O Estado de São Paulo, n. 44781, 26/05/2016. Política, A9

Jucá ocupa a mesa, é xingado e xinga

Valmar Hupsel Filho

Ainda que na véspera tenha sido obrigado a deixar o governo, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) foi um de seus principais articuladores na aprovação da alteração da meta fiscal durante a sessão que varou a madrugada e terminou nas primeiras horas de ontem.

Sua presença na Mesa Diretora do Congresso foi alvo de protestos de parlamentares de oposição ao governo interino, a quem Jucá, em alguns momentos, respondeu com xingamentos de “babaca” em voz baixa e, em outros, com sorrisos irônicos.

“Babacas foi a palavra lida em seus lábios em muitos momentos. Babaca é o povo brasileiro, que vai ouvir calado a sua confissão de culpa? Não!”, disse a deputada Alice Portugal (PC do B-BA) em discurso.

Era madrugada quando a deputada Maria do Rosário (PT-RS) chegou a apontar o dedo na cara de Jucá. “Ele veio dar pitaco na conversa. Respondi que ele não tem direito de estar ali e que sua presença estava constrangendo o Parlamento”. Segundo a deputada, Jucá não teria garantida vaga na Mesa. “Ele está ali não é para orientar os parlamentares. Ele está ali é para dizer que a Justiça não o atinge”, disse ela.

Outro momento de tensão foi quando a deputada Jandira Feghali (PC do B-RJ) afirmou que a presença do senador peemedebista incomodava os parlamentares. “Incomoda muitos de nós que ele se sente à Mesa como se mantivesse autoridade e ainda fique fazendo gozação com a intervenção de parlamentares na tribuna, sorrindo.”

Apoio. Renan Calheiros (PMDB-AL) saiu em defesa do correligionário. Segundo o presidente do Congresso, Jandira não falou com a mesma veemência “no caso de Aloizio Mercadante”, referindo-se ao áudio em que o ex-ministro foi flagrado oferecendo apoio jurídico para que o ex-senador Delcídio Amaral não fizesse delação.

Jucá subiu à tribuna por volta das 3 horas. Ele iniciou o discurso dizendo que a “herança maldita” recebida pelo presidente em exercício Michel Temer é a oposição, “é ter que aguentar vocês”.