Correio braziliense, n. 19356, 24/05/2016. Política, p. 6

LAVA-JATO PRENDE EX-TESOUREIRO DO PP

CRISE NA REPÚBLICA » Polícia Federal afirma que há provas de que João Cláudio Genu obteve R$ 2 milhões em propina. A investigação aponta que ele continuou agindo criminosamente mesmo após o mensalão
Por: EDUARDO MILITÃO

 

 
EDUARDO MILITÃO

 

 

A Polícia Federal (PF) prendeu preventivamente, na manhã de ontem, o ex-tesoureiro do PP e ex-assessor do falecido deputado José Janene (PP-RR), João Cláudio Genu, na 29ª fase da Operação Lava-Jato. Os policiais cumpriram mandados em Brasília, Rio de Janeiro e Recife. A ação foi denominada de “Repescagem”. Genu foi preso em Brasília quando acompanhava uma pessoa num hospital da cidade.

A PF cumpriu um mandado de prisão preventiva, dois de prisão temporária, por cinco dias — Lucas Amorim e Humberto do Amaral — , e seis de busca e apreensão. Os policiais executaram determinações do juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba, Sérgio Fernando Moro.

De acordo com a investigação, Genu continuou a agir criminosamente mesmo depois do mensalão. “Surgiram, porém, elementos probatórios que apontam a sua participação também no esquema criminoso que vitimou a Petrobras, motivo pelo qual passou a ser investigado novamente na Operação Lava-Jato”, informou a corporação. “As investigações apontam que ele continuou recebendo repasses mensais de propinas, mesmo durante o julgamento do mensalão e após ter sido condenado, repasses que ocorreram pelo menos até o ano de 2013”, atestaram os investigadores.

A investigação apura crimes de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, corrupção passiva e ativa em relação a valores desviados do esquema na Petrobras. Genu foi denunciado com Janene no mensalão. Ele foi acusado de sacar R$ 1,1 milhão em espécie de valores considerados propinas das contas da agência SMP&B, de Marcos Valério Fernandes Souza, condenado no caso e réu na Lava-Jato. Janene morreu antes do julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF). Genu foi condenado por corrupção e lavagem, mas o primeiro crime prescreveu e, em recursos posteriores, ele foi absolvido da segunda imputação.

O nome da 29ª fase é uma referência ao fato de o ex-assessor de Janene já ter sido processado no mensalão e agora ser alvo da Lava-Jato.

 

Propinas

O delegado da Polícia Federal Luciano Flores de Lima afirmou ontem que empresas ligadas a João Cláudio Genu receberam mais de R$ 7 milhões “sem demonstração da origem lícita”. O investigador da Operação Lava-Jato disse que, comprovadamente, já se sabe que Genu ficou com R$ 2 milhões de propinas para si. Os valores foram pagos entre 2005 e 2013.

Após a prisão, Genu foi levado para sua residência. Lá, acompanhou os policiais, que realizaram buscas, até ser conduzido para a carceragem da PF em Brasília. Genu deve ser levado para a PF em Curitiba. O juiz Sérgio Moro ordenou também a detenção temporária, por cincos dias, de Lucas Alves Amorim, apontado como sócio de Genu, e do empresário Humberto do Amaral Carrilho, que está no exterior e é considerado foragido.

Flores informou que Lucas Amorim é sócio de Genu em várias empresas “sobre as quais há indícios de que servem para lavar dinheiro desde a época do mensalão até a Lava-Jato”. Segundo ele, são firmas de construção civil no Distrito Federal. “Mostramos que mais de R$ 7 milhões entraram nas contas dessas empresas, inclusive em nome da esposa de Genu, Claudia, e do cunhado dele, Antonio Gontijo”, disse o policial durante entrevista coletiva, na manhã de ontem, em Curitiba. “Mais de R$ 7 milhões entraram sem demonstração da origem lícita desse dinheiro.” O delegado detalhou que se trata de depósitos e transferências bancárias.

Ele, no entanto, ressaltou que Genu recebia valores em espécie do esquema de desvios da Petrobras, às vezes de Alberto Youssef, às vezes de empregados do doleiro Carlos Habib Chater, dono do Posto da Torre em Brasília, já condenado na Lava-Jato. O delegado contou que há até recibos assinados para comprovar informações prestadas por delatores, como o lobista Fernando Baiano e o doleiro Yousseff. Até o fechamento desta edição, o Correio não havia conseguido localizar os advogados dos alvos da Repescagem.