O Estado de São Paulo, n. 44776, 21/05/2016. Política, p. A6

OPERAÇÃO MIRA EM NOME LIGADO A LULA

Sobrinho da primeira mulher do ex-presidente é alvo de coercitiva em investigação de tráfico de influência no BNDES em favor da Odebrecht
Por: Adriano Ceolin / Andreza Matais

 

 

Adriano Ceolin
Andreza Matais

 

O empresário Taiguara Rodrigues dos Santos, sobrinho da primeira mulher do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi alvo ontem de condução coercitiva e seus endereços tiveram ações de busca e apreensão na Operação Janus, deflagrada pela Polícia Federal. Ele é suspeito de ser laranja e operador de um esquema de tráfico de influência e exploração de prestígio no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES) para a conquista de financiamento de obras da Odebrecht fora do País no qual o ex-presidente é investigado. Lula não foi alvo da operação.

As empresas de Taiguara teriam recebido “vantagens indevidas” para prestar serviços para a Odebrecht em Angola - há indícios casos similares na República Dominicana e em Cuba. Também foi levado para depor coercitivamente José Emmanuel Camano. Além de funcionário, ele é procurador de uma das empresas de Taiguara. Os endereços dos dois - ambos moram em Santos (SP) - foram alvo de busca e apreensão pela PF.

Taiguara é filho de Jacinto Ribeiro dos Santos, irmão de Maria de Lourdes da Silva, primeira mulher de Lula. A operação foi autorizada pelo juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10.ª Vara da Justiça Federal em Brasília. Essa investigação é oriunda de outra que apura suposto crime de tráfico de influência cometido por Lula no exterior.

“Os elementos trazidos pela autoridade policial revelam que foram executados aparentes negócios jurídicos no exterior por empresas ligadas a Taiguara, pessoa próxima e do convívio familiar do ex-presidente Lula, contratadas por empresas do grupo Odebrecht para prestação de diversos serviços técnicos especializados - como sondagens, perfurações, serviços de topografia, elaboração de projetos e consultoria - sem experiência anterior e sem a demonstração inequívoca de capacidade técnica, o que indica a ocorrência de irregularidades e dissimulação de valores de origem ilícita”, afirma o juiz em seu despacho.

Ainda de acordo com as investigações, Taiguara e Emmanuel teriam criado “empresas-fantasmas”. Uma delas, a Exergia Brasil Ltda., teria recebido R$ 3,5 milhões da construtora baiana. O repasse teria sido feito após o BNDES autorizar um financiamento de uma hidrelétrica em Angola. Os investigadores ressaltam ainda que os dois tiveram “uma evolução patrimonial desproporcional” nos últimos anos. Por isso, o juiz autorizou a quebra do sigilo financeiro de Taiguara e Emmanuel.

“Estudos dos dados fornecidos pelo BNDES permitiram verificar que os financiamentos do Banco da República Dominicana aumentaram consideravelmente nos anos 2013, 2014, 2015, quando comparados com anos anteriores. Do total de financiamentos do BNDES ao país, calculados de 2002 a 2014, 57% da quantia liberada ocorreu nos anos de 2013 a 2015. Houve, portanto, substancial aumento da atuação do BNDES na República Dominicana após a visita de Lula ao país”, compararam os investigadores.

 

Lava Jato. Na peça que embasou a Operação Janus, o juiz fez referência aos dados levantados pela Lava Jato, mas sustentou diferenças com o caso de Taiguara. As declarações do senador cassado Delcídio Amaral (Ex-PT-MS) prestadas em acordo de delação premiada, por exemplo, com o Ministério Público ajudaram a subsidiar a Janus. “Essa interferência explícita do governo e de Luiz Inácio Lula da Silva nas decisões do BNDES transparece em trechos da delação premiada do ainda senador Delcídio Amaral recentemente publicadas pela mídia”, afirmaram. “O senador reforça suspeitas sobre a utilização política do BNDES em prol do PT.”

 

Contrato

US$ 1,8 mi é o valor aproximado recebido pela empresa Exergia Brasil, segundo seu proprietário, Taiguara Rodrigues dos Santos, por serviços prestados à Odebrecht em obra em Angola.