Correio braziliense, n. 19335, 03/05/2016. Política, p. 2

Muito aliado para pouco ministério

Negociações mostram que Michel Temer terá de se desdobrar para saciar partidos na Esplanada, caso assuma a Presidência. PMDB tem disputa interna pelo comando das Olimpíadas do Rio, enquanto outras siglas cortejam principalmente os orçamentos sociais

Por: Paulo de Tarso Lyra

 

O cargo de ministro do Esporte no dia da abertura dos Jogos Olímpicos Rio-2016, em 5 de agosto, no Maracanã, virou uma disputa política entre o PMDB fluminense e o ex-ministro do Turismo Henrique Eduardo Alves. O evento internacional, no entanto, é apenas um exemplo da disputa acirrada pelas cadeiras ainda disponíveis na Esplanada em um eventual governo comandado por Michel Temer. Além das Olimpíadas, as pastas de Transportes, Saúde e Educação fazem parte da lista das mais cobiçadas por aliados do peemedebista.

Embora deva ser indicado para retornar ao Ministério do Turismo, Henrique Alves, um dos nomes fortes de Temer, sempre defendeu a fusão da pasta com o Esporte — de olho no comando das Olimpíadas. Já o prefeito do Rio, Eduardo Paes, e o ex-governador do estado Sérgio Cabral defendem a indicação de Marco Antônio Cabral, secretário Estadual de Esporte, Lazer e Juventude do Rio de Janeiro.

Ainda presidente, Dilma receberá hoje a tocha olímpica, em solenidade no Palácio do Planalto. Mas com a votação da admissibilidade do impeachment em 11 de maio, e o quase certo afastamento a partir disso, a petista provavelmente não estará presente no início dos jogos, em agosto, abrindo espaço para a batalha interna entre os peemedebistas.

Maior diretório do PMDB no país, que comanda a prefeitura da capital, com Paes e o governo estadual, apesar da licença médica de Luiz Fernando Pezão, a ala fluminense peemedebista reclama que está sub-representada no desenho da Esplanada esboçado por Temer. Está praticamente assegurada a permanência de Leonardo Picciani como líder da bancada na Câmara, mas há uma ausência de nomes no Executivo Federal. Moreira Franco é considerado da cota pessoal de Temer, não um nome orgânico da legenda.

O PMDB do Rio também se sente no direito de indicar o ministro pois, é deles o comando da sede dos jogos olímpicos. Desde que a Autoridade Pública Olímpica foi criada, houve embates entre Paes e Cabral — que na época era governador do estado — com o governo federal, por conta de divergências quanto à legislação ou ao protagonismo na organização. Curiosamente, o primeiro presidente da APO indicado por Dilma Rousseff foi Henrique Meirelles, nome encaminhado como ministro da Fazenda de Temer. Desgastado com os eternos embates com Paes e Cabral, Meirelles renunciou à Presidência da Autoridade Olímpica e retomou suas atividades na iniciativa privada.

O problema na disputa travada pelo PMDB fluminense é que Henrique Alves, assim como Moreira, é ligado diretamente ao futuro presidente. Ele foi o primeiro peemedebista a entregar o cargo após a decisão do PMDB de abandonar o governo Dilma Rousseff. Quando ainda era ministro do Turismo, planejou uma série de ações para aproveitar a vinda de estrangeiros para o Brasil no período dos Jogos Olímpicos. Em diversas viagens que fez, tanto no Brasil quanto no exterior, sempre defendeu que as duas pastas são muito próximas em sua linha de atuação, sobretudo neste momento em que o país receberá atletas e turistas do mundo todo.

A crise política que paralisa o país há meses também tem gerado situações inusitadas em relação aos Jogos Olímpicos. Nos diversos eventos-teste realizados como preparação para o evento, foram enviados representantes do cerimonial de Dilma e Temer, já que, em tese, a presidente ainda não foi afastada. A assessoria de Temer diz que a situação é normal, uma vez que o vice-presidente também participaria do evento e a equipe dele necessita saber os procedimentos a serem seguidos. Interlocutores da presidente Dilma desdenham da informação, acrescentando que a equipe do vice-presidente exige os mesmos direitos e os mesmos espaços da petista, como se já estivesse no cargo.

 

Multiplicação de pastas

Temer tem enfrentado dificuldades para atender a todos os interesses envolvidos na composição do futuro governo. Irritado, ele proibiu o vazamento do nome de seus ministros, para evitar especulações e intrigas. “Ele está com medo de que, ao assumir, não tenha mais nenhuma surpresa para anunciar”, ironizou um peemedebista do Senado. Hoje, o vice-presidente se encontra com o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), que levará o conjunto de propostas que a legenda pretende ver atendidas na gestão do peemedebista. Em relação ao tucanos, o equilíbrio também é tênue. Serra pretende ser candidato ao Planalto em 2018 e deve ser confirmado ministro das Relações Exteriores.

Outro presidenciável é Geraldo Alckmin, que, em tese, estaria contemplado com Alexandre de Moraes, secretário de Segurança de São Paulo, na Advocacia-Geral da União (AGU). Restaria atender a um nome indicado por Aécio, que poderia ser o do deputado Bruno Araújo (PSDB-PE) para um Ministério dos Direitos Humanos. Outra cotada, a também deputada Mara Gabrilli (SP), perde espaço por ser de São Paulo, como Serra.

 

A Esplanada sob Temer

Confira os ministérios e os principais cotados para comandá-los, caso o vice passe a comandar o Planalto

 

Agricultura

» O preferido é Roberto Rodrigues. PP ou PRB teria de aceitar a indicação

 

Banco Central

» Ilan Goldfajn

 

Casa Civil

» Eliseu Padilha (PMDB-RS)

 

Cidades

» Deve ficar com o PSD, provavelmente Gilberto Kassab (SP)

 

Ciência e Tecnologia

» Oferecida ao PRB

 

Cultura

» Roberto Freire (PPS-SP)

 

Defesa

» Raul Jungmann (PPS-PE), cotado

 

Desenvolvimento, Indústria e Comércio

» PTB quer manter, mas há chance de fusão com o Planejamento

 

Direitos Humanos

» Mara Gabrilli (PSDB-SP) ou Bruno Araújo (PSDB-PE)

 

Educação

» O mais cotado é Mendonça Filho (DEM-PE)

 

Fazenda

» Henrique Meirelles (PSD-GO)

 

Minas e Energia

» Pode ficar com o PMDB do Senado, para agradar Renan Calheiros (PMDB-AL)

 

Planejamento

» Romero Jucá (PMDB-RR)

 

Relações Exteriores

» José Serra (PSDB-SP)

 

Saúde

» Preferência do PP, mas o DEM está de olho

 

Secretaria de Governo

» Geddel Vieira Lima (PMDB-BA)

 

Secretaria Especial para Investimentos, ligada à Presidência

» Moreira Franco (PMDB-RJ)

 

Trabalho

» Deve ficar com o Solidariedade. Cotados: Augusto Coutinho (PE) e José Silva (MG)

 

Transportes e Portos

» Mauricio Quintella Lessa (PR-AL), mas o DEM também quer

 

Turismo

» Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), com chance de fusão com o Esporte

 

5 DE AGOSTO

Data de início dos Jogos Olímpicos do Rio

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Oferta ao PRB

 

Emissários do vice-presidente Michel Temer ofereceram ontem o comando do Ministério da Ciência e Tecnologia ao PRB, em troca da Agricultura, pasta que o partido cobiçava inicialmente. A oferta teria agradado a cúpula do PRB. A legenda também sinalizou ao vice-presidente que aceitaria o comando do Ministério da Integração Nacional em um eventual governo do peemedebista.

Essa foi a terceira oferta de ministério feita por Temer ao PRB em troca da Agricultura. Na semana passada, emissários do vice haviam oferecido a Previdência Social e a Secretaria de Portos ao partido. A cúpula do PRB, no entanto, descartou de imediato a oferta da Previdência Social. Alegou que a pasta traria desgaste por conta da reforma previdenciária que Michel Temer sinaliza querer fazer.

Já em relação à Secretaria dos Portos, a cúpula da sigla afirmou que só aceitaria se ganhasse outro ministério. Interlocutores de Temer, contudo, disseram não ser possível dar duas pastas ao PRB e ofereceram Ciência e Tecnologia. Após receber sinalização positiva da direção do PRB sobre o ministério, emissários do vice-presidente ficaram de dar uma resposta definitiva ao partido até o fim desta segunda-feira. Já o Ministério da Agricultura deve ficar com o PP. A sigla deverá referendar um nome técnico na Saúde. O médio paulista Raul Cutait é um dos mais cotados.

 

Saída programada

Enquanto Temer segue desenhando a composição de um eventual governo, os atuais titulares da Esplanada com mandato no Senado já programam o retorno para a votação do impeachment. Ontem, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro, disse que ainda tem tarefas para concluir na pasta, mas se colocou à disposição de Dilma Rousseff para voltar ao Senado e participar à favor do governo na votação de admissibilidade do processo de impeachment na Casa.

“Tenho ainda algumas tarefas que devem ser concluídas e medidas a serem lançadas até sexta feira, mas a presidente Dilma que definirá (sobre ida ao Senado). Se ela me liberar, terei disposição para votar no Senado no dia 11. Sinto disposição para afirmar minha posição de solidariedade ao governo de Dilma”, completou.

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