Correio braziliense, n. 19354, 22/05/2016. Política, p. 5

CULTURA VOLTA A SER MINISTÉRIO

CRISE NA REPÚBLLICA - Série de ocupações de prédios ligados à pasta e protestos de artistas e intelectuais levam governo a rever decisão. Alteração se dará por medida provisória
Por: NAIRA TRINDADE

NAIRA TRINDADE

 

Após uma semana de polêmica por ter extinto o Ministério da Cultura, reduzindo-o a uma secretaria vinculada ao Ministério da Educação, o presidente em exercício, Michel Temer, voltou atrás e recriou a pasta. O ministro da Educação, Mendonça Filho, avisou, por meio de uma rede social, que o órgão será recriado na segunda-feira por uma medida provisória enviada ao Congresso Nacional, e a posse do secretário Marcelo Calero como ministro será na terça-feira. A medida, porém, não dispersou as ocupações a prédios vinculados ao Ministério da Cultura, que devem permanecer.

“O compromisso do presidente com a Cultura é pleno. A decisão de recriar o MinC é um gesto no sentido de serenar os ânimos e focar no objetivo maior: a cultura brasileira. O presidente Temer confirmou o diplomata Marcelo Calero como o novo ministro da Cultura. Com Marcelo Calero, vamos trabalhar em parceria para potencializar os projetos e ações entre os ministérios da Educação e da Cultura”, escreveu Mendonça no Twitter.

Calero, que era secretário de Cultura da Prefeitura do Rio, foi pelo menos a sexta opção de Temer. Antes dele, cinco mulheres foram convidadas e recusaram o cargo.

O agora ministro divulgou nota no fim da tarde de ontem. Calero avalia que a recriação do ministério “reforça o compromisso do presidente Michel Temer com a área”. Calero afirma, ainda, que “é tempo de diálogo e de muito trabalho”.

Há uma semana, o presidente em exercício tenta conter os desgastes provocados pela extinção da pasta. Na sexta, o Diário Oficial da União publicou medida que dava status de natureza especial ao secretário. Nada adiantou. Em todo o país, manifestantes mantinham, até a noite de ontem, pelo menos 18 ocupações de prédio públicos.

Bastaram três dias para que Michel Temer fosse convencido a recuar da decisão de extinguir o ministério. Até mesmo aliados do peemedebista criticaram a decisão dele. “Agora, toda insatisfação será motivo para manifestações, porque sabem que o presidente não aguenta pressão”, criticou um aliado.

Em São Paulo, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, rebateu não ter havido “qualquer alteração” na Cultura. Para o ministro do Planejamento, Romero Jucá, a decisão significa “avançar, já que havia um pleito bastante amplo”.

O deputado federal Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), irmão do ministro de Goveno, Geddel Vieira Lima, considerou a postura de Temer uma “sintonia fina”. “É um governo em formação, em andamento. É como trocar pneu com o carro andando. Não houve transição. Não é um recuo, é um ajuste. É sintonia fina”, argumentou.

A rápida mudança de opinião, porém, acabou encarada como uma “demonstração de fragilidade e fraqueza” do presidente em exercício. O ator José de Abreu comemorou no Twitter: “Ganhamos a primeira batalha. O adversário demonstra fraqueza. Vamos continuar a guerra até a vitória final”, escreveu. O roteirista Paulo Halm também opinou nas redes sociais. “Nossa pressão funcionou. Temer golpista recuou e vai recriar o MinC. Agora é pressão diária para derrubar o traidor!”A atriz Fernanda Torres afirmou ao O Globo ter sido um gesto simbólico: “Ele não tinha ideia dessa reação e de que esse flanco seria aberto”, disse. “Era um gesto simbólico, cortar ministério. Ele não achava que o fim do ministério tivesse a capacidade de mobilizar a opinião”.

 

Frase

"O compromisso do presidente com a Cultura é pleno. A decisão de recriar o MinC é um gesto no sentido de serenar os ânimos e focar no objetivo maior: a cultura brasileira”

Mendonça Filho, ministro da Educação