Correio braziliense, n. 19353, 21/05/2016. Política, p. 3

STF quebra sigilos de Jucá

CRISE NA REPÚBLICA - Outros três líderes do PMDB— Renan Calheiros, Valdir Raupp e Jader Barbalho— também são alvo do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, por supostas propinas em Belo Monte

 

O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou ontem a quebra dos sigilos bancário e fiscal do ministro do Planejamento Romero Jucá (PMDB-RR). Ele é investigado por assinar emendas parlamentares no Senado para transferir recursos federais para obras no município de Cantá, em Roraima. Em troca, o então senador teria recebido parte das verbas provenientes de licitações superfaturadas organizadas pelo prefeito.

Além de Jucá, oito empresas com suposto envolvimento no esquema também tiveram o sigilo quebrado e deverão fornecer informações sobre todas as transações realizadas no período. Marco Aurélio acatou um pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR). Em nota, o ministro Jucá informou que já colocou à disposição da Justiça todas as informações pertinentes ao processo.

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF) pedido para investigar quatro integrantes da cúpula do PMDB por envolvimento em um esquema de corrupção na construção da usina de Belo Monte. São alvos de Janot o ministro Romero Jucá; o Presidente do SenadoRenan Calheiros (AL); e os senadores Valdir Raupp (SC) e Jader Barbalho (PA).

Janot pede que os quatro sejam incluídos no mesmo inquérito já aberto no STF que investiga o senador Edison Lobão (PMDB-MA) por suposto recebimento de propina paga pelas empreiteiras responsáveis pela construção da usina na época em que ele era ministro de Minas e Energia. O processo tramita em sigilo e seu relator é o ministro Edson Fachin.

A inclusão dos quatro novos investigados tem como base duas delações premiadas obtidas na Lava-Jato: a do ex-diretor de energia da Camargo Corrêa Luiz Carlos Martins e a do senador cassado Delcídio do Amaral (sem partido-MS). Ambos descreveram ao Ministério Público um esquema de desvio de dinheiro dos contratos para a construção de Belo Monte que servia para financiar campanhas eleitorais de diversos candidatos, inclusive da presidente da República afastada, Dilma Rousseff.

Renan Calheiros reagiu com uma nota. “Todas as imputações envolvendo o senador Renan Calheiros(PMDB-AL) são por ouvir dizer ou fruto de interpretações subjetivas. O delírio do ex-senador Delcídio do Amaral, por exemplo, é por ‘fazer parte do time do Sarney’”, diz a nota.

Romero Jucá também rebateu as acusações. Em nota, a assessoria do ministro informou que todos os recursos para campanhas em Roraima foram recebidos oficialmente e integram as prestações de conta aprovadas pela Justiça Eleitoral.

A assessoria de Raupp informou que “o senador jamais fez indicações políticas para o setor  e que as acusações são descabidas e inverídicas”.

O advogado do senador Edison Lobão, Antônio Carlos de Almeida Castro, disse que já fez o pedido de arquivamento do inquérito, já que, segundo ele, ninguém disse que deu dinheiro ao senador.

Jader Barbalho disse que a única declaração de Delcídio sobre ele é que Barbalho é um senador influente. Em relação a Belo Monte, Barbalho disse que não tem relação com nenhuma empresa.

Sobre a informação de que os recursos teriam financiado a campanha de Dilma, o coordenador jurídico da campanha  da presidente afastada e do presidente interino Michel Temer, Flávio Caetano, divulgou nota na qual repudia as declarações do ex-senador.