Correio braziliense, n. 19358, 26/05/2016. Política, p. 4

Delator gravou Sarney

Sérgio Machado pede ajuda a ex-presidente para não ser julgado por Moro. Ex-senador recomendou uma solução sem advogados

Por: Eduardo Militão

 

O ex-presidente e ex-senador José Sarney (PMDB) afirmou ao ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado que poderia ajudá-lo a não ser processado pelo juiz da Lava-Jato no Paraná, Sérgio Moro, mas “sem meter advogado no meio”. A conversa entre os dois, divulgada ontem, foi gravada em áudio por Machado, que fechou acordo de colaboração premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR). Para embasar suas declarações, ele gravou conversas com o Presidente do SenadoRenan Calheiros (PMDB-AL), e o ex-ministro do Planejamento Romero Jucá (PMDB-RR).

A delação foi homologada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki. A Folha de S.Paulo revelou que, de acordo com Sarney, a oposição só aceitou o governo de Michel Temer após negociação com Renan sob “certas condições”, que não foram detalhadas. O ex-presidente  ainda considerou que a futura colaboração premiada do presidente afastado do grupo Odebrecht Marcelo Bahia Odebrecht “vem com uma metralhadora de ponto 100”.

As conversas foram gravadas antes do afastamento da presidente Dilma Rousseff. Em 2014, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa afirmou que recebeu R$ 500 mil de propina por ter ajudado um negócio envolvendo navios e a Transpetro. O dinheiro, disse o delator da Lava-Jato, foi entregue a ele pelo próprio Machado, em um apartamento no Rio de Janeiro.

Sarney diz a Machado que é importante não ser julgado por Moro. “Aquele negócio que você disse ontem é muito procedente. Não deixar você voltar para lá.” Na conversa, o ex-dirigente da Transpetro diz a Sarney que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, mandava recados para seus advogados a fim de que ele fizesse delação premiada. “Nós temos é que fazer o nosso negócio e ver como é que está o teu advogado, até onde eles falando com ele em delação premiada”, diz Sarney. Machado diz que a história é verdadeira, e não mera valorização dos defensores. Sarney responde: “Sim, mas nós temos é que conseguir isso. Sem meter advogado no meio”. O ex-presidente da República diz que vai procurar Renan para tratar do assunto.

 

Condições

Em outro trecho, Machado diz que tem a informação de que o PSDB se convenceu de que será atingido pela Lava-Jato. “Eles sabem que são a próxima bola da vez”, diz. E Sarney concorda: “Eles sabem que não vão se safar.” Daí, Machado diz ser necessário conversar com Temer para obter uma solução de um novo governo. E Sarney conta que a oposição não queria acordo nenhum, mas só aceitou após negociação com Renan: “Nem Michel eles queriam, eles querem, a oposição. Aceitam o parlamentarismo. Nem Michel eles queriam. Depois de uma conversa do Renan muito longa com eles, eles admitiram, diante de certas condições.”

Marcelo Odebrecht foi condenado a 20 anos de prisão por crimes como corrupção ativa por Sérgio Moro. Ele está preso desde julho de 2015 e a construtora que dirige anunciou que busca o amplo acordo de colaboração premiada e leniência. De acordo com fontes ouvidas pelo Correio, a colaboração ainda não foi aceita. O empreiteiro está produzindo propostas de informações para delatar, algumas vezes rejeitadas e refeitas novamente.

Em nota, Sarney disse que é amigo de Machado e que apenas procurou levantar a confiança do colega. “As conversas que tive com ele nos últimos tempos foram sempre marcadas, de minha parte, pelo sentimento de solidariedade, característica de minha personalidade”, disse. “Nesse sentido, muitas vezes, procurei dizer palavras que, em seu momento de aflição e nervosismo, levantassem sua confiança e a esperança de superar as acusações que enfrentava.” Ele criticou a divulgação dos diálogos. “Lamento que conversas privadas se tornem públicas, pois podem ferir outras pessoas que nunca desejaríamos alcançar.”

 

Barroso pede explicações a Temer

O ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso deu prazo de cinco dias para que o presidente em exercício, Michel Temer, se pronuncie sobre a realização da reforma administrativa ocorrida logo após o afastamento da presidente Dilma no processo de impeachment. “Tratando-se a medida cautelar de providência de caráter excepcional, à vista da presunção de validade dos atos estatais, determino a oitiva do exmo. sr. presidente da República em exercício, a cerca do pedido de medida cautelar, no prazo de cinco dias”, diz Barroso no despacho. A decisão do ministro tem como base ação encaminhada ao STF pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT) para reverter reforma administrativa realizada por Temer.

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