o PLNB ainda este ano. A maioria está na região Nordeste e Sudeste. Até 2014, o plano vai achegar a 25 capitais.

A mais cara do mundo Um estudo da Organização da Nações Unidas (ONU) revelou que o Brasil tem a banda larga fixa e móvel mais cara do planeta. O trabalho constatou que o custo mensal de um pacote de 1GB móvel é de US$ 51,27, enquanto que em países como o Quênia vendem algo semelhante a US$ 26,24. No Vietnã, o preço é ainda mais baixo — R$ 6,34. Quanto à banda larga fixa, o Brasil também perde feio. Por aqui, o custo é de US$ 31,31; no Marrocos, menos de US$ 12.