O Estado de São Paulo, n. 44783, 28/05/2016. Política, p. A5

Renan diz que foi contra reconduzir Janot

Presidente do Senado afirma em gravação de Sérgio Machado que tentou, sem sucesso, barrar readmissão do procurador-geral da República

Por: Mateus Coutinho

 

Em conversa gravada pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), admitiu ter atuado contra a recondução do atual procurador-geral da República ao cargo, aprovada no ano passado pelo Senado.

Renan, que é alvo de pelo menos nove inquéritos no Supremo Tribunal Federal por suspeita de envolvimento no esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato, já havia chamado Janot de mau caráter em outra conversa gravada por Machado.

O cargo de procurador-geral tem mandato de dois anos. A indicação é prerrogativa do presidente da República, mas deve ser aprovada pelo Senado. Indicado pela presidente afastada Dilma Rousseff, Janot foi reconduzido ao cargo em 2015 após conseguir 59 votos a favor contra 12 e uma abstenção no plenário do Senado. Na ocasião, Renan disse que a recondução demonstrava a “isenção” da Casa.

O áudio do diálogo de Renan com Machado foi revelado ontem pelo Jornal Hoje da TV Globo. Na conversa, o ex-presidente da Transpetro inicia o assunto ao afirmar que o Senado não deveria ter aprovado a recondução do procurador-geral da República. “Hoje, eu acho que vocês não poderiam ter reconduzido esse b..., não. Aquele cara ali…”, diz Machado no áudio.

Renan pergunta sobre a quem ele estava se referindo. “ Ter reconduzido o Janot. Tinha que ter comprado uma briga ali”, responde o ex-presidente da Transpetro. Renan, então, afirma que tentou barrar a recondução. “Mas eu estava só”, conclui o presidente do Senado.

 

Delação. Temendo que seu caso fosse enviado para a primeira instância e ficasse nas mãos do juiz federal Sérgio Moro, em Curitiba, o ex-presidente da Transpetro acabou aceitando fazer um acordo de delação premiada, entregar os áudios e contar o que sabe à Procuradoria-Geral da República.

A delação premiada de Machado foi homologada pelo ministro relator da Lava Jato no Supremo Teori Zavascki. A partir de agora Janot pode decidir quais serão os próximos passos das investigações e solicitar a abertura de novos inquéritos.

Não é a primeira vez que políticos investigados na operação criticam o procurador-geral. O ex-presidente e também senador Fernando Collor de Mello (PTC-AL) já lançou vários xingamentos a Janot.

Collor foi denunciado pelo procurador ao Supremo, teve sua mansão revistada pela Polícia Federal e até seus veículos de luxo chegaram a ser apreendidos a pedido de Janot, que acusa o parlamentar de acumular o patrimônio com dinheiro de propina.

“Trata-se de um fascista da pior extração, e cuja linhagem pode ser perfeitamente traduzida nas palavras de Plutarco: ‘Nada revela mais o caráter de um homem do que seu modo de se comportar do que quando detém um poder e uma autoridade sobre os outros. Essas duas prerrogativas despertam toda a paixão e revelam todo o vício’”, afirmou o parlamentar em agosto, dois dias antes de Janot ser sabatinado no Senado.

Procurados por meio de suas assessorias, Renan e Janot não comentaram o caso.

 

DIÁLOGO

MACHADO: Agora uma coisa eu tenho certeza: sobre você não tem nada ainda.

RENAN: Nesse mistério todo, a gente nem sabe por que eles vivem nessa obsessão.

MACHADO: Hoje, eu acho que vocês não poderiam ter reconduzido esse b..., não. Aquele cara ali…

RENAN: Quem?

MACHADO: Ter reconduzido o Janot. Tinha que ter comprado uma briga ali.

RENAN: Eu tentei… Mas eu estava só.

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Ex-presidente afirma que ‘jamais’ cogitou ‘interferir’

Por: Carla Araújo

 

Após a divulgação de conversas gravadas pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, o ex-presidente da República José Sarney (PMDB-AP) divulgou ontem nota afirmando que nunca teve o objetivo de interferir nas investigações da Operação Lava Jato e fez um pedido de desculpas aos advogados que citou como sendo próximos ao ministro Teori Zavascki, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal. “Jamais passou pela minha cabeça interferir ou envolver-me com a Operação Lava Jato, que, de minha parte, até hoje, só tem recebido manifestações de apoio”, disse o ex-presidente.

Em um dos trechos de uma conversa entre Sarney e Machado, no dia 10 de março, o ex-presidente diz que vai conversar com o ex-ministro do Superior Tribunal de Justiça Cesar Asfor Rocha como alguém que teria proximidade com Teori. Em outra gravação, no dia seguinte, o presidente do Senado, Renan Calheiros, em diálogo com Sarney e o ex-dirigente da Transpetro, sugere o advogado Eduardo Ferrão como alguém próximo ao ministro.

“Quero esclarecer que Sérgio Machado gozava de minha absoluta confiança e frequentava assiduamente minha casa. Por ele tinha apreço. Vendo um amigo em momento de desespero, prontifiquei-me a orientá-lo e cheguei mesmo a sugerir nomes que poderiam aceitar participar de sua defesa. Daí minha ressalva de que não desejava contato com seu advogado”, justificou Sarney. De acordo com o ex-presidente, ele não conversou com Asfor Rocha nem com Ferrão sobre a possível influência dos dois em relação a Teori. “Não sabia, aliás, se qualquer dos dois tinha amizade com o Ministro Teori Savascki.”

Asfor Rocha também divulgou nota na qual contesta que tenha sido procurado “em qualquer tempo e por qualquer pessoa” para tentar influenciar o ministro Teori. “O advogado Cesar Asfor Rocha contesta terminantemente que tenha sido procurado, em qualquer tempo e por qualquer pessoa, para tratar dos assuntos aludidos”, diz a nota. O ex-ministro diz tratar-se de “ilações injuriosas”. “Repudia, por fim, as ilações injuriosas precipitadamente extraídas da simples menção a seu nome em conversas de terceiros”, completa.

Em nota divulgada à imprensa, o advogado Eduardo Ferrão nega o contato com os políticos e rechaça a possibilidade de interceder junto ao ministro Teori Zavascki. “Esclareço que em nenhum momento fui procurado por quem quer que seja para tratar do assunto ali mencionado. E mesmo que o fosse, rejeitaria veementemente solicitação de tal natureza”, diz o advogado.

 

Resposta

“Jamais passou pela minha cabeça interferir ou envolver-me com a Lava Jato, que, de minha parte, até hoje, só tem recebido apoio”

José Sarney

EX-PRESIDENTE DA REPÚBLICA

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