O Estado de São Paulo, n. 44786, 31/05/2016. Política, p. A8

DELATOR DIZ QUE LULA SABIA DO MENSALÃO

Segundo Pedro Corrêa, ex-presidente ‘tinha pleno conhecimento’ de que dinheiro do esquema era ‘propina’ para compra de apoio parlamentar

Por: Ricardo Brandt / Fausto Macedo /Mateus Coutinho

 

Ricardo Brandt

Fausto Macedo

Mateus Coutinho

 

Em delação premiada, o ex-deputado federal Pedro Corrêa (PP-PE) afirmou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva “tinha pleno conhecimento de que o mensalão não era ‘caixa 2’ de eleição”.

Segundo o delator, Lula sabia que os valores pagos no esquema eram “propina arrecadada junto aos órgãos governamentais para que os políticos mantivessem as suas bases eleitorais e continuassem a integrar a base aliada do governo, votando as matérias de interesse do Executivo no Congresso Nacional”.

O trecho é da declaração do ex-deputado, condenado pelo juiz Sérgio Moro na Operação Lava Jato a 20 anos de prisão, é parte do “Anexo 4”da delação de premiada de Corrêa, com o resumo do tema tratado sobre “suposto envolvimento de Lula nos esquemas de corrupção”.

Nele, há um item específico sobre o mensalão– primeiro grande escândalo da era PT no governo federal. Após revelação do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), investigações descobriram que o então ministro da Casa Civil, José Dirceu, comandava a compra de parlamentares em troca de apoio político.

Dirceu e Corrêa foram condenados no mensalão, em 2012, pelo Supremo Tribunal Federal. Os dois foram presos em2013 e acabaram novamente detidos e condenados no caso de corrupção na Petrobrás. Moro aplicou a Dirceu pena de 23 anos de reclusão.

Corrêa relatou as reuniões das quais participava do conselho político criado por Lula.

“Nas quais sempre estavam presentes o presidente Lula, o ministro José Dirceu, o ministro Antônio Palocci e, depois, o ministro Aldo Rebelo e os presidente dos partidos base aliada.” Segundo o delator, que foi presidente do PP, nesses encontros “se discutiam os assuntos que seriam tratados no Congresso e as dificuldades de vários parlamentares dos partidos presentes”. “Muitas dessas dificuldades tratadas estavam umbilicalmente ligadas com o petrolão, (quando) já havia arrecadação dentro das empresas e órgãos públicos, sobre tudo dentro da Petrobrás.”

 

‘Queixas’. O ex-deputado afirmou que, nos encontros com Lula e seus ministro do “Conselhão”, os presidentes ou líderes dos partidos da base aliada “faziam queixas relacionadas às dificuldades que estavam tendo junto aos dirigentes indicados para os cargos federais do governo, os quais não estavam se empenhando em atender às reivindicações dos parlamentares”.

“O presidente Lula encarregava o ministro José Dirceu de fazer as cobranças sobre os dirigentes para que atendessem, com mais presteza, às solicitações dos partidos. Em alguns setores as reivindicações eram de arrecadação de propina e, em outros, de interesses políticos, visando ao favorecimento dos Estados e municípios dos parlamentares”, disse Corrêa, segundo registro de sua delação.

Depois de condenado e preso em 2013 no mensalão, Corrêa cumpria pena em regime semiaberto, em Pernambuco, quando foi detido pela Lava Jato, em abril de 2015. Para o juiz Sérgio Moro, “a prova do recebimento de propina mesmo durante o processamento da Ação Penal 470 (mensalão) reforça os indícios de profissionalismo e habitualidade na prática do crime, recomendando, mais uma vez, a prisão para prevenir risco à ordem pública”.

 

PONTOS-CHAVE

 

Político foi preso de novo na Lava Jato

Compra de apoio

Em 2005, o então deputado do PTB Roberto Jefferson (foto) diz que PT pagava R$ 30 mil  parlamentares para obter votos a favor do governo Lula na Câmara.

 

Condenações

Alvo do mensalão – como o esquema de compra de apoio ficou conhecido –, Pedro Corrêa (foto) também foi preso e condenado na Operação Lava Jato.

 

Delação

Condenado a 20 anos de prisão na Lava Jato, Corrêa fez delação e disse que Lula sabia que mensalão não era caixa 2 de eleição, mas propina.