Correio braziliense, n. 19355, 23/05/2016. Política, p. 3

UM DOMINGO DE PROTESTOS

CRISE NA REPÚBLICA » Recriação do MinC não foi capaz de evitar manifestações contra o presidente interino. Sem-teto acampam na rua de Temer em SP

 

Pelo menos três capitais — Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo — tiveram manifestações ontem contra o governo Temer. Na capital paulista, estava programada passeata até a casa do presidente interino, mas os manifestantes foram proibidos de ultrapassar barreira policial montada nas imediações da residência. Um grupo montou acampamento em frente à barreira. Para evitar o ato, Temer deixou a casa, no bairro de Pinheiros, no começo da tarde, voando para Brasília.

O recuo do governo provisório na extinção do Ministério da Cultura (MinC), como “gesto de reconciliação”, não foi suficiente para evitar os protestos ou para terminar com as ocupações de prédios, que atingem 21 estados. Os manifestantes, agora, prometem “180 dias de ocupação”, em alusão ao tempo de afastamento da presidente Dilma Rousseff.

O novo ministro da Cultura, Marcelo Calero, deve tomar posse amanhã pela manhã, em solenidade no Palácio do Planalto. No sábado, ele prometeu “muito trabalho” e o compromisso de “fazer um bom diálogo com todos os fazedores de cultura”. No mesmo dia, o ministro da Educação, Mendonça Filho (DEM-PE), reconheceu que a pressão dos artistas influenciou para a recriação do MinC. Ele afirmou que “a pressão legítima de atores que promovem e fazem a cultura no Brasil faz parte do processo democrático”.

 

Cortes

O grupo que pretendia protestar em frente à casa do vice-presidente reuniu cerca de 3 mil manifestantes. Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), disse que os movimentos não vão permitir cortes de recursos dos programas. “Quem lutou para ter a sua casa própria não vai permitir nenhum retrocesso”, afirmou.

No Rio de Janeiro, a passeata partiu da praça em frente à igreja da Candelária e percorreu cerca de 1,2 quilômetro até o Palácio Gustavo Capanema, sede do MinC no Rio, que está ocupado. O protesto, intitulado “Temer, jamais: resistir nas ruas por direitos”, foi convocado pelas redes sociais. Até o início da manhã, 9,5 mil pessoas haviam confirmado presença.

No sábado, após o anúncio de que o governo havia recuado da decisão de extinguir o MinC, os participantes da ocupação decidiram manter o movimento, agora contra o processo de impeachment de Dilma Rousseff.

Em Brasília, um grupo de manifestantes fez um ato contra o impeachment e a barreira instalada perto do Palácio do Jaburu, que exigiria a identificação de todas as pessoas que visitam o Palácio da Alvorada. A denúncia foi feita pelo senador Jorge Viana (PT-AC) na quinta-feira. Segundo ele, antes de seguir para a residência oficial da presidente afastada, Dilma Rousseff, os visitantes são obrigados a se identificar e esperar por uma autorização do Palácio do Jaburu.

“Quem visita a presidente tem que passar por uma barreira instalada antes do Palácio do Jaburu, com uma grade e um militar fortemente armado. E não importa a função que você ocupe. Isso significa que a presidente eleita está sitiada?”, questionou Viana na tribuna do Senado.

 

Rio Grande do Sul

No Rio Grande do Sul, manifestantes que ocupam a sede do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em Porto Alegre pretendem ter agenda de protestos em conjunto com estudantes secundaristas — que ocupam cerca de 150 escolas estaduais — e com professores do estado, que estão em greve há uma semana.

Os estudantes protestam contra a falta de infraestrutura nas escolas e problemas na merenda. Em dezenas de escolas, a falta de ingredientes e de merendeiros levou à suspensão do serviço. Também faltam professores e material didático. Para enfrentar a crise, o governador Ivo Sartori propôs parceria com fundações privadas na administração de escolas.

Os professores em greve reivindicam o cumprimento do piso nacional dos docentes, reclamam de defasagem nos salários e exigem reajuste de 13% retroativo a 2015 e de 11% sobre os salários de 2016, além de melhoria na infraestrutura das escolas. Desde o ano passado, o governador Ivo Sartori (PMDB) vem parcelando e atrasando os salários dos funcionários públicos.