O globo, n. 30246, 29/05/2016. País, p. 8

Delegados propõem lista para definir chefe da PF

Relação, a ser entregue a Temer, barra indicação política
Por: RENATO ONOFRE

 

RENATO ONOFRE

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    A Polícia Federal vai às urnas na próxima terça-feira em busca de mais autonomia. Nove delegados federais disputam uma lista tríplice informal para o cargo máximo da instituição. A lista será apresentada ao presidente interino, Michel Temer, por meio da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF).

    É a segunda vez que a instituição tenta escolher seu próprio representante. Para os delegados, só com a implantação da lista tríplice é que a escolha do diretor-geral da instituição estaria, segundo eles, livre de influência política.

    — Só a independência total da instituição pode garantir que ela não seja alvo de políticos querendo atrapalhar as investigações — afirma o delegado Bergson Toledo Silva, um dos que disputam o posto.

    Em 2014, a ADPF tentou sugerir à hoje presidente afastada, Dilma Rousseff, nomes através de uma lista tríplice. Dilma ignorou a sugestão e manteve no cargo o delegado Leandro Daiello Coimbra, na função até hoje. Para a associação, Daiello só deverá ficar no cargo até a Olimpíada do Rio.

    A indicação do chefe da PF por lista tríplice é uma das bandeiras dos delegados federais que estão em lobby aberto para a aprovação da PEC 412/ 2009 — Proposta de Emenda Constitucional que prevê maior autonomia à PF. Atualmente, a indicação para o cargo é uma prerrogativa exclusiva da Presidência da República.

     

    MINISTRO CRITICA LISTA

    Na semana passada, o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, criticou a lista. Ele afirmou que a direção geral, os diretores, os superintendentes regionais e “todos os que estão atuando nas grandes operações” desaprovam o processo da lista em andamento.

    A afirmação de Moraes foi rebatida pela associação e pelos delegados que disputam a eleição. Em nota, a ADPF disse que “a informação é equivocada e destoa do que objetiva a absoluta maioria dos delegados federais de todo o Brasil. Retrata um inaceitável retrocesso”.

    Também em nota, os nove delegados que disputam a lista rechaçaram as declarações de Moraes. O texto assinado em conjunto pelos concorrentes, afirma que “diante da instabilidade vivida pelo país”, a lista tríplice representa uma garantia de proteção da PF “contra ingerências políticas externas, evitando que seu dirigente seja escolhido mediante conchavos nada republicanos”.

    A nota diz ainda que a lista “é um atestado de lisura, garantindo que operações importantes— como Lava-Jato, Zelotes e Acrônimo — terão continuidade sem interferências indevidas”.

    Delegada da Lava-Jato, Erika Mialik Marena, também na disputa, afirmou em carta aberta aos delegados que é necessário aperfeiçoar as estruturas de combate à corrupção.

    “Tenho convicção de que o combate à corrupção, que hoje é crucial para o país, precisa ser aprimorado, e essa é mais uma das razões pelas quais escolhi participar da seleção. Assim como já existem coordenações gerais em outras áreas da Polícia Federal, também há a necessidade, e urgência, na criação de uma Coordenação Geral de Combate à Corrupção”, sugere Erika