Correio braziliense, n. 19346, 14/05/2016. Política, p. 2

Hora de fazer um afago no Congresso

Em reunião no Planalto, Temer pede para os ministros darem uma atenção especial a deputados e senadores, inclusive os da oposição. O presidente em exercício avalia que precisará de apoio parlamentar para aprovar as medidas necessárias

Por: Paulo de Tarso Lyra

 

Na primeira reunião ministerial que conduziu, o presidente em exercício, Michel Temer, cobrou da equipe um relacionamento mais intenso, efetivo e transparente com o Congresso. Temer sabe que precisa do parlamento para aprovar as medidas necessárias para que o país supere os momentos de turbulência. Para isso, todos os integrantes do primeiro escalão deverão abrir espaço na agenda para atender deputados e senadores, inclusive os da oposição.

O formato do atendimento não foi definido e ficará a critério de cada ministro. Alguns levantaram a possibilidade de reservar a parte da manhã para conversas com os parlamentares. Temer sugeriu que eles também fossem ao Congresso, conversar e negociar diretamente com as bancadas, ou em conversas individuais nas lideranças do governo na Câmara, no Senado e no Congresso.

O presidente em exercício também foi explícito ao ordenar que as demandas dos parlamentares não fossem apenas ouvidas, mas atendidas o mais rapidamente possível. “O presidente tem a exata noção de que um dos principais problemas do governo anterior foi a péssima relação com o Congresso”, lembrou um aliado direto do presidente em exercício.

Para estreitar ainda mais as relações com o Congresso, Temer pretende ir pessoalmente ao parlamento, se possível já na próxima semana, apresentar as linhas gerais da gestão. A primeira prioridade será a mudança na meta de superavit fiscal, o que precisa ser feito até o fim da próxima semana.

O peemedebista também reforçará o que disse no primeiro discurso proferido após a posse, na qual defendeu a necessidade de um governo de salvação nacional, com o apoio e a participação de todos. “Queremos uma base parlamentar sólida, que nos permita conversar com a classe política e também com a sociedade. É preciso governabilidade. E governabilidade exige aprovação popular ao próprio governo. A classe política unida ao povo conduzirá ao crescimento do país”, afirmou Temer, durante o discurso proferido na última quinta-feira.

Para o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), a disposição do atual governo de reabrir o diálogo é fundamental. “Inclusive com os parlamentares da oposição. É bom lembrar que o governo Dilma começou a perder sustentação no Congresso quando ela decidiu demitir Romero Jucá (PMDB, líder do governo no Senado) e Cândido Vaccarezza (PT, líder do governo na Câmara). Ambos tinham ascendência na base e diálogo com a oposição”, lembrou Lúcio.

Esse cuidado no debate político também foi destacado pelo presidente em outro ponto. Ele foi explícito ao proibir que os retratos da presidente afastada Dilma Rousseff fossem retirados das paredes dos gabinetes ministeriais. “Isso tem de ser feito por uma questão de respeito institucional. A presidente Dilma ainda é uma presidente afastada e merece, por isso, todo nosso respeito”, afirmou Temer, segundo relato de alguns dos presentes à reunião ministerial de ontem.

 

Fotografias

A bronca surtiu efeito. Segundo apurou o Correio, um dos ministros, ao término da reunião no Palácio do Planalto, dirigiu-se à sua pasta para uma reunião com a nova equipe quando viu que a foto de Dilma havia sido retirada da parede. “Coloque essa foto de novo no lugar, rápido. São ordens do presidente Temer”, exigiu o ministro.

Para aliados de Temer, ao cobrar esse respeito dos ministros em relação a Dilma, é um contraponto às atitudes dos petistas, que constantemente acusam o próprio peemedebista de golpista e usurpador. Temer, na reunião ministerial, repetiu o argumento que disseram no discurso de quinta-feira. “Quero declarar meu absoluto respeito institucional à senhora presidente Dilma Rousseff. Não discuto aqui as razões pelas quais ela foi afastada. Quero apenas sublinhar a importância do respeito às instituições e a observância à liturgia no trato das questões institucionais”, destacou.

Temer também pediu aos seus auxiliares que não fulanizem as críticas à gestão anterior. Isso não significa que não serão realizadas auditorias para descobrir possíveis desvios, fraudes ou desperdícios nas ações feitas nos governos petistas. Como adiantou a coluna Brasília-DF de ontem, uma das primeiras áreas que será auditada é o Minha Casa Minha Vida, conduzido pelo Ministério das Cidades. “Há denúncias de fraudes. Portanto, precisamos saber qual o volume em relação ao que foi entregue”, disse o ministro das Cidades, Bruno Araújo. Temer ordenou um inventário das ações, inclusive dos programas sociais. “Infelizmente, temos cadastros e beneficiados que não se falam. Precisamos ter cuidados para evitar fraudes e desperdícios”, disse o ministro do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, Romero Jucá.

 

Frase

“Infelizmente, temos cadastros e beneficiados que não se falam. Precisamos ter cuidados para evitar fraudes e desperdícios”

Romero Jucá, }ministro do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão

 

Posto fechado

Trabalhar não bastou para vencer a crise. O posto de gasolina onde está a placa rústica com a frase “não fale em crise, trabalhe”, que inspirou o presidente em exercício, Michel Temer, em seu discurso de posse na quinta-feira, fechou. O lugar no quilômetro 68 da rodovia, em Mairinque, no sentido interior de São Paulo, começou a perder, nos anos 1990, a clientela. O posto fica a meio caminho entre a capital paulista e a cidade de Tietê, terra natal de Michel Temer. Algumas pessoas que trabalham ali disseram que a placa foi colocada pelos donos de uma loja de móveis rústicos existente no bairro Catarina. Outros garantem que foram os donos do posto Doninha, há cinco ou seis anos, antes da desativação.

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Falta de mulheres na conta dos aliados

 

A ausência de mulheres no primeiro escalão do novo governo é, em parte, responsabilidade dos partidos políticos, afirmou ontem o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha. Ele também sugeriu que isso foi uma consequência da falta de tempo para a escolha dos nomes.

“Nós tivemos essa composição a partir das sugestões que os partidos fizeram. Nós, a parte que organizou, e o governo anterior, a gente soube que terminaria ontem (quinta) pela manhã, tivemos espaço reduzido. Nós tentamos de várias formas, na parte que dizia respeito à disponibilidade, em várias funções, tentamos encontrar mulheres”, afirmou Padilha, em entrevista após a primeira reunião do presidente em exercício, Michel Temer, com a equipe.

Padilha admitiu, porém, que essa será uma preocupação para novas nomeações no governo. “Não tivemos até agora possibilidade de indicar mulheres, mas o núcleo de montagem vai incrementar mais a solicitação de que partidos tragam mulheres para esses postos que terão importância similar”, completou o ministro.

Ele também citou, como compensação, o fato de que, embora o novo governo não conte com ministras, tem mulheres em funções importantes. “Há uma função que é da maior importância, que é a chefe de gabinete do presidente da República, que é uma mulher. As secretarias, que retiraram status de ministério, e que continuam as mesmas atribuições, vamos indicar mulheres”, disse.