Correio braziliense, n. 19362, 30/05/2016. Política, p. 3

Mais um passo contra Cunha

Relator do processo de cassação do presidente afastado da Câmara, Marcos Rogério entrega amanhã o texto ao Conselho de Ética. Votação deve ficar só para a próxima semana

Por: João Valadares

 

Após mais de seis meses de manobras protelatórias, ameaças, modificação de membros e pressão nos integrantes do colegiado, o relator do caso Eduardo Cunha (PMDB-RJ) no Conselho de Ética da Câmara, Marcos Rogério (PDT-RO), vai entregar amanhã, às 11h, o relatório pedindo a cassação do mandato do parlamentar. A expectativa é de que o presidente do colegiado marque sessão para leitura do relatório apenas na quinta-feira.

Como deve existir pedido de vista, o conselho só pode voltar a debater o documento após um prazo de dois dias. O mais provável é que a votação do pedido de cassação do mandato do parlamentar só ocorra em 9 de junho, uma quinta-feira. A assessoria de imprensa do presidente do colegiado, José Carlos Araújo (PR-BA), informou que, se o relatório for aprovado, vai para a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) da Câmara. Como já passou o prazo de 90 dias úteis para a conclusão do processo, o relatório terá caráter de medida provisória e projeto de urgência e pode ser pautado para ir ao plenário da Câmara imediatamente. O prazo legal de conclusão se encerrou em 25 de abril.

O peemedebista é acusado de ter mentido ao dizer que não tinha contas secretas no exterior durante depoimento espontâneo à CPI da Petrobras na Câmara, em 2015. Investigações da Operação Lava-Jato, no entanto, mostraram que o peemedebista possui contas na Suíça que foram supostamente abastecidas por recursos desviados da estatal. A defesa de Cunha atesta que ele não mentiu. Os advogados salientam que o peemedebista não tem contas no exterior em seu nome, mas, sim, offshores. Eles insistem que os valores que o presidente da Câmara tem na Suíça foram transferidos para trustes no passado e que elas são investimentos, não contas.

Aliado de Cunha, o presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), deu uma mãozinha ao presidente afastado e limitou o escopo das investigações no colegiado. Ele determinou que os integrantes foquem apenas sobre a suspeita de que o peemedebista teria contas bancárias secretas no exterior e de que teria mentido.

Na edição de ontem do jornal O Globo, Maranhão foi acusado de mentir para a Justiça Eleitoral em processo que investiga as contas da campanha dele em 2010. De acordo com a publicação, Maranhão teria dito que usou dinheiro da venda de uma casa para fazer a doação para si mesmo, mas o imóvel continua no nome do parlamentar e da mulher dele.

 

 

Troca de ofensas

Na tarde de ontem, Eduardo Cunha utilizou a conta oficial no Twitter para criticar Dilma Rousseff após divulgação de entrevista dela no jornal Folha de S.Paulo. Na primeira postagem, o peemedebista ataca a maneira de governar de Dilma. “Além da arrogância e das mentiras habituais, ela demonstra a sua incapacidade e despreparo para governar.” Em seguida, em nova investida, Cunha afirma que a presidente afastada cometeu crime. “Além do crime de responsabilidade cometido, que motivou o seu afastamento, as suas palavras mostram o mal que ela fez ao país”, afirmou.

Ele ainda postou frases chamando a petista de mentirosa. “Dilma mente tanto que já estamos aprendendo a identificar quando ela mente. Basta mover os lábios.” Em outra postagem, ele faz referência ao ex-presidente Lula. “Se até o Lula se arrependeu de ter a escolhido, imaginem aqueles que ela fez de idiota, mentindo na eleição.” Para finalizar os ataques, o peemedebista utilizou um tom irônico: “Para ela, apenas uma frase: tchau, querida.”

A petista afirmou, na entrevista, respondendo sobre uma tentativa de negociação com Cunha, que “jamais eu deixaria que ele indicasse o meu ministro da Justiça, numa referência a Alexandre de Moraes, que comanda a pasta no governo Temer e foi advogado do político carioca. Ela disse ainda que Cunha é figura central no governo interino. “Isso ficou claríssimo agora, com a indicação de André Moura (deputado ligado a Cunha e líder do governo Temer na Câmara). Cunha não só manda: ele é o governo Temer. E não há governo possível nos termos do Eduardo Cunha.”

 

25 de abril

Data máxima em que o processo de Cunha deveria ter sido concluído

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