Correio braziliense, n. 19358, 26/05/2016. Política, p. 3

Supremo aceita a delação

Relator da Lava-Jato no STF, o ministro Teori Zavascki homologou o acordo de colaboração firmado com ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado

Por: João Valadares e Eduardo Militão

 

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki homologou, na tarde de ontem, os termos da delação premiada do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado. O mais novo delator da Lava-Jato já prestou 10 depoimentos. Ele gravou conversas reservadas com o ex-ministro Romero Jucá; o Presidente do SenadoRenan Calheiros; e o ex-presidente da República José Sarney.

A expectativa é de que, a partir da homologação, a Procuradoria-Geral da República (PGR) peça a abertura de novos inquéritos. O alvo central das revelações que estão sendo feitas por Machado é o PMDB, partido do presidente interino. É possível ainda, a partir das informações repassadas pelo ex-presidente da Transpetro, fazer adendos a investigações já em andamento no Supremo.

Desde segunda-feira, empresários do Rio de Janeiro se mostram preocupados com a colaboração premiada de Sérgio Machado. Com negócios na Transpetro, eles procuraram advogados para fazer uma consultoria preventiva para saber como se portar diante da imprensa. Trata-se de empresários do setor de óleo e gás, estaleiros e construtoras. Segundo uma fonte, eles não se consideram culpados de nada, mas apenas temem repercussões negativas dos depoimentos de Machado.

Ontem, o jornal Folha de S.Paulo publicou trechos de uma conversa entre Machado e Renan Calheiros. Sem saber que estava sendo gravado, o Presidente do Senado defende uma modificação na lei de delação premiada. Ele demonstrou interesse em elaborar uma legislação para impedir que alguém que esteja preso possa assinar um termo de delação premiada. “Primeiro, não pode fazer delação premiada preso. Primeira coisa, porque aí você regulamenta a delação e estabelece isso”, disse. Machado diz para Renan que “tá todo mundo sentindo um aperto nos ombros”. Renan completa: “Tudo com medo”. Em seguida, Machado afirma que “não sobra ninguém, Renan”.

No diálogo, Renan sugeriu que poderia “negociar” com os ministros do STF uma “transição” para Dilma Rousseff. O senador disse que seu plano A para a crise política do Brasil é um semiparlamentarismo. O impeachment da petista seria o plano B. Segundo Renan, os ministros não negociavam com Dilma porque estavam “putos” com ela.

“Ela (Dilma) disse: ‘Renan, eu recebi aqui o (Ricardo) Lewandowski querendo conversar um pouco sobre uma saída para o Brasil, sobre as dificuldades, sobre a necessidade de conter o Supremo como guardião da Constituição. O Lewandowski só veio falar de aumento, isso é uma coisa inacreditável’”, afirmou Renan. A assessoria do STF comunicou que o presidente do tribunal “jamais” manteve conversas sobre suposta “transição” ou “mudanças na legislação penal” com Renan ou com Dilma.

 

Contato

Na sequência do diálogo, o Presidente do Senado atesta que “Aécio está com medo. (me procurou) ‘Renan, queria que você visse para mim esse negócio do Delcídio, se tem mais alguma coisa’”. Nesse trecho, o ex-presidente da Transpetro completa: “Renan, eu fui do PSDB 10 anos. Não sobra ninguém, Renan”.

Em nota divulgada na manhã de ontem, o peemedebista pediu desculpa ao tucano. “Em relação ao senador Aécio Neves, o senadorRenan Calheiros se desculpa porque se expressou inadequadamente. Ele se referia a um contato do senador mineiro que expressava indignação — e não medo — com a citação do ex-senador Delcídio do Amaral.”

O PSDB também divulgou nota rebatendo as declarações de Sérgio Machado. “É inaceitável essa reiterada tentativa de acusar sem provas em busca de conseguir benefícios de uma delação premiada. Por isso, será acionado pelo partido na Justiça. Sobre a referência ao diálogo entre os senadores, o senador Aécio manifestou a ele o que já havia manifestado publicamente inúmeras vezes: a sua indignação com as falsas citações feitas ao seu nome.”

Senadores relacionados:

Órgãos relacionados: