O Estado de São Paulo, n. 44774, 19/05/2016. Política, p. A12

Janot vê 'papel central' de Lula na trama

A Procuradoria-Geral da República atribui “papel central” ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em uma trama cujo objetivo era tentar comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró e, com isso, obstruir os trabalhos da Operação Lava Jato.

A denúncia oferecida pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal incluía análise de e-mails, extratos bancários, telefônicos e documentos como passagens aéreas e diárias em hotéis para concluir chegar a essa conclusão.

A quebra de sigilo dos e-mails do Instituto Lula revelou cinco encontros entre o ex-presidente e o ex-senador Delcídio Amaral (sem partido-MS) entre abril e agosto do ano passado, período que coincide com os pagamentos feitos para evitar que Cerveró colaborasse com as investigações da Lava Jato. A informação foi divulgada ontem à noite pelo Jornal Nacional, da TV Globo.

A denúncia tem como base as declarações de Delcídio e do então chefe de gabinete do senador cassado, Diogo Ferreira, presos no ano passado por negociar pagamentos e planejar a fuga de Cerveró do País para evitar que o ex-executivo colaborasse com as investigações da Lava Jato.

Para a Procuradoria-Geral, Lula “impediu e/ou embaraçou investigação criminal que envolve organização criminosa, ocupando papel central, determinando e dirigindo a atividade criminosa”.Além de Lula, Delcídio e Diogo, a denúncia inclui o empresário José Carlos Bumlai e seu filho Maurício, o banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, e o advogado Edson Ribeiro.

 

Pagamentos. Segundo a reportagem, o total investido pelo grupo na tentativa de comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobrás foi R$ 250 mil. O primeiro pagamento, de R$ 50 mil, foi feito por Delcídio, em maio do ano passado. As outras quatro parcelas foram pagas por Diogo.

O dinheiro teria sido fornecido pelo filho de Bumlai. Segundo as investigações, ele sacava a quantia em uma agência bancária da Rua Tutoia, na zona sul de São Paulo.

Em sua delação, Delcídio afirmou que ele, Lula e Bumlai tinham medo de que Cerveró relatasse fatos ilícitos praticados por eles em sua delação, por isso resolveram agir para comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobrás.

 

Outro lado. Em nota, o Instituto Lula afirmou que o ex-presidente “jamais conversou com Delcídio ou qualquer outra pessoa, objetivando interferir na conduta de Cerveró ou em qualquer outro assunto relativo à operação Lava Jato”.

A defesa de André Esteves disse à reportagem que o banqueiro “não cometeu nenhuma irregularidade, conforme Delcídio afirmou em depoimento prestado à PGR”.

O advogado de Delcídio afirmou que não iria se pronunciar.A defesa de Diogo disse que ele não nega ter feito os pagamentos, mas achava que era para ajudar a família de Cerveró e não sabia que se tratava de tentativa de obstrução da Justiça.

 

O advogado reitera que o assessor agiu a pedido de Delcídio. A defesa de Bumlai e seu filho não retornou aos telefonemas da reportagem. O Estado não conseguiu contato com Edson Ribeiro.