O Estado de São Paulo, n. 44779, 24/05/2016. Política, A6

Citado, PSDB nega relação com caso

Pedro Venceslau

Isabela Bonfim

Citado na conversa gravada entre o ex-ministro do Planejamento, Romero Jucá (PMDB-RR), e o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado (PMDB-CE), o PSDB, que comanda três ministérios na gestão interina de Michel Temer, reagiu de forma discreta e superficial para se posicionar diante da primeira crise do novo governo.

Só depois de anunciada a exoneração de Jucá, o líder tucano na Câmara, deputado Antonio Imbassahy (BA), convocou a imprensa para dizer que a decisão dele de deixar o ministério foi “acertada”. “Era a decisão esperada. Ele vai ter a oportunidade de tomar conhecimento dos fatos e se defender”, afirmou. O líder tucano também defendeu a Operação Lava Jato, mas não mencionou as citações aos tucanos na gravação.

Em conversa ocorrida em março entre Machado e Jucá, revelada ontem pelo jornal Folha de S.Paulo, o agora ex-ministro do Planejamento e senador diz que “caiu a ficha de líderes do PSDB” sobre o potencial de danos que a Operação Lava Jato pode causar em vários partidos.

“Caiu (a ficha). Todos eles. Aloysio (Nunes), José (Serra)”. Em seguida, Machado questiona se a ficha do senador Tasso Jereissati (CE) também caiu. “Também. Todo mundo na bandeja para ser comido.”

Em outro trecho, Machado cita nominalmente Aécio e diz que ele será “o primeiro a ser comido”. Em seguida, cita a campanha do atual senador para eleger-se presidente da Câmara, em 2001. “Quem não conhece o esquema do Aécio? (...) O que a gente fez junto, Romero, naquela eleição, para eleger os deputados, para ele (Aécio) ser presidente da Câmara?”.

Em uma nota oficial de cinco linhas divulgada no meio da tarde e sem assinatura de nenhum dirigente, o PSDB afirmou que não existe, nos diálogos, “nenhuma acusação” ao partido nem aos senadores Aloysio Nunes, Aécio Neves e Tasso Jereissati ou ao ministro das Relações Exteriores, José Serra.

 

‘Entendimento’. Sobre o trecho que fala sobre a eleição de Aécio para presidente da Câmara dos Deputados, em 2001, a legenda declara que ele se refere “ao entendimento político” pelo qual o PSDB apoiou o candidato do PMDB para a presidência do Senado e, o PMDB, o candidato do PSDB para presidente da Câmara. “Entendimento legítimo, feito de forma correta e amplamente acompanhado pela imprensa na época.”

Aloysio Nunes (PSDB-SP) desconversou sobre sua citação e afirmou ao Estado que “caiu a ficha do Brasil inteiro” e a Lava Jato “não poupará quem tiver ficha em cartório”. Já Serra, em Buenos Aires, disse esperar que Jucá volte ao cargo. “Espero que ele possa resolver os problemas que o levaram a pedir licença e volte. É meu sincero desejo.”

A assessoria de Tasso Jereissati (PSDB-CE) declarou que os senadores ainda não se manifestaram sobre o assunto, mas que vão buscar respostas. Nenhum dos tucanos citados na gravação de Jucá é alvo direto da Lava Jato.

 

Ao longo dia, os parlamentares do PSDB evitaram se manifestar sobre a gravação, enquanto outras siglas da base de Temer deram respostas rápidas. O presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP), declarou que, caso o senador não saísse por iniciativa própria, Temer “tinha a obrigação de afastar-lo”. Líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), foi na mesma linha e afirmou que o afastamento de Romero Jucá seria “uma resposta à sociedade brasileira”. A senadora Ana Amélia (PP-RS) avaliou que a situação do ministro era “delicada”. /COLABORARAM JULIA LINDNER e RODRIGO CAVALHEIRO