O Estado de São Paulo, n. 44774, 19/05/2016. Economia, B1

Eletrobras é suspensa na Bolsa de NY e governo prepara capitalização de R$ 4 bi

André Borges 

Cynthia Decloedt

A Eletrobrás teve suspensa ontem a negociação de ações no pregão da bolsa de Nova York (Nyse). Desde abril do ano passado, a Securities and Exchange Commssion (SEC, o órgão regulador e fiscalizador do mercado de capitais nos Estados Unidos) cobra da empresa a entrega dos balanços auditados de 2014 e 2015.Depoisdetrêsprorrogações, foi determinada a suspensão, o primeiro passo para a “deslistagem” dos papéis da bolsa americana, etapa que deve demorar de dois a três meses. Nesse período, a empresa só pode ter suas ações negociadas em balcão.

A medida deve forçar o Tesouro a fazer uma capitalização de aproximadamente R$ 4 bilhões na Eletrobrás, segundo apurou o Estado. O recurso vai recompor o caixa da empresa para fazer frente à provável fuga de investidores. Segundo uma fonte ligada ao comando da companhia, o valor ainda não está totalmente fechado, mas as estimativas iniciais apontam que este montante seria suficiente.A capitalização pode ocorrer em dois meses.

Pouco antes da divulgação do comunicado da Nyse, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse que o governo está olhando “com detalhe” a situação financeira da Eletrobrás e estuda estimativas para o tamanho da capitalização que será necessária à estatal.

“Como em todos os demais casos, temos de adotar uma estimativa realista para a Eletrobrás. Temos um grupo de trabalho na Fazenda, com Ministério de Minas e Energia e outras áreas do governo, para olhar com detalhe a empresa. Em um determinado momento, temos de fazer uma estimativa de qual é a necessidade provável de capitalização”, disse Meirelles.

A confusão financeira da Eletrobrás na bolsa americana tem origem na Operação Lava Jato.

Desde 10 de junho de 2015, o escritório independente Hogan Lovells investiga possíveis irregularidades em sociedades e obras tocadas pela Eletrobrás, por conta das denúncias apuradas pela Polícia Federal. Como o escritório sede para a cada momento com algo suspeito, pede novas informações, o que demanda novas análises.

 

Sem a conclusão das investigações e, principalmente, seus reflexos nas contas da Eletrobrás, a empresa de auditoria KPMG se nega a aprovar o balanço da empresa sem ressalvas, condição exigida no mercado americano para manter a ação listada na bolsa. As contas preliminares do governo indicam que a dívida total da Eletrobrás ultrapassa a casa dos R$ 40 bilhões. A maior parte dessa dívida, porém, está atrelada a financiamentos tomados com bancos públicos, como BNDES, Banco do Brasil e Caixa./ COLABORARAM ADRIANA FERNANDES, EDUARDO RODRIGUES, RACHEL GAMARSKI, FERNANDA GUIMARÃES E LUCIANA COLLET