Correio braziliense, n. 19356, 24/05/2016. Política, p. 3

Machado fecha delação

CRISE NA REPÚBLICA » Acordo firmado entre o ex-presidente da Transpetro e a PGR depende apenas da homologação do ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato
Por: EDUARDO MILITÃO

EDUARDO MILITÃO

 

Pivô da queda do ministro do Planejamento, Romero Jucá, o ex-presidente da Petrobras Transporte S.A. (Transpetro) e ex-senador pelo PMDB Sérgio Machado fechou um acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR). Falta apenas a homologação por parte do relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Teori Zavascki.

Pelas regras da colaboração premiada, é preciso que a Justiça aceite os termos dos acordos, que envolvem a confissão de crimes, o pagamento de multas e indenizações pelos valores desviados, e entregue informações e documentos sobre a participação de outros criminosos no esquema. Há informações também de que Machado gravou reuniões com o ex-presidente da República José Sarney (PMDB) e o Presidente do SenadoRenan Calheiros (PMDB-AL), para reforçar seu acordo com o Ministério Público. Ontem, a defesa de Sérgio Machado disse ao Correio que não comentaria o assunto.

As conversas com o ministro do Planejamento foram gravadas por Machado na casa do ministro em março, antes de a presidente Dilma Rousseff ser afastada do cargo no processo de impeachment. No diálogo, Jucá diz ao ex-presidente da Transpetro que só num outro governo poderia haver um “pacto” para “estancar a sangria” da Operação Lava-Jato. “Você tem que ver com seu advogado como é que a gente pode ajudar”, disse o ministro, de acordo com os áudios publicados pela Folha de S.Paulo. “Tem que ser política, advogado não encontra... Se é político, como é a política? Tem que resolver essa porra... Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria.”

Machado diz que é preciso “botar o Michel num grande acordo nacional”. Jucá completa: “Com o Supremo, com tudo”. E Machado avalia: “Com tudo, aí parava tudo”. Jucá então confirma a avaliação: “É. Delimitava onde está, pronto”. No entanto, em entrevista coletiva, o ministro disse que queria falar de “pacto” no sentido econômico. E disse que pensava em acelerar investigações para não paralisar o país. “Nunca cometi e nunca cometerei nenhum tipo de ação que possa paralisar ou obstaculizar qualquer operação, seja a Operação Lava-Jato, seja qualquer outra”, garantiu Jucá. Ontem, o advogado do ministro, Antônio Carlos de Almeida Castro, pediu à PGR cópia dos áudios e questionou se foi aberta uma apuração diante da divulgação dos fatos.

 

Petrolão

Na conversa, Machado diz que os investigadores “querem pegar todos os políticos”. Jucá concorda e o ex-senador questiona se “caiu a ficha” do PSDB sobre isso. O ministro confirma e cita os senadores tucanos. “Caiu. Todos eles. Aloysio (Nunes), (José) Serra, Aécio (Neves).” O ministro confirma o nome de Tasso Jereissati na lista e lembra: “Todo mundo na bandeja para ser comido”. E Machado destaca: “O primeiro a ser comido vai ser o Aécio”. Ele é alvo de dois inquéritos da PGR. Em nota, o PSDB garantiu que “não existe nos diálogos nenhuma acusação” ao partido, a Aécio e aos demais senadores citados.

No Paraná, Sérgio Machado não responde a nenhum procedimento criminal público, mas pode existir investigações sigilosas. No STF, a Procuradoria-Geral da República pediu a inclusão dele como investigado no Inquérito nº 3.989, que apura como um megaesquema de corrupção desviou recursos da Petrobras por meio de empreiteiras, altos dirigentes da estatal e operadores em benefício de políticos e partidos. O ex-presidente da Transpetro é considerado uma das peças do esquema.