O Estado de São Paulo, n. 44769, 14/05/2016. Economia, B1

Meirelles cogita 'imposto temporário'

Menos de 24 horas depois de assumir o cargo com a responsabilidade de estancar rapidamente a crise econômica e fiscal do Brasil, o novo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, já avisou que precisará tomar medidas duras e poderá ter de contar com um novo tributo, ainda que temporariamente.

A volta da CPMF não está descartada, ao contrário do que pregavam em abril os colaboradores de Temer. A prioridade será garantir a sustentabilidade das contas públicas e evitar o crescimento explosivo da dívida do governo, indicou ontem Meirelles.

Por isso, o governo não vai retirar do Congresso, por enquanto, a proposta de ressuscitar o imposto do cheque, enviada pela equipe de Dilma.

Na primeira entrevista como ministro, Meirelles não anunciou nenhuma medida concreta, como esperava o mercado financeiro, mas deu a direção da cartilha que adotará no seu Plano de Estabilização Fiscal: arrocho fiscal com corte de despesas, teto para o crescimento dos gastos, revisão “criteriosa” dos programas sociais, reformas da Previdência e trabalhista, redução dos subsídios, desonerações e cargos comissionados.

Todas medidas duras, que já começaram ontem mesmo a sofrer resistências da oposição e dos partidos aliados que compõe a base parlamentar de apoio de Temer. “Não é possível agradar todo mundo”, afirmou o ministro, ao comentar que protestos e críticas serão enfrentados com naturalidade.

O ministro criticou, sobretudo, o tamanho das desonerações e dos subsídios dos programas do governo, a “bolsa empresário”. E deu o recado: “Podemos e vamos sim cortar privilégios dos que não precisam”.

Meirelles previu que há condições de uma recuperação rápida da economia, baseada no impacto que essas medidas podem ter no retorno da confiança. O emprego, disse, virá com o crescimento. Mas não se comprometeu com prazos para o fim da crise. Ele informou que só anunciará medidas depois de uma ampla análise da situação das contas públicas.

 

Críticas. Agora no papel de oposição, deputados do PT e de partidos que eram aliados de Dilma questionaram a mudança de discurso da equipe do presidente em exercício de Michel Temer. “Todos os deputados que defendiam e votaram a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff também levantavam placas de ‘xô, CPMF’. É de se estranhar essa mudança de discurso”, afirmou Paulo Teixeira (PT-SP). Ele não quis dizer se o partido votaria a favor da volta da CPMF.

 

Para Silvio Costa (PT do BPE), que foi vice-líder do governo Dilma, o governo Temer se apropriou dos projetos elaborados pela equipe da presidente afastada. “A oposição votou contra tudo. Quero que expliquem porque mudaram de posição.” Segundo ele, o governo provisório não tem legitimidade para votar as reformas que o Brasil precisa. / ADRIANA FERNANDES, EDUARDO RODRIGUES, MURILO RODRIGUES ALVES E RACHEL GAMARSKI, COLABOROU JÚLIA LINDNER