O Estado de São Paulo, n. 44772, 17/05/2016. Política, p. A8

Maranhão agrada a aliados com ‘missões oficiais’no exterior

Presidente interino da Câmara autoriza viagens internacionais para 17 deputados; a maioria deles é do PP, mesmo partido do parlamentar
Por: Daiene Cardoso

 

Daiene Cardoso / BRASÍLIA

 

Em apenas um dia de despachos, o presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), autorizou viagens de 17 deputados para fora do País. As cinco “missões oficiais” são em eventos na Suíça, Bélgica, Estados Unidos e Portugal, entre maio e junho. Todas as atividades vão gerar custos para a Câmara, mas os valores que serão gastos não foram informados.

O evento com o maior número de representantes da Câmara é a 69.ª Assembleia Mundial da Organização Mundial da Saúde, promovido pela União Interparlamentar, entre os dias 23 e 28 deste mês em Genebra. A lista dos parlamentares autorizados a viajar inclui, em sua maioria, parlamentares do partido de Maranhão: Arthur Lira (PP-AL), Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), Guilherme Mussi (PP-SP) Iracema Portella (PP-PI), Hugo Motta (PMDB-PB), Cláudio Cajado (DEM-BA) e o deputado licenciado Maurício Quintella Lessa (PR-AL), recém-nomeado ministro dos Transportes, mas que ainda não cancelou sua participação. Os deputados Kaio Maniçoba (PMDB-PE) e Marcos Montes (PSD-MG) desistiram da viagem.

Além da viagem a Genebra, Maranhão liberou na quarta-feira passada outras missões oficiais propostas pela Secretaria de Relações Internacionais da Casa. Entre os dias 15 e 16 de junho, os deputados Eduardo Barbosa (PSDB-MG), Gilberto Nascimento (PSC-SP), Victor Mendes (PSD-MA) e Pedro Fernandes (PTB-MA) estarão em Bruxelas visitando o Parlamento europeu.

Maranhão autorizou duas missões oficiais aos Estados Unidos. Para o evento de apenas dois dias da Lide Business Meeting - Brazilian American Chamber of Commerce, em Nova York, o deputado Thiago Peixoto (PSD-GO) representará a Câmara, que vai arcar com as diárias de seis dias. O parlamentar vai aos eventos de hoje, 17, (em homenagem ao ex-presidente do Banco Central, Arminio Fraga) e de amanhã, 18, com os governadores Pedro Taques (PSDB-MT) e Marconi Perillo (PSDB-GO). Nesse evento, a Câmara não pagou a passagem aérea, mas a hospedagem entre os dias 14 e 19. Para a reunião do Banco Mundial, em Washington, sobre a implementação de novas políticas de salvaguarda na condição de trabalho, entre 23 e 24 deste mês, foi liberado o deputado Bebeto (PSB-BA).

Para Lisboa, foram autorizados a cumprir agenda nas reuniões de comissões permanentes da Assembleia Parlamentar Euro-latino-americana, de ontem, 16, até amanhã, 18, os deputados Heráclito Fortes (PSB-PI), Arlindo Chinaglia (PT-SP), Hiran Gonçalves (PP-RR) e Arthur Maia (PPS-BA).

 

Rigor. Nas missões oficiais, a Casa custeia, em geral, a passagem aérea em classe econômica e hospedagem. Segundo deputados, durante a gestão Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente afastado do cargo e do mandato, a liberação de viagens internacionais costumava ser mais criteriosa - o peemedebista fez dessa postura uma bandeira de sua gestão na Casa, assim como um controle mais rigoroso da presença dos parlamentares nas sessões. Um deputado confidenciou já temer que haja abusos na liberação das viagens.

Embora fosse mais duro em liberar o passeio dos pares, Cunha não fez questão de economizar em sua viagem a Israel, territórios palestinos e Rússia, em junho do ano passado. Com uma comitiva de 13 deputados, mulheres e uma “delegação acompanhante”, o peemedebista gastou R$ 395 mil (com pagamento de passagens aéreas, taxas de embarque, diárias para hospedagem e alimentação) em um “tour” de nove dias.

Procurada, a assessoria de imprensa da Presidência da Câmara não se manifestou. O deputado Átila Lins (PSD-AM), responsável pela área de relações internacionais da Casa, não foi localizado.

 

Israel e Rússia

R$ 395 mil é o valor gasto pela Câmara dos Deputados com viagem realizada por Eduardo Cunha, presidente afastado da Casa, de comitiva de 13 deputados, com mulheres, em junho do ano passado durante tour de nove dias para pagamento de passagem, diária e alimentação.

 

PARA LEMBRAR

PP ameaçou expulsá-lo

Sob ameaça de ser expulso de seu partido, o presidente interino da Câmara dos Deputados, Waldir Maranhão (PPMA), recuou no início da semana passada e revogou sua decisão de anular a sessão que definiu o seguimento do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. No mesmo dia, pela manhã, Maranhão havia divulgado decisão que anulava a sessão que aprovou a admissibilidade do impeachment da presidente, realizada na Câmara em 17 de abril. Ele tinha acolhido pedido feito pelo então ministro José Eduardo Cardozo, advogado-geral da União. Como afastamento de Eduardo Cunha do mandato de deputado e da presidência da Câmara, Maranhão assumiu o comando da Casa. Assim como Cunha, o deputado do PP também é investigado pela Operação Lava Jato, após seu nome ser citado por delatores que colaboram com as investigações. Ele tem negado irregularidades. Além da investigação da Lava Jato, o presidente interino da Câmara é alvo de outros dois inquéritos que tramitam no Supremo Tribunal Federal, nos quais é acusado de crimes como lavagem de dinheiro e ocultação de bens, direitos ou valores. O deputado do PP ainda traz no currículo questionamentos na Justiça Eleitoral. Ele teve suas contas de campanha de 2010 para deputado rejeitadas pelo Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão (TRE-MA).