Correio braziliense, n. 19336, 04/05/2016. Política, p. 4

Gim é indiciado por corrupção

Ex-senador pelo Distrito Federal é acusado de receber mais de R$ 5 milhões de empreiteiros para evitar a convocação deles na CPI da Petrobras

Por: Guilherme Waltenberg

 

A Polícia Federal indiciou ontem o ex-senador Gim Argello (PTB-DF) por corrupção passiva. Gim foi preso como parte da Operação Vitória de Pirro, a 28ª fase da Lava-Jato, que foi deflagrada em 12 de abril. Argello é acusado de exigir propinas em dinheiro vivo de empreiteiros para livrá-los de convocação na CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) da Petrobras.

Gim foi preso no mês passado sob acusação de arrecadar dinheiro para campanhas eleitorais no Distrito Federal chantageando empreiteiros a fim de que eles não fossem convocados a prestar depoimento em CPIs da Petrobras em 2014. A investigação mostra que o ex-senador recebeu R$ 5,35 milhões em 2014, sendo R$ 5 milhões da UTC Engenharia e R$ 350 mil da OAS, ambas supostamente beneficiadas pela suposta ação de Argello durante a comissão.

Na manhã de ontem, perto das 10h, Argello foi transferido, a pedido da Polícia Federal, para o Complexo Médico Penitenciário de Pinhais, onde deve seguir preso.

"Não é aceitável que agentes políticos em relação aos quais existam graves indícios de envolvimento em crimes contra a administração pública e lavagem de dinheiro permaneçam na vida pública sem consequências”

 

Sérgio Moro, juiz federal

Na última legislatura, Argello foi vice-presidente da CPI que investigou a Petrobras no Senado. Gim tinha também relação próxima com a presidente Dilma Rousseff e tentou, sem sucesso, se tornar ministro do Tribunal de Contas da União. Além disso, os dois chegaram a fazer caminhadas juntos.

O ex-senador chegou a pedir um habeas corpus para a justiça antes do seu indiciamento ser concretizado. Na época, o juiz Sérgio Moro, responsável pelas investigações da operação Lava-Jato, disse que não era possível soltá-lo após “graves indícios” de práticas criminosas.

“Não é aceitável que agentes políticos em relação aos quais existam graves indícios de envolvimento em crimes contra a administração pública e lavagem de dinheiro permaneçam na vida pública sem consequências”, afirmou o magistrado, no ofício ao TRF-4.

 

Congresso

A simples menção ao nome de Gim Argello a outros parlamentares que participaram da CPMI da Petrobras gerou apreensão. O deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), por exemplo, se recusou a falar sobre o assunto. “Não tenho nada a ver com essa pessoa”, disse. Outros parlamentares que participaram da CPMI da Petrobras também se recusaram a dar entrevistas falando sobre o ex-senador.

Por outro lado, membros da oposição, que na época da CPMI apresentaram um relatório paralelo ao oficial, avaliaram que o indiciamento do ex-senador pode levar a uma série de denúncias contra outros membros da comissão — que teriam auxiliado Argello no processo.

“Eu mesmo não tenho provas, mas se ele trouxer mais denúncias sobre essa comissão fraudulenta será muito bom para o país”, afirmou o líder do PPS, deputado Rubens Bueno (PPS-PR).

Ao lado do senador, também foi indiciado o empresário Ronan Maria Pinto, estabelecido em Santo André, na Grande São Paulo. A Ronan, a PF atribui crime de lavagem de dinheiro. Uma das hipóteses investigadas pela força-tarefa é de que Ronan teria recebido dinheiro para parar de chantagear o PT com ameaças sobre o caso Celso Daniel, ex-prefeito petista morto em 2002. O empresário também foi preso na Vitória de Pirro.

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