O Estado de São Paulo, n. 44779, 24/05/2016. Política, A6
Temer é recebido com gritos de 'golpista' na 1ª visita ao Congresso
Igor Gadelha
Isabela Bonfim
Valmar Hupsel Filho
Na sua primeira visita como presidente em exercício ao Congresso Nacional, Michel Temer (PMDB), foi recebido com protestos e gritos de “golpista”. A ida do peemedebista junto com sua equipe econômica, prevista desde a semana passada, tinha por objetivo levar ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o projeto de revisão da meta fiscal.
No entanto, todo o ambiente acabou sendo contaminado pela divulgação, ontem, de uma conversa entre o até então ministro do Planejamento, Romero Jucá (PMDB-RR), e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado. O conteúdo da gravação que veio a público levou Jucá a anunciar sua saída do Ministério de Michel Temer. Nos áudios divulgados, Jucá sugere a Machado um “pacto” para tentar deter o avanço da Operação Lava Jato, que apura esquema de corrupção e desvios na Petrobrás.
O senador peemedebista e o ex-presidente da Transpetro são alvo da operação.
Já antes da chegada do presidente em exercício ao Congresso, os poucos senadores que discursavam pediam o afastamento de Jucá do Planejamento e afirmavam que não havia mais clima para a votação da proposta.
Ainda assim, a confirmação de que Jucá acompanharia Temer acirrou os ânimos.
Renan chegou à Casa por volta das 16 horas, quando estava marcado o encontro com Temer, e já teve uma prévia do clima que aguardava a comitiva do governo interino. Jornalistas, servidores e seguranças se aglomeraram ao seu redor.
Cartazes. Temer chegou meia hora depois. Logo que saiu do carro acompanhado do ministro Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo), o presidente em exercício recebeu gritos de “golpista” de servidores ligados a parlamentares do PT. Já no Salão Azul, próximo ao gabinete de Renan, o coro foi engrossado pelos deputados Paulo Pimenta ( PT-SP), Moema Gramacho (PT-BA) e Helder Salomão (PT-ES), além de outras pessoas.
Cartazes estampavam os dizeres “Jucá= Delcídio – Prisão e Conselho de Ética Já” e “Fora Temer – governo ilegítimo”.
Uma aglomeração de jornalistas se formou em torno de Temer e passou a segui-lo. Jucá seguia logo atrás do fluxo. A comitiva do governo permaneceu por cerca de meia hora na sala da presidência, enquanto do lado de fora o grupo de manifestantes e jornalista aumentava. Temer, Renan, Geddel e Jucá saíram juntos da sala da presidência do Senado, sob novos gritos de “golpistas”. Constrangido, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, também acompanhava o grupo.
Solução. Pouco antes de entrar no carro, o presidente em exercício foi questionado sobre a situação de Jucá e afirmou: “Estou avaliando para poder dar a melhor solução”. Jucá acompanhou o presidente em exercício até o carro e retornou ao Salão Azul do Senado. Ali, anunciou que se afastaria do cargo de ministro do Planejamento.